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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Ophelia, aos 20 anos, acredita ter finalmente descoberto quem é seu pai. Decidida a encontrá-lo, não hesita em ir nadando até Ubatuba.

Crítica

Batizado inicialmente como Rio – Santos e internacionalmente como Ophelia’s Death (A Morte de Ofélia, em tradução direta), Vou Nadar Até Você é um filme indiscutivelmente belo. Dirigido pelo fotógrafo Klaus Mittledorf, essa procura ininterrupta pelas imagens mais inebriantes possíveis acaba, no entanto, agindo contra o fiapo de trama que tenta desenrolar nesse seu primeiro longa de ficção. Aquilo que é bonito e singelo, porém desprovido de significado, termina por se mostrar irrelevante. É mais ou menos essa a sensação perseguida durante as quase duas horas nas quais esse enredo tenta se apoiar, sem nunca se manter em pé pelas próprias pernas. Isoladamente, cada uma destas sequências, demasiadamente extensas e detalhadas, se revelam clipes plasticamente arrebatadores, que permitem uma navegação além do concreto, aventurando-se por terrenos do ilusório ao meramente imaginado. Porém, uma vez postos em continuidade, a força que continham é insuficiente para ir além da mera ameaça. Chega quase lá, sem nunca se provar, de fato, digno da atenção e dos esforços exigidos até sua conclusão.

Ofélia (Bruna Marquezine, em seu primeiro papel de destaque no cinema, fazendo jus à persona midiática que criou para si mesma, com uma personagem que se baseia quase que exclusivamente no poder imagético que é capaz de emanar) está determinada a conhecer o pai, e quando lê no jornal a notícia de que o alemão Tedesco (Peter Ketnath) está no Brasil, parte ao seu encontro. Porém, como ela mesmo afirma, “sou água”, e por isso decide empreender o caminho que a separa de Santos, onde mora, até Ubatuba, lugar que ele escolheu como base, pelo ambiente no qual se sente mais confortável. “Vou nadar até você”, afirma em uma correspondência que anuncia sua eminente chegada. A postura é lírica, entre o cafona e o fantasioso. No entanto, ela o propõe de modo literal. E será com um mergulho que dará início a essa procura por suas raízes.

Ela não pretende, no entanto, quebrar qualquer recorde ou se preparar para uma maratona aquática. O começo é impressionante – do alto da ponte, se joga em um salto de pura precisão – mas serve apenas para colocar em evidência o vazio da proposta perseguida por toda a narrativa: causa impacto, mas não é capaz de se sustentar. Pois logo em seguida alcançará uma balsa, pegará carona com uma motoqueira, subirá na caçamba de um caminhão, e sempre que contar apenas com a areia da praia, será pelo mar – ou rio – que seguirá sua trajetória. Mas também não é uma questão financeira – dinheiro para a tal viagem, evidentemente, possui, basta perceber a boa câmera fotográfica que carrega consigo, ou a ampla casa onde mora com a mãe. A opção pelo trajeto alternativo está, justamente, nas suas origens. Filha de hippies dos anos 1970 (apesar na cronologia ser um pouco confusa – uns 20 anos atrasada, mais ou menos), parte atrás de uma base que nem mesmo sabe ao certo (“ele é o meu pai, ou ao menos acho que sim”, diz a certo momento).

E se Marquezine passa a maior parte do tempo com sua mochila-mágica (de onde tira botinas, roupas e equipamento, mesmo que seu tamanho diminuto obviamente não consiga comportar tudo isso) a tiracolo, os demais tipos que circulam pela tela são ainda mais problemáticos. Ketnath, que se sai razoavelmente bem como galã de outrora, mas denota uma gritante fragilidade técnica nos momentos mais dramáticos, gravou quase todas as suas cenas (com exceção dos flashbacks na Alemanha) em um mesmo ambiente – ele é o mítico ser inalcançável – enquanto que Fernando Alves Pinto, o espião que vive nas sombras que recebe como missão seguir os passos da garota, surge mais como um mestre dos disfarces digno de uma comédia de algumas décadas atrás e menos como a figura misteriosa que o roteiro se esforça em configurá-lo cada vez que o mesmo é citado, verbal ou fisicamente. Sua presença, que vai da ilusão ao real, não consegue envolver e nem ao menos despertar curiosidade, tão fracos são os elementos que lhe são oferecidos. Um bom ator, porém sem material com o qual lidar, se vê incapaz de qualquer milagre.

Dotado de uma estrutura esquizofrênica, que vai de reviravoltas detetivescas à devaneios de impacto relativo, Vou Nadar Até Vocêse perde também ao explorar a nudez gratuita da sua protagonista em detrimento de uma estrutura narrativa que conseguisse justificar tamanha exposição. As muitas questões soltas no decorrer da trama – aquele que foi traído é digno de confiança?, a figura paterna possui algum valor?, o passado existiu ou foi mera impressão? – não encontram resposta em seu desfecho. Dispersos, podem revelar ambições maiores – como a citação da Ophelia de Millais, desfalecida na água com flores no colo – mas conquistam seus espaços de forma tão óbvia e escancarada, que nem mesmo o superlativo consegue se mostrar válido de maiores investigações. Sem atender nem ao instinto mais básico, naufraga também diante de possíveis reflexões que, ao partirem em busca de qualquer tipo de profundidade, logo se deparam com um fundo raso e lamacento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
3
Adriana Androvandi
2
MÉDIA
2.5

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