Wallace & Gromit: Avengança
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Merlin Crossingham, Nick Park
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Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl
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2024
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Reino Unido / França
Crítica
Leitores
Sinopse
Wallace & Gromit: Avengança mostra uma invenção tecnológica de Wallace saindo do controle. Ele é acusado de uma série de estranhos crimes que assolam a região. Então, o cachorro Gromit entra em ação para descobrir a verdade e salvar seu tutor de um destino ruim. Indicado ao Globo de Ouro 2025.
Crítica
O britânico de meia-idade Wallace vive uma rotina tranquila ao lado de seu cão (e melhor amigo) Gromit. Ainda mais sabendo que o pinguim vilão Feathers McGraw foi sentenciado à prisão perpétua num zoológico. Os diretores Merlin Crossingham e Nick Park apresentam esse dia a dia sossegado demarcando a importância da tecnologia nele. Wallace inventa traquitanas que facilitam o cotidiano, desde o instrumento que o arremessa da cama diretamente à cozinha até o gnomo projetado para ajudar Gromit com os serviços de jardinagem. No entanto, logo há uma pequena crise de expectativas entre o humano e o escudeiro canino, pois quem disse que Gromit queria automatizar mais um aspecto de sua vida? Quando o gnomo robótico Norbot transforma o quintal num ambiente simétrico à lá Edward Mãos de Tesoura, sem a personalidade impressa por Gromit, Wallace & Gromit: Avengança ganha uma ótima oportunidade para discutir o protagonismo excessivo da tecnologia. Produzido pela Aardman, um dos estúdios de animação mais competentes do mundo, o longa-metragem aproveita em parte a observação desse exagero da automação, da constante delegação de responsabilidade de tarefas simples a máquinas que vão nos padronizando e tirando um pouco o brilho individual. Até porque os criadores optam por diluir isso numa aventura típica dos protagonistas, cheia de gags inteligentes e referências.
Gromit se sente cada vez mais preterido pela nova invenção do amigo Wallace, mas os realizadores Merlin Crossingham e Nick Park não investem como poderiam nesse arco dramático que, de acordo com os clichês, vai ter ainda a reconexão pós-aventura para derrotar o vilão. É como a observação a respeito do exagero do protagonismo da tecnologia: está ali, poderia ser melhor desenvolvida, mas ainda possui funcionalidade na trama. De toda forma, o maquiavélico Feathers McGraw dá um jeito de usurpar o invento pensado para fazer o bem e ajudar o próximo, tratando de o transformar numa arma para colocar em prática a sua vingança e ainda tentar roubar o tão desejado diamante azul. Aliás, o pinguim é o personagem mais sabiamente utilizado em Wallace & Gromit: Avengança. Partindo das bases de um humor tipicamente britânico, ele sempre rouba a cena com a sua atitude clássica de vilão, mas sem emitir uma palavra (quando muito sons guturais), encarnando a tradição da pantomima aplicada aos tipos maldosos capazes de representar perigo apenas com um olhar. E o genial em relação ao pinguim é o fato de ele ser um ser inexpressivo com expressividade abundante, vide os olhos pequenos e quase sem movimentos e as feições também neutras. A graça e o perigo estão no procedimento corporal, na maneira como animadores aproveitam a artesanalidade do stopmotion para imprimir o tom.
Wallace & Gromit: Avengança também tem diversos momentos de deleite aos fãs da Aardman, principalmente nas pequenas menções a outros universos do estúdio, tais como A Fuga das Galinhas (2000) e Shaun: O Carneiro (2015). Nada muito ostensivo, é bom dizer, apenas sutis pegadas deixadas pelo caminho para o prazer dos mais antenados. Ainda no campo das citações, há o momento em que Norbot corta a juba de um leão em formato quadrado, situação que remete diretamente a um dos momentos mais icônicos do desenho animado Pica-Pau (1957-1972). Já a atrapalhada dupla de policiais interioranos é uma brincadeira divertida com a sisudez e a competência britânica nesse campo. Portanto, além da qualidade da aventura, o filme também deixa uma trilha de migalhas de pão para chegarmos às fontes de inspiração dos criadores. Já o desenvolvimento não tem grandes surpresas. É possível antecipar tudo o que vai acontecer, da reconciliação de Gromit com o amigo enfeitiçado por uma tecnologia dominante ao castigo que espera Feathers McGraw mesmo quando aparentemente ele vai triunfar. Porém, a grande questão aqui não ser surpreendente, até porque Merlin Crossingham e Nick Park criam tudo claramente a partir de modelos, lugares-comuns e tradições consolidadas. A questão do filme é: como contornar uma crise pessoal com o empurrão da aventura que coloca os amigos em risco?
A lamentar apenas o fato de que Merlin Crossingham e Nick Park não invistam mais no conflito que, uma vez resolvido, escancara a moral da história. Será que Gromit ficaria mais feliz ao ter o seu tempo de conexão com o jardim abreviado pela “ajuda” de uma máquina incapaz de ser criativa para além das programações de seu pai limitado? O que realmente Wallace ganha ao ter automatizadas tarefas diárias simples? Em tempos como os nossos, nos quais somos convidados a acelerar áudios, podcasts e consumir as coisas de modo cada vez mais acelerado, seria lindo se o filme mergulhasse com um pouco mais de interesse nesse subtexto. Como o roteirista Mark Burton apenas pincela esse tema, fazendo dele um elemento deflagrador, é preciso se agarrar à qualidade das gags, à inteligência das referências e à excelência característica da Aardman. Nesses quesitos, Wallace & Gromit: Avengança é muito bem-sucedido. São particularmente divertidas as cenas envolvendo Feathers McGraw e a sua malevolência recreativa – como quando ele elabora um plano complicadíssimo para conseguir escapar do zoológico de segurança máxima. Nessa correria toda, Wallace acaba ficando um pouco para trás, perdendo alguns metros de protagonismo para Gromit e até aos policiais que roubam a cena. Seu aprendizado é simples e conveniente. Mas, nada que comprometa a diversão que essa animação proporciona.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
Lucas Salgado | 7 |
MÉDIA | 7.3 |
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