Crítica
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Sinopse
Um jovem sonha em ser o melhor baterista de sua geração. Com o treinamento de um mestre impiedoso, começa a ultrapassar todos os seus limites.
Crítica
O melhor começo para quem deseja se aventurar pelo mundo da realização cinematográfica é testar seus conhecimentos e limites criativos através de um curta-metragem, espaço apropriado para experimentações e novidades. Mas o que fazer em seguida, ainda mais quando esse primeiro esforço tem um retorno positivo? Seguir apostando em time que está ganhando, é claro! Ou ao menos é o que pensam jovem cineastas contemporâneos, como o brasileiro Daniel Ribeiro – que refez seu curta Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010) no longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014) – ou o americano Damien Chazelle, responsável por Whiplash: Em Busca da Perfeição (as duas versões, tanto a reduzida, de 2013, quanto a extensa, que chega agora aos cinemas). E o resultados destes exemplos aqui citados são bastante similares: a retomada do tema e seu consequente aprofundamento no novo formato apenas lhes ofereceram novas e melhores condições de entregarem um trabalho final ainda mais impressionante.
Ainda que tenha perdido tempo escrevendo o roteiro de bobagens descartáveis como O Último Exorcismo: Parte 2 (2013) e Toque de Mestre (2013), Chazelle demostra de fato quem é e o que tem a propor ao cinema moderno com Whiplash. Com menos de 30 anos, causou furor ao passar pelo Festival de Sundance (ganhou o prêmio do júri com o curta e os principais do público e do júri oficial, no ano seguinte, com o longa) e foi recebido com entusiasmo no Festival de Cannes. Isso, definitivamente, não é para qualquer um. Mas sua obra está à altura de tamanho reconhecimento? Sim e não.
Whiplash é um termo bastante específico, que, dependendo do contexto em que é empregado, pode ter diferentes significados. Porém, em última instância, talvez o mais apropriado – a despeito de suas ligações com o mundo da música, de nome de bandas e canções – seja a expressão “chicotada”. Afinal, é o que o jovem Andrew Neyman (Miles Teller) tem levado constantemente desde que foi escolhido pelo maestro Terence Fletcher (J.K. Simmons) para fazer parte da studio band de jazz no conservatório onde estuda. Dedicado e intenso, o rapaz abre mão da família – apenas vê o pai ocasionalmente, em idas rápidas ao cinema – e de relacionamentos mais íntimos – desiste de uma possível namorada assim que as coisas começam a ficar sérias, com medo de que o envolvimento com a garota possa comprometer seus estudos – apenas para se entregar de corpo e alma àquilo que acredita ser seu maior dom: a bateria. Mas o instrutor não compartilha da mesma visão romântica sobre a ordem das coisas. E o caminho dos dois, definitivamente, não será dos mais tranquilos.
Fletcher, em uma composição assombrosa de Simmons – lembrando um pouco o irascível, porém levemente sensível, J. Jonah Jameson da trilogia original do Homem-Aranha – é a reencarnação perfeita do Sargento Hartman (R. Lee Ermey) de Nascido para Matar (1987): cruel, impiedoso, volúvel. Ele não tem pena dos seus pupilos, tem total certeza de que somente esgotando-os ao máximo conseguirá fazer com que superem seus limites e está disposto a fazer o que for preciso, desde as mais severas torturas psicológicas até abusos físicos, para que consigam o seu melhor. E, se durante esse processo um ou outro ficar para trás, a culpa terá sido exclusivamente da sua própria fraqueza enquanto aluno. Disso ele não tem a menor dúvida. Neyman, no entanto, surge para que o confronto se instaure. Ao mesmo tempo em que está disposto a dar tudo de si para atender as expectativas do instrutor, também não aceitará pacificamente os exageros dos quais será vítima e testemunha.
Como todo filme do gênero, Whiplash: Em Busca da Perfeição também apresenta momentos de grande impacto emocional – principalmente em sua conclusão, que não é nada menos do que arrebatadora. No entanto, a estrutura um tanto conhecida do duelo entre experiência e inovação apenas revive o clichê de Davi superando Golias, dentro de um contexto que se direciona a um fechamento dentro do esperado. De qualquer forma, no entanto, o filme consegue se manter firme pelos próprios pés, seja pela mão segura do realizador, que abraça essa história sem ressalvas e consegue, a despeito de qualquer desvantagem, torná-la atraente e interessante, e por seus dois atores principais, ambos em total sintonia – seja um com o outro ou com os personagens que defendem. Uma boa surpresa, que não deve fazer feio entre os melhores da temporada.
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