float(23) float(7) float(3.3)

Crítica


5

Leitores


7 votos 6.6

Onde Assistir

Sinopse

Richard Wershe Jr., em meados da década de 1980, tinha apenas 14 anos e se tornou um informante disfarçado para a polícia. Depois, acabou virando um grande traficante de drogas e, quando tinha 17 anos, sua vida dupla foi desmascarada ao ser pego com 17 quilos de cocaína. Richard foi condenado à prisão perpétua.

Crítica

O começo de White Boy Rick é absolutamente promissor, com o desenho da tara norte-americana por armas de fogo. Richard (Matthew McConaughey) leva o filho adolescente, Rick (Richie Merritt), para uma feira do segmento, partilhando com o rebento seu entusiasmo alimentado pela celebração do porte de armas. A fim de ganhar a vida, esse sujeito fabrica silenciadores para metralhadoras e coloca o garoto na linha de frente da negociação com os traficantes locais. A trama se passa nos anos 80, numa Detroit depauperada por conta da derrocada das fábricas de automóveis outrora tão importantes à economia. A localidade é tomada pelo comércio de drogas e pela criminalidade, sendo o campo perfeito para esse revendedor licenciado que mantém relações estreitas com a marginalidade. Todavia, o verdadeiro protagonista da produção é o jovem criado nesse entorno deturpado, prontamente seduzido por ganhos fáceis, mulheres bonitas e a possibilidade real de ascender socialmente.

White Boy Rick, contudo, perde gradativamente essa capacidade de substanciar o entorno, para além dos aspectos óbvios. Cenas como a de Rick e a irmã viciada em drogas revidando violentamente um roubo – importante pela brutalidade simbólica e literal do ato – são exceções. Logo, o foco se estreita na amizade do garoto com os bandidos casca-grossa do pedaço, isso além da colaboração forçada com a polícia que o chantageia. O protagonista é delineado desde o princípio como alguém irremediavelmente partícipe desse mundo, não experimentando solavancos consideráveis quando passa de vendedor de armas e acessórios a negociador de narcóticos infiltrado na gangue. A atuação das forças da lei é questionada pelo filme apenas superficialmente. Não há espaço, por exemplo, a um estudo acurado acerca da sordidez dos representantes dos poderes legais. Isso, tampouco, acontece na traição vista próximo ao fim, apresentada como algo totalmente previsível, sem força e tantas camadas.

Enquanto exemplar policial, White Boy Rick segue uma cartilha conhecida, com ações espúrias acarretando reações geralmente trágicas. A confiança que os figurões do crime depositam em Rick é mal construída, vide o fato dele ser aceito num meio absolutamente fechado sem maiores questionamentos. Os policiais são meros penduricalhos, desempenhando uma função burocrática no longa-metragem. O cineasta Yann Demange alterna essa dinâmica e a familiar, na qual se sai relativamente melhor, ainda que não se desvencilhe de certas convenções. Matthew McConaughey, cuja caracterização parece decalcada da sua de Clube de Compras Dallas (2013), pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Ator, interpreta o retrato da hipocrisia, pois seu personagem sustenta discursos antidrogas, fala para os filhos não se meterem em encrenca, mas não se furta de aproximar-se do crime desde que isso represente lucro. Mas, ele acaba apagado ao longo da trama, adiante se tornando o pai-coragem empenhado em salvaguardar os rebentos.

White Boy Rick é combalido por diversas inconsistências. No âmbito doméstico, tudo converge para a tragédia, a partir da necessidade que amplia a atividade no ramo dos entorpecentes. A competência no desvelar dos relatos é limitada, pois, por um lado, a história transcorre num ritmo adequado, com boa clareza de intenções, mas, por outro, há a inclinação contraproducente a um estudo insuficiente das pessoas. Na última meia hora são acentuadas essas banalidades. Para retratar, sobretudo, Rick e Richard como vítimas do sistema, especificamente da política governamental e da incitação ao uso quase indiscriminado de armamentos coloquialmente, Yann Demange recorre ao mais simples e direto, sublinhando o drama judicial mediado pelas falácias de agentes que prometem mundos e fundos. Nesse ponto fica claro que o demérito maior do filme é justamente aproximar as circunstâncias por seus pontos evidentes, deixando as bem-vindas sutilezas à margem.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *