Crítica


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Sinopse

Um velho pintor procura inspiração para seu novo trabalho. Encantado, se debruça nas passarelas noturnas das ruas de Paris e seus peculiares habitantes.

Crítica

Surreal é uma boa palavra para definir Where Horses Go to Die, longa-metragem assinado pelo cineasta sul-africano Antony Hickling. Utilizando como ponto de partida um encontro fortuito entre um pintor e três prostitutas, o diretor (também roteirista) traça uma história que conversa com o onírico, que se utiliza da imaginação e das inúmeras possibilidades trazidas pela arte – neste caso, tanto audiovisual quanto plástica – para conceber a sua obra.

Na trama, Daniel (Jean-Christophe Bouvet) está vivendo uma crise de criatividade. Certa noite, ao sair para espairecer, o artista ajuda a salvar Candice (Amanda Dawson), prostituta que se afogava. Isso o aproxima de Divine (Walter Dickerson) e Manuela (Manuel Blanc), colegas de Candice, ambas mulheres trans. Em um ousado jogo de tarô, Daniel e suas novas amigas observam os destinos possíveis, o passado duro e o futuro insólito que podem aguardá-las.

Selecionado para a mostra competitiva do Rio Festival de Gênero e Sexualidade no Cinema, Where Horses Go to Die é um filme tremendamente inclusivo, mas que não parece chamar a atenção para tal fato. A sexualidade dos personagens é um dos fatores que faz a trama andar, mas não necessariamente o principal. São os anseios pelo futuro e as cicatrizes do passado que realmente importam para os protagonistas dessa história. Um filho que nunca virá, uma carreira que talvez não seja possível alcançar, um quadro que teima em não ser pintado. Lógico que, em meio a tudo isso, existem os fatores sexuais vindo à baila. Mas Antony Hickling não parece interessado em ter apenas isso à tona.

Com quatro intérpretes fortes defendendo seus papéis, fica difícil apontar destaques. Walter Dickerson como Divine talvez leve alguns pontos a mais pela dobradinha com Jean-Christophe Bouvet. A cena que os dois dividem num bar, na qual trocam revelações, é interessante pela franqueza dos personagens. Manuel Blanc tem tarefa dupla e carrega com intensidade suas cenas, ainda mais quando entendemos mais sua trajetória. E Amanda Dawson, que vive a prostituta cujo sonho é ser cantora, tem uma atitude combativa que encaixa bem naquele grupo.

Não espere de Where Horses Go to Die uma narrativa corriqueira. Hickling passeia pelo experimental e não se importa em dar respostas às nossas perguntas. O longa é um passeio por aqueles quatro personagens e pode se mostrar um tanto hermético para quem não embarcar na viagem. Dito isso, é possível que o filme afaste um tanto o público em geral, conversando melhor com as plateias de festivais, mais propensas a trabalhos menos convencionais.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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