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Crítica


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Sinopse

Ao saberem da morte de um ente querido, três mulheres retornam ao povoado de onde saíram. No entanto, elas não imaginavam que o fantasma de alguém, mãe de duas e avó de uma delas, também aparecesse para ajustar contas.

Crítica

Volver tem diversos significados nesta obra ímpar de Pedro Almodóvar. Palavra espanhola para “retorno”, pode designar a volta de um ente querido – neste caso, uma falecida mãe que reaparece em tons sobrenaturais; pode ser a jornada pessoal do cineasta, que regressou à sua terra de origem para filmar o longa; ou o reencontro de dois amigos de longa data que há muito não trabalhavam juntos e encontraram uma trégua em uma briga de anos para reatar (ao menos profissionalmente) sua relação – leiam-se, Carmen Maura e Almodóvar. Por esses e outros motivos, Volver acaba sendo um filme tão (ou mais) pessoal na carreira do diretor espanhol. E um dos mais saborosos.

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Buscando referências claras no cinema italiano, com Penélope Cruz sendo uma visão tão ou mais voluptuosa do que Sophia Loren, Almodóvar constrói um melodrama com sua já clássica verve cômica, colocando em ação uma história de amor, ressentimentos e perdão. Na trama, encontramos as duas irmãs, Raimunda (Cruz) e Sole (Lola Dueñas), fazendo a limpeza do túmulo dos pais, mortos em um incêndio há quatro anos. Quem as ajuda é a filha da primeira, Paula (Yohana Cobo), que recebeu o nome em homenagem à querida tia daquelas mulheres. Tia Paula (Chus Lampreave), inclusive, tem vivido sozinha desde a morte da irmã, Irene (Maura) e, inexplicavelmente, tem conseguido se manter bem, ainda que esteja quase cega e tenha memória muito fraca. Os moradores da região juram que o espírito de Irene retornou para ajudá-la, pensamento que a vizinha e amiga da família, Agustina (Blanca Portillo), compartilha. Quando aquela velha senhora morre, Sole vai ao enterro e, surpresa, reencontra sua mãe Irene. Ela certamente tem assuntos inacabados e pretende resolvê-los. Raimunda não pode ir ao funeral por que teve outros problemas para atender. Seu marido Paco (Antonio de La Torre) tentou violentar Paula, sua filha. Na tentativa de se defender, a menina acaba matando aquele homem e Raimunda, sem pensar, resolve esconder o corpo do falecido, resguardando desta forma a menina. Por mais curioso que possa parecer, o cadáver de Paco vai parar em um freezer de um restaurante vizinho, local onde Raimunda tenta resolver sua vida. Isso tudo sem nem desconfiar da visita sobrenatural que se aproxima.

Apesar de extensa, essa sinopse dá apenas um pequeno vislumbre do que Pedro Almodóvar planeja em seu trabalho. Algumas surpresas são bem escondidas pelo interessante roteiro do espanhol, que não se apressa em momento algum no desenrolar de sua trama. Em dados momentos, inclusive, o diretor parece mais prolixo do que o usual, estendendo algumas passagens desnecessárias. Embora Agustina seja uma personagem rica, uma mulher almodovariana por excelência, o tempo gasto em sua subtrama poderia ser diminuído, na tentativa de deixar a narrativa mais ágil. Essa, no entanto, não parece ser a vontade do cineasta, que se debruça em cada minúcia de suas mulheres. Raimunda é, logicamente, seu amor mais precioso. Almodóvar dá a Penélope Cruz uma personagem que, como dito anteriormente, parece ter saído de um filme italiano. Sempre muito produzida, dona de força de vontade e coragem ímpares, aquela mulher não mede esforços para proteger os seus. Suas atitudes no decorrer da trama podem ser questionáveis, mas nada que ela possa fazer nos removerá do seu lado. Ela guarda esqueletos no armário, algo que será revelado com o estranho retorno de sua mãe, personagem defendida com extrema graça e facilidade por Carmen Maura. A atriz, que passou 18 anos sem trabalhar com Almodóvar, ganha um papel delicioso. Quando Irene aparece, Volver ganha ares surreais e o diretor parece se divertir muito com a construção desta aura fora do comum. Para tanto, Maura vive aquela mãe com leveza. A sua morte lhe tirou alguns pesos, embora outros precisem ainda serem expurgados. É por isso que ela está ainda no nosso plano. Ou, ao menos, é o que ela deseja que todas as pessoas acreditem. A dobradinha entre Maura e Cruz é fantástica, mas Lola Dueñas também não fica atrás, construindo uma interessante antítese da sua irmã.

A

lgumas cenas são de beleza cativante, como a emocionante interpretação da música “Volver” por Penélope Cruz – que mesmo não a cantando, nos deixa boquiabertos com sua dublagem arrebatadora. A sequência de abertura, passada em um cemitério, também é muito bem executada – técnica e tematicamente falando. A câmera passeia pelos túmulos, todos sendo cuidados por familiares dos defuntos, enquanto os créditos se dão na tela. Almodóvar é hábil em revelar muito do filme e dos próprios personagens nessa pequena cena. Basta reparar na atitude do trio protagonista e já temos algumas informações valiosas sobre ele. Fora o fato de que teremos uma história na qual a morte sempre acompanha. Mas não da forma como poderíamos imaginar. Por conseguir surpreender com o desenrolar de sua trama e conduzir uma merecida atuação indicada ao Oscar por Penélope Cruz, Pedro Almodóvar merece elogios. Poderia ter economizado e entregado um filme um pouco mais curto do que os 121 minutos que nos foram apresentados, mas é um pequeno porém em uma história com personagens bastante humanos e que buscam desesperadamente uma segunda chance, um perdão. Volver é mais uma obra madura de um cineasta com muito o que dizer.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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