Sinopse
Ao acordar, Dolph Springer percebe que perdeu seu cão, Paul. Na jornada para encontrar o melhor amigo, o humano entra em contato com personagens e situações bizarros.
Crítica
Dolph, um pacato morador de um subúrbio norte-americano, acorda diariamente com seu despertador às 07h60min. Nem um minuto a mais, nem um a menos. O horário em si é um indicativo concreto de que há algo errado em sua vida, retratada no independente Wrong, do diretor francês Quentin Dupieux. O protagonista, no entanto, parece não perceber. Na verdade, mal se dá conta de seus claros traços neuróticos.
Certo dia, Dolph (Jack Plotnick) acorda e percebe que seu cão Paul não está em casa. Fugiu? Foi roubado? Ele não sabe. Seja como for, Dolph acaba desestabilizado pela perda de seu querido companheiro. A partir de então, uma série de situações estranhas sucedem-se na vida estranha do estranho Dolph, funcionário de um escritório estranho onde estranhamente chove sem parar em seu interior, apesar do sol brilhante do lado de fora. Aos poucos, entramos em contato com habitantes de uma comunidade de pessoas esquisitas que, em sua esquisitice, tomam decisões e protagonizam ações em uma realidade bizarra sem espaço para questionamentos.
(Não leia o parágrafo abaixo se quiser evitar spoilers!)
No filme, um policial obtuso no trato com o cidadão não é enfrentado, bombeiros que não apagam incêndios não são punidos, um maluco que pinta os carros dos outros na rua sem permissão não é repreendido, uma promíscua garota apaixonada por um novo namorado não se espanta quando outro homem assume o lugar do amante de um dia para o outro, o guru da autoajuda Master Chang (William Fichtner) sequestra animais de estimação para “ajudar” seus donos sem ser preso, enquanto o calmo detetive que procura Paul torna-se violento de uma hora para outra sem ser combatido, e um jardineiro morre e volta a trabalhar no dia seguinte sem que seu empregador fique surpreso.
(Volte a ler!)
Cenas absurdas se revezam em uma espécie de espelho crítico da sociedade norte-americana na qual, diante das excentricidades dos outros, permeadas por individualismo, tensão social e violência latente, o melhor que se tem a fazer é manter-se distante para evitar problemas. Não questionar, não se envolver e não se meter em confusão são como regras inconscientes.
Nessa galeria de sujeitos desequilibrados, Dolph acaba por revelar-se o personagem mais sensato, o menos torto, o mais normal de todos e, sobretudo, o que mais sofre as consequências morais e físicas por ser alguém são entre tantos malucos. O mais engraçado é que Dolph parece não ser afetado por todo este assédio. É como um castigo social, uma espécie de pena comunitária que recai sobre o cidadão comum às voltas com inúmeros desajustados – e da qual ele pouco se dá conta. Essa é a sacada conexa em um filme aparentemente desconexo.
No entanto, o enquadramento geral que Dupieux dá a este universo instável ocorre de forma vaga, reticente, lenta e suave, o que pode tornar o filme muito monótono para o público desacostumado ao cinema independente. Mesmo assim, com um bom desempenho de atores, o resultado da obra é curioso, repleto de situações que variam entre o suspeitamente cômico e o deliberadamente incongruente. Além disso, o cineasta faz livres citações aos estilos de autores como Charlie Kaufman e David Lynch, sem ser reverenciador em demasia. No fim das contas, Wrong é um filme que deu certo, mas para isso você terá que chegar ao seu final.
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Um filme cheio de elementos de comunicação visual ;)
NÃO ACREDITO QUE FIQUEI MAIS DE UMA HORA ESCUTANDO ESTA BESTEIRA, O PIOR FILME QUE JÁ ESCUTEI, SEM PÉ NEM CABEÇA, HORRÍVEL...
Parece ser o verdadeiro samba do crioulo doido esse aí...