Crítica
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Sinopse
Em Gasket City, cidade onde todos os moradores são carros, vive Wheely, um pequeno táxi verde e amarelo que sonha em se tornar o Rei da Estrada. Para isso, ele precisará provar que é um verdadeiro herói enfrentando os carros de elite e o terrível caminhão de 18 rodas que comanda o sindicato de carros de luxo da cidade.
Crítica
Há mais de 250 anos, o químico francês Antoine Laurent Lavoisier afirmava: "Nada se cria, tudo se transforma". Quase 40 anos atrás, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, subverteu a famosa citação ao dizer que na TV "nada se cria, tudo se copia". Bom, o mesmo se pode afirmar do cinema. É muito difícil encontrar alguma obra completamente original. E isso não é ruim. Afinal, de referências também o audiovisual vive. Porém, existem os extremos. Enquanto cineastas conseguem mesclar um pouquinho daqui e dali para realizar algo próximo de um material original de primeira, outros entregam apenas uma cópia malfeita de coisas nem tão boas assim em sua época. Infelizmente, esse é o caso de Wheely: Velozes e Divertidos, coprodução da Malásia/China que sofre de uma falta de personalidade gritante.
O Wheely do título é um jovem táxi que vive num mundo sem humanos. Ele reside na cidade de Gasket City. Sua meta é ser o mais veloz da região, por isso volta e meia está envolvido em rachas. O garoto se apaixona por Bela, carro da elite, que está para se tornar uma estrela de Hollywood. Ela é namorada de outro ricaço. Quando as coisas começam a engrenar entre os dois, a menina é raptada e ele precisa tentar salvá-la, isso enquanto lida com seus problemas com a polícia, caminhões traficantes e outras confusões.
Ora, com essa sinopse, a primeira coisa a se notar é a nada discreta referência à franquia Carros, da Disney. O filme original fez um grande sucesso em 2006 e teve uma sequência não tão exitosa (mas também longe de um fracasso) cinco anos depois. A principal meta do estúdio do Mickey não era apenas mais uma grande bilheteria, mas sua expansão, especialmente entre os brinquedos. Porém, se Relâmpago McQueen tinha o caipira Mate como parceiro, nessa versão oriental (passada nos EUA, diga-se) Wheely tem como amiga/admiradora uma motocicleta (ou algo próximo disso) chamada Putt Putt, talvez o único personagem com um leve carisma. No entanto, isso não sustenta o longa. Sua mania de falar de si em terceira pessoa e a inteligência disfarçada de ingenuidade e bondade gera bons momentos. A partir da metade da história a repetição cansa.
Talvez um dos piores defeitos do filme seja o fato de ser longo demais, mesmo durando menos de 90 minutos. O roteiro demora a engrenar, com diversos personagens estereotipados que vão sendo apresentados (do riquinho machista que só pensa em status à garota indefesa, da mãe coruja ao senhor sábio e corajoso) e um amontoado de clichês que formam, aos poucos, uma trama tão sem graça quanto o seu protagonista. A intenção dos criadores é a velha lição de moral: "você pode vir de uma classe baixa, mas ainda assim realizar seus sonhos". Contudo, Wheely é tão errático em suas ações (seja na disputa de rachas, na mania de ignorar os bons conselhos do amigo ou nos desejos mais estapafúrdios), que se torna bem mais antipático, além de um péssimo exemplo para qualquer criança ou jovem adulto que pense em se espelhar nele.
Seus infindáveis minutos causam sono pela falta de personalidade, inclusive da própria técnica da animação, que parece usar o mesmo carro a todo o momento, com apenas algumas variações de cores e acessórios para diferenciar os personagens. Parece que tudo foi feito a toque de caixa, mas com alguns bons anos de atraso, para faturar em cima do sucesso do filme "irmão" da Disney. Os russos foram bem mais rápidos ao produzir O Reino Gelado (2012), "cópia" (que veio antes, na verdade) de Frozen: Uma Aventura Congelante (2013). E com mais êxito, pois acabou gerando duas sequências. Wheely: Velozes e Divertidos é uma tentativa oriental de alçar voos para os cinemas de todo mundo. Pena que com um produto tão cheio de erros e antipático.
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