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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Para manter a vizinhança segura, quarto amigos formam uma espécie de brigada informal de vigilância. Mas, eles sequer imaginavam que entre as ameaças que precisariam enfrentar estaria uma invasão alienígena.

Crítica

Um segurança noturno, de origem latina e acima do peso, sendo estripado por um assassino contra o vidro da porta dos fundos de uma loja de departamentos. A explosão de uma vaca no meio de um campo após ser atingida por um raio laser. Quatro marmanjos bolinando o corpo de um alienígena morto. O homem que arranca, com uma única mão, o pênis do suposto namorado da filha quando descobre que este é um extraterrestre? Um policial tentando reanimar o seu parceiro morto enfiando o coração deste, há pouco arrancado, pelo mesmo buraco aberto no peito do falecido. Se o espectador considerar qualquer uma destas cenas digna de gargalhadas, então Vizinhos Imediatos de 3° Grau talvez seja o filme indicado para um momento de lazer e descontração. Agora, qualquer pessoa que julgar situações como as descritas acima vergonhosas, constrangedoras e revoltantes, o melhor é ficar bem longe.

Esse filme começou a dar errado desde o início, quando ainda era um projeto. David Dobkin (Eu queria ter a sua vida, 2011) e Will Ferrell foram os nomes inicialmente associados, o primeiro como diretor e o segundo como protagonista. Isso ainda em 2009. Mas problemas no roteiro – que, pelo visto, não chegaram a ser resolvidos– atrasaram o início das filmagens, obrigando uma mudança de equipe. Entraram nestes lugares o desconhecido Akiva Schaffer e o astro Ben Stiller. Schaffer há anos trabalha no humorístico Saturday Night Live, e é bem esse o tipo de humor dessa comédia que não consegue se definir: um momento é um conto de bromance – amizade entre homens – noutro o humor é mais escrachado e adolescente, mas há elementos de ficção científica e também de suspense policial. Qualquer tentativa de produzir algo mais relevante se esvai nos esforços de Stiller de deixar tudo o mais raso possível. Ao seu lado estão os careteiros Vince Vaughn (que há anos desistiu de atuar e vem apenas se repetindo) e Jonah Hill (como esse cara conseguiu ser indicado ao Oscar?), além do único que é genuinamente engraçado: Richard Ayoade (pena que seu espaço em cena seja o menor dos quatro!). Ben Stiller produziu o primeiro longa de Ayoade como diretor, Submarine (2010), e agora ele retorna o favor marcando presença nessa bobagem descartável.

Outro problema que Vizinhos Imediatos de 3° Grau enfrentou, pouco antes de sua estreia nos Estados Unidos, foi o assassinato do rapaz negro Trayvon Martin, de 17 anos, em Sanford, Estados Unidos. Ele foi morto por George Zimmerman, um vigilante particular, e até hoje permanece a dúvida se o crime foi motivado por racismo ou por legítima defesa. Tal fato provocou uma mudança imediata no título – que de Neighborhood Watch (Vigilantes do Bairro) passou a ser chamado The Watch (Os Vigilantes) – algo que acabou não fazendo muita diferença. Com um custo de US$ 70 milhões, arrecadou nas bilheterias norte-americanas pouco mais do que a metade deste valor. Péssimo timing ou apenas filme ruim? Um pouco de cada, com a balança pendendo um pouco mais para o lado de cá.

Pois, afinal, é exatamente sobre isso que trata Vizinhos Imediatos de 3° Grau: um grupo de vigilantes voluntários que se forma, após um misterioso assassinato, para defender o bairro onde moram. Logo descobrem que, na verdade, trata-se de uma invasão alienígena, e com os poucos recursos que possuem tentam arrumar um jeito de impedi-la, mesmo com a descrença geral da polícia. Há bons efeitos (e qual produção do gênero hoje em dia não os possui? Ok, talvez Projeto Dinossauro...), e a química entre os atores até funciona (afinal, já fizeram trocentos filmes juntos), mas no geral o que vemos é algo forçado e sem a menor graça. Nem o roteiro, co-escrito por Seth Rogen e Evan Goldberg (a mesma dupla do ótimo Segurando as Pontas, 2008) consegue apresentar diálogos minimante interessantes. Por fim temos uma mistura que não dá liga, num desperdício com início, meio e fim. Sem falar na quantidade enorme de merchandising, que nos passa a sensação de que pagamos ingresso para assistir a um grande comercial publicitário. E após uma sessão como essa, a única pergunta que resta é: de qual lado da tela estão os mais tolos?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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