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Sinopse
O general Glen McMahon é um militar punho de ferro que comanda os norte-americanos na Guerra do Afeganistão. Em uma estratégia radical, ele junta sua equipe de subordinados e assessores de imprensa em uma investida para fazer aliados em todo o mundo, pedindo reforços, negociando no campo de batalha e driblando a imprensa durante a guerra. Ao mesmo tempo, um repórter da revista Rolling Stone acompanha de perto os seus passos, preparando uma matéria que irá mudar a vida de todos os envolvidos.
Crítica
Guerras são tão importantes para o cinema que praticamente já se firmaram como um subgênero à parte – o “filme de guerra”. Muitos dão certo, como os potentes Apocalypse Now (1979), vencedor da Palma de Ouro em Cannes, ou Platoon (1986), premiado com o Oscar de Melhor Filme. No entanto, o que poucos se arriscam é fazer graça a partir de conflitos bélicos. As exceções que funcionaram são raras – M.A.S.H (1970) ainda é o melhor exemplo, enquanto que de 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979) todos querem esquecer. Infelizmente, War Machine está mais para o segundo caso do que para o primeiro. O terceiro longa do diretor australiano David Michôd investe num filão que, desde o princípio, não é muito simpático – o ocaso destes episódios, concentrando-se mais na política que corre por trás do que na ação enfrentada à vista de todos. Porém, lhe falta jogo de cintura para combinar estes dois lados, resultando em um trabalho monótono e, na maior parte do tempo, absurdo.
Brad Pitt não é nenhum novato neste tema – War Machine é o seu quinto longa sobre o assunto, após Bastardos Inglórios (2009), Guerra Mundial Z (2013), Corações de Ferro (2014) e Aliados (2016). Ele, no entanto, foi buscar no mais bem-sucedido destes – sua parceria com Quentin Tarantino – os elementos para uma caracterização que, ao contrário da anterior, age em reverso: tudo que antes parecia servir ao personagem, agora joga contra, revelando-se anacrônica e dissonante. O seu General Glen McMahon é um tipo bufônico, um prognata que corre de pernas abertas, quase como um palhaço inconsciente do quão ridículo é. Envelhecido – nunca antes vimos o ator tão abatido – e desajeitado, ele oferece aqui um tipo que destoa do discurso defendido. McMahon deveria salvar o exército norte-americano em suas ações no Afeganistão, mas tudo o que consegue é deixar estampado desde o princípio a inadequação de sua presença. É de se perguntar quem apostaria nele para tal missão? Talvez fosse seu objetivo emular algum tipo de humor nessa composição, porém tudo o que consegue é aumentar a antipatia em relação a uma figura que nada faz para angariar a atenção do espectador.
Chamado para controlar e dar ordem a uma situação em que todos parecem perdidos após a desastrosa atuação do comandante anterior, McMahon termina por fazer praticamente o oposto do que lhe é solicitado. “Faça o mínimo, arrume a casa e encontre uma saída honrosa para nós”, lhe é dito. No entanto, este é um daqueles homens que só parece visualizar algum sentido na vida quando em combate. Em um encontro com a esposa (uma ainda mais envelhecida Meg Tilly), ele próprio comenta: “se não fosse o 11 de setembro, talvez eu estivesse em casa agora, preparando um churrasco”. Tal declaração é feita sem muita convicção, e nenhum dos dois parece acreditar nessa versão dos fatos. A realidade dele está em “vencer”, seja lá o que isso significa. É por isso, também, que sua trupe de nada lhe adianta – um bando de oficiais cuja maior missão é se curvar a ele e aos seus ideiais. Porém, a situação promete oferecer uma guinada drástica a partir do momento em que um repórter (Scoot McNairy) da Rolling Stone se junta a eles, com o objetivo de fazer um perfil do militar.
Tal mudança, no entanto, não passa da promessa. Ainda que o jornalista esteja narrando em off os acontecimentos desde o início da trama, sua participação é quase irrelevante – quem ainda duvidava do conteúdo de seu artigo e no que ele resultaria? Assim como McNairy, outros nomes de destaque, como Ben Kingsley (tentando um viés cômico inesperado como em Homem de Ferro 3, 2013, porém sem encontrar paralelo em Pitt) e Tilda Swinton (desperdiçada em uma única cena da qual se salva apenas um forçado sotaque alemão) também acabam sendo subaproveitados, a ponto de se questionar o que, de fato, teria lhes atraído ao projeto. Mas nada supera a inadequação de Pitt, incapaz de criar um personagem minimamente verossímil, e a mão pesada de Michôd na direção, que após os tensos dramas Reino Animal (2010) e The Rover: A Caçada (2014), parece estranhar o tom leve almejado – porém nunca atingido – por War Machine.
O próprio Michôd, aliás, chegou a afirmar em entrevistas que um filme como esse nunca poderia ter sido feito no esquema tradicional dos grandes estúdios, e que a única exigência da Netflix – que liberou um orçamento de US$ 60 milhões para a sua realização – é que fosse filmado em alta definição, visando sua exibição contínua na televisão e demais aplicativos. Se rédeas para guiá-lo, com um astro de peso à frente do elenco e uma verba muito acima daquela que estava habituado, o resultado é um longa irregular, que combina boas intenções com um conjunto que, na prática, simplesmente não funciona, seja pela narrativa sem liga, por atuações desencontradas ou por um assunto que até poderia agradar, mas nunca sob um viés tão cínico e que joga contra os seus personagens. War Machine dá a impressão, desde o título – que, em tradução direta, seria ‘Máquina de Guerra’ – de abusar da ferocidade e dos dilemas destes tipos explorados, porém tudo o que consegue são bocejos e uma incrível previsibilidade. Talvez, se sujeito às pressões normais a algo dessa magnitude, tanto McMahon quanto Michôd tivessem alcançado seus intentos. Liberdade, afinal, tem seu preço, e ela merece não apenas ser vivida, mas, antes de tudo, conquistada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Thomas Boeira | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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