Crítica


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Sinopse

Uma dúzia de pessoas, seguindo caminhos diferentes, redescobrem o poder da fé quando um médico toma a iniciativa de tocar as suas vidas. Focado na ideia de que apenas a ação justifica a crença, ele vai tentar impactar essas pessoas de um jeito que apenas Deus poderia orquestrar.

Crítica

Um homem espalha a palavra de Deus pelas ruas, inspirando, inclusive, o sermão repleto de simbologias do pastor local. Ele representa os que verdadeiramente creem e por isso estaria preparado até mesmo para a morte, pois em sintonia com o criador. Você Acredita? se apoia totalmente na fé, neste conceito do qual as religiões se apropriam para, entre outras coisas, refutar a necessidade de provas que elucidem pragmaticamente determinados fenômenos e ocorrências. Ao todo, doze personagens enfrentam provações e privações antes de encontrar paz na presença redentora de um ser supremo que escreveria certo por linhas tortas. Não faltam lugares-comuns e reducionismos nessa trama feita de encontros que pretendem ilustrar o intrincado plano de Deus. Não espere razões, mas, sim, coincidências e mistérios.

A cruz que o pastor Matthew (Ted McGinley) distribui aos fieis em sua pregação serve de amuleto aos sofredores, de lembrete tangível de um sacrifício que teria purificado os pecados da humanidade. Você Acredita? é um filme-catequese. O comportamento das pessoas e os desdobramentos de suas decisões são mediados pela crença nos desígnios de um Deus que, mais cedo ou mais tarde, se compadeceria dos arrependidos e mostraria aos incrédulos não haver outro caminho, senão o dele. Sobram exemplos de bondade inseridos forçosamente na narrativa para fundamentar essa teoria. O ex-presidiário à beira da morte abriga mãe e filha porque foi salvo anteriormente das trevas. Como ele, o ladrão arrependido doa o dinheiro do roubo à caridade. Temas considerados tabus entre os cristãos, como aborto e suicídio, são condenados nas entrelinhas, mas nunca encarados. Seria pedir muito de uma realização fortemente comprometida com dogmas, pouco afeita às complexidades do humano.

O médico cético interpretado por Sean Astin e sua namorada advogada são vistos como figuras execráveis por negar veementemente o caminho da fé. Claro, a eles estão destinados acontecimentos que deflagram essa “ignorância” responsável por cegá-los. A verdade em Você Acredita? é unicamente Deus e a doutrina criada pelos homens pretensamente inspirados por Ele. Os idosos enlutados pela perda da filha encontram na convivência com uma dupla de desamparadas a possibilidade de seguir adiante. As implicações de tal ato, assim como as da aproximação da esposa do pastor com a jovem grávida que não tem para onde ir, são simplificadas ao máximo em prol da visão cristã. Ao passo que aceitam Deus e suas regras, os personagens começam a mudar de vida, tornando-se felizes. O destino do paramédico que se recusa a prestar falso testemunho (olha os mandamentos aí), mesmo que isso possa significar a ruína de sua família, exemplifica a tendência mal disfarçada à propaganda.

Em Você Acredita? apenas os puros de coração ou os que demonstram genuíno arrependimento encontram a salvação. Em meio às “comprovações” de que a fé move montanhas e muda destinos, temos espaço até mesmo para o literal milagre da ressureição. Como num passe de mágica, as peças se encaixam, os problemas se resolvem e os sorrisos voltam aos semblantes antes cansados de existir. Acreditar é o primeiro e seguro passo para ser feliz, segundo esse filme que não consegue – talvez porque nem se esforce muito para isto – esconder a vocação ao panfleto. Suas muitas falhas não dizem respeito àquilo que defende, mas à inabilidade do diretor Jonathan M. Gunn e de sua equipe, eles que trocam os diversos prismas pelos quais se pode observar o humano por generalizações que alimentam arquétipos e estereótipos convenientemente servidores da ideologia que ele pretende reforçar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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