Sinopse
Crítica
Começando com um longo plano de dentro de um carro enquanto este é entregue ao Motorista (Frank Grillo), Wheelman raramente abandona o interior do veículo nos 80 minutos seguintes. E quando o faz, é para mostrar detalhes do mesmo, porém pelo lado de fora. Surgindo, portanto, como um filme de câmara, o longa escrito e dirigido por Jeremy Rush se baseia em diálogos e nas ações limitadas do protagonista, contratado para ser o piloto de fuga em um assalto.
Não que a premissa seja inovadora – o recente Locke (2013) impunha à narrativa as mesmas condições, e se saia um pouco melhor nos conflitos criados para o personagem título de Tom Hardy. Aqui, o wheelman (o homem na direção) é emboscado por duas facções numa guerra de interesses, e o problema é que ambas se beneficiariam com a morte dele. Então cabe ao Motorista, munido de um carro e seu celular, mudar este cenário durante o percurso.
Entretanto, é Frank Grillo quem vive essa figura, o que poderia tornar difícil a tarefa do espectador de simpatizar com aquele criminoso. O ator é terrivelmente inexpressivo e duro na sua expressão corporal, e parece falar do mesmo modo bronco em todos os seus papéis. Porém, isso surpreendentemente serve bem ao personagem, um ex-condenado acostumado ao linguajar das ruas. Assim, quando baixa o tom para falar com a filha em dado instante, apenas o contraste de volume no seu discurso já serve para indicar que está tentando ser carinhoso – nuances que são auxiliadas pela simplicidade do filme também. Em outras circunstâncias, ao lado de atores mais articulados, provavelmente Grillo seria o elo fraco do elenco.
E é importante comprar o protagonista, pois é o seu rosto que ocupa a tela por boa parte da duração, já que nem sempre há muito mais o que mostrar – e para comprovar o que disse no parágrafo anterior, note como a rápida ponta de Shea Whigham destoa no nível de performances que vínhamos aceitando até ali, uma vez que o ator consegue criar um bandido simultaneamente divertido e ameaçador.
Ainda que, é preciso apontar, o roteiro de Jeremy Rush também não seja tão elaborado, constantemente se entregando a repetições de ideias, tática que serve apenas para ganhar tempo. A quantidade de vezes em que, por exemplo, o Motorista atende a uma ligação não identificada só para ouvir ameaças de morte, já incha um terço do projeto – e sua insistência em ficar gritando com o interlocutor desconhecido já dá conta de mais um. O que não impede o filme de realmente soar tenso, ainda que a própria proposta acabe sabotando as tentativas de Rush em criar uma atmosfera mais densa – se o filme está grudado ao carro, e este é dirigido pelo Motorista... Faça os cálculos.
O que não se pode dizer, entretanto, é que Wheelman seja parado. Sempre tem algo acontecendo, o que torna a experiência magnética – ainda que demasiadamente rápida, mais parecendo o episódio de uma série do que um longa. O que, no fim, conta a seu favor. É um plot interessante e divertido por sua ambientação, mas seria cansativo caso se estendesse demais. O clímax, aliás, é intenso e, tecnicamente, um dos momentos mais chamativos do projeto, pontuando com elegância a narrativa. Pode não ser, num todo, memorável, mas é um bate e volta carismático o suficiente para deixar o espectador apertadinho no banco do carona por pouco mais de uma hora.
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