Crítica
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Sinopse
Um olhar sobre o concerto do cantor e compositor americano Bruce Springsteen, na turnê do disco Western Stars.
Crítica
Western Stars nada mais é do que um show filmado. Não fosse o talento maiúsculo do cantor e compositor norte-americano Bruce Springsteen – que assina a direção do documentário ao lado de Thom Zimny –, seria complicado aguentar os cerca de oitenta minutos sem bocejos constantes. Isso, pois a linguagem utilizada é pobre, similar em quase tudo aos registros de grandes espetáculos gravados em DVD e Blu-ray (antes em VHS e outros formatos), com várias câmeras possibilitando uma alternância de perspectivas, algo que diz respeito à valorização, principalmente, da música. Portanto, é um filme cinematograficamente escravo da lógica do espetáculo, ainda que este seja desenhado na telona como uma ocasião intimista, transcorrida no celeiro do astro, no coração de uma de suas fazendas. Bruce, como diretor, faz um autorretrato completamente romantizado, alimentando a imagem de cowboy melancólico que utiliza belas canções para se expressar.
O esqueleto de Western Stars é bastante esquemático. Há diversas reflexões apresentadas burocraticamente pela voz melodiosa de Springsteen, às vezes incomodamente próximas das famigeradas “pílulas de sabedoria”, de pretensos ensinamentos de quem viveu de tudo. Ele fala da dificuldade de encontrar e manter amores, acerca de traços paradoxais da natureza estadunidense, reflete superficialmente a respeito de sua paixão por carros, e assim por diante. Tal itinerário, somado à predileção por imagens estilizadas, não raro em câmera lenta ou aéreas (quando não ambas), tenta situar o protagonista como um personagem tipicamente ianque, sujeito simbólico que alude à América do Norte profunda, a suas idiossincrasias e particularidades. Porém, excetuando instantes em que o protagonista adota o tom confessional, as fabulações aparecem basicamente como interlúdios banais. Explicações quanto às circunstâncias das composições fazem parte desse cardápio.
As treze faixas integrantes do disco que dá nome ao filme, executadas com uma maestria técnica impressionante, garantem a adesão parcial do espectador. Ainda que a narrativa seja repetitiva e cansativa, mesmo com essa autoimagem construída ocasionalmente triscando no piegas e/ou na autoindulgência, as canções entoadas com o brilhantismo que é peculiar a Springsteen, à sua capacidade de dotar os termos de um peso dramático expressivo e tocante, se tornam pilares imprescindíveis, os únicos sólidos. Por isso, há de se lamentar a decisão da distribuidora brasileira de não legendar as canções, assim prestando um desserviço. Afora os fluentes na língua inglesa, os demais ficarão a ver navios, privados, ainda que parcialmente, da confluência de fatores que faz desse artista excepcional. Sim, pois não é apenas a interpretação o diferencia, mas, em semelhante medida, o peso dado ao verbo, o encadeamento das palavras valorizadas tonalmente.
O único instante em que Western Stars ensaia desvencilhar-se da sua camisa de força é ao permitir contato direto com a intimidade de Springsteen, não privilegiando a faceta “guru do oeste” que ele faz questão de sustentar. O relacionamento de mais de 30 anos com a esposa, Patti Scialfa, cantora da banda com quem divide o palco e encena momentos de cumplicidade artística e pessoal, é tido como um oásis de felicidade em meio à prevalência de demônios pessoais trazidos à baila mais como fator de idealização do que para afronta-los publicamente. Aqui a forma é uma serva absolutamente subserviente ao conteúdo, aliás, os instrumentos da linguagem audiovisual operam abertamente no sentido dessa tentativa (malsucedida) de criar uma noção épica em torno da apresentação. Filme bom de ouvir. E só.Um produto formatado para fãs, mas de música.
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