Crítica
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Sinopse
Kelly e Mac novamente dão azar e vão morar ao lado de uma fraternidade...mas, agora apenas de garotas. Comandadas por Shelby, as jovens vão se mostrar um problema tão grande quanto foi Teddy.
Crítica
Seth Rogen se orgulhava de nunca ter participado de uma sequência em sua vida. E isso que ele tem no currículo alguns sucessos que tranquilamente poderiam gerar continuações, como Ligeiramente Grávidos (2007) – mais de US$ 219 milhões nas bilheterias – Segurando as Pontas (2008) – mais de US$ 101 milhões – e O Besouro Verde (2011) – mais de US$ 227 milhões em todo o mundo. O que o teria motivado a retornar em Vizinhos 2, portanto? Tá certo que Vizinhos (2014) é, até hoje, o seu filme de maior bilheteria mundial (US$ 270 milhões), e que ele faz parte de um grupo de atores – entre os quais se incluem James Franco, Will Ferrell, Adam Sandler e Paul Rudd – que muitas vezes privilegiam a experiência entre amigos e o prazer do trabalho em conjunto do que o resultado em si (basta ver títulos como A Entrevista, 2014, e Tá Rindo do Que?, 2009, que deixam claro terem sido mais divertidos para quem fez do que para aqueles que os assistem). Mas independente da desculpa que o tenha feito mudar de ideia, nada perdoa o fato de que poderiam ter se esforçado um pouco mais. Afinal, tudo o que vemos aqui é um repeteco menos inspirado do longa anterior.
Em Vizinhos, Mac (Rogen) e Kelly Radner (Rose Byrne) decidem que estava na hora de serem adultos, se mudarem para o subúrbio e darem o primeiro passo rumo à paternidade. O que não esperavam, no entanto, era encontrar na casa ao lado uma fraternidade de estudantes universitários – que, como manda o clichê, estão mais preocupados com festas, agitos e arruaças do que com os estudos. Ao mesmo tempo em que se ia qualquer oportunidade de descanso e tranquilidade para os protagonistas, eles começavam também uma guerra com a turma ao lado, liderada pelos alucinados Teddy Sanders (Zac Efron) e Pete (Dave Franco). Havia uma leve discussão – interessante sem ser enfadonha – sobre maturidade, encarar desafios e assumir responsabilidades, e a boa química entre os atores completava o pacote. Em Vizinhos 2, no entanto, ao invés de propor uma nova trama que colocasse os elementos conhecidos diante de uma situação inédita, tudo que se tem é o que já foi visto, apenas mudando o discurso: se antes os arruaceiros eram garotos, agora são meninas que estão dispostas a tudo em nome de uma suposta “igualdade de direitos”.
Quando um filme parte de um pressuposto como esse – se é válido para eles, por que para elas não pode ser o mesmo? – é difícil encontrar um meio termo. Só que o diretor Nicholas Stoller e os roteiristas Andrew J. Cohen, Brendan O’Brien e Evan Goldberg (além do próprio Rogen) – todos já presentes no primeiro filme – parecem estar eles próprios indecisos se essas jovens mulheres devem se limitar a repetir os mesmos atos tresloucados de seus colegas masculinos ou, indo por uma via alternativa, encontrarem seu próprio caminho de diversão. Mas há algo mais urgente em discussão: ao invés dos dois pontos de vista – dos adultos e dos adolescentes – desta vez o foco está quase que por inteiro centrado nos primeiros. O ingresso de Chloë Grace Moretz no elenco oferece um peso a estas meninas, mas não suficiente a ponto de distrair a atenção do público. A narrativa segue mais interessada no que Rogen e Byrne irão fazer para se livrar dos novos vizinhos, ainda mais porque dessa vez terão a ajuda do antigo nêmesis: Sanders (Efron), que uma vez que segue sem rumo na vida, termina por considerar uma boa voltar ao universo colegial – mesmo sem saber ao certo em qual lado da disputa ele se encaixa melhor.
Vizinhos 2 é um filme que, se tem algum valor, é mais por alguns elementos em separado do que pelo todo. Rogen e Efron continuam com uma boa sinergia em cena – o diálogo dos dois sobre cozinhar ovos é hilário – e coadjuvantes como Byrne (cada vez mais à vontade neste tipo de comédia escrachada) e Franco (não confundir com o irmão, James), que assume sem ressalvas a postura gay da qual apenas se suspeitava, em uma participação discreta, porém fundamental, terminam por elevar os ânimos. Por outro lado, é triste ver talentos como Lisa Kudrow, Kelsey Grammer, Christopher Mintz-Plasse e Kiersey Clemons (ótima em Dope, 2015) serem completamente desperdiçados, sem esquecer de Selena Gomez (não mais do que uma participação especial para atrair os fãs da cantora). Nada, no entanto, é mais infeliz com as intromissões de Beanie Feldstein, que tenta ser um alívio cômico como a gordinha Nora, mas tudo que consegue é um arremedo do que Rebel Wilson faz com tanta naturalidade como a Fat Amy de A Escolha Perfeita (2012).
Apelativo, exagerado, inconsequente, misógino, sexista. É engraçado como alguns dos rótulos mais atacados pelos personagens de Vizinhos 2 se encaixam perfeitamente no resultado visto em cena. Zac Efron já aprendeu que o melhor caminho é rir de si mesmo – de preferência, sem camisa – e Seth Rogen é o tipo bonachão e desbocado de sempre. A dupla funciona, mas não são os dotes interpretativos de ambos que despertam interesse, e, sim, o texto que defendem. O problema é que dessa vez é justamente neste ponto em que está o problema. Sem uma história minimamente original e contentando-se em apenas reciclar antigas fórmulas já gastas, esse segundo capítulo traz apenas mais do mesmo, sem inspiração e nem muita graça. Descartável, portanto, é o mínimo a ser dito a respeito.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Ailton Monteiro | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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