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Sinopse

Um antigo mutante é ressuscitado para terminar um trabalho deixado inacabado há milhares de anos: dominar o mundo. Com a ajuda de outros seres donos de poderes especiais em conflito consigo mesmos, esse déspota vai encontrar pelo caminho um grupo de jovens talentosos liderados pelo Professor Xavier.

Crítica

Após o incrível sucesso de público e de crítica de X-Men 2 (2003) – por muitos considerado o melhor de todos os filmes estrelados pelos heróis mutantes da Marvel até hoje – o diretor Bryan Singer decidiu pular a cerca e realizar um sonho antigo: conduzir a volta às telas de seu super-herói favorito em Superman: O Retorno (2006). Sua incursão pela DC Comics foi considerada, no entanto, um tanto problemática – para não dizer desastrosa – e tudo que lhe restou foi retomar às rédeas do universo que havia ajudado a construir. E após o exagerado X-Men: O Confronto Final (2006) e o subestimado X-Men: Primeira Classe (2011) – dirigidos por Brett Ratner e Matthew Vaughn, respectivamente – sem mencionarmos os dois capítulos-solo estrelados por Wolverine, Singer estava mais uma vez em casa com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014), que se revelou o maior sucesso de bilheteria de toda a saga até então (além de ter sido o único a receber uma indicação ao Oscar). Nada mais natural, portanto, que ele seguisse à frente do episódio seguinte. Porém, apesar do título, esse X-Men: Apocalipse é menos impactante do que se poderia esperar diante de um cenário tão propício quanto o atual. Não que não seja divertido. Apenas não é memorável.

Se a introdução de atores mais jovens para viver personagens clássicos como Professor Xavier e Magneto não foi uma decisão recebida com tanto entusiasmo quanto se poderia esperar em Primeira Classe, essa questão foi parcialmente resolvida com a passagem de bastão simbólica de Dias de um Futuro Esquecido, que com suas linhas de tempo paralelas conseguiu colocar lado a lado as duas versões destes protagonistas, com James McAvoy e Patrick Stewart se dividindo como o diretor da Escola de Superdotados e Michael Fassbender e Ian McKellen como as duas faces do imprevisível homem capaz de controlar com a mente todo e qualquer tipo de metal. Feitas as honras, portanto, Apocalipse se encarrega de dar sequência à história apenas com o novo elenco, curiosamente envoltos em uma trama ambientada no passado – nos anos 1980, mais precisamente, vinte anos após Primeira Classe e dez após os eventos mostrados em Dias de um Futuro Esquecido.

Nesta realidade, os X-Men não mais existem. Os mutantes são aceitos e reconhecidos pela sociedade, e o que a maioria quer é aprender como lidar com suas habilidades especiais e levar a vida mais comum possível – algo ao qual a instituição comandada por Xavier se dedica com afinco. Mas nem todos estão dispostos a se acomodar. Mística (Jennifer Lawrence, cada vez mais confortável no papel de estrela absoluta) segue agindo de forma independente, recusando a condição de heroína e se empenhando em libertar mutantes condenados a levar existências no submundo. Já Magneto, por outro lado, há muito abandonou esse codinome, tentando esconder seu passado atrás de seu nome de batismo, Erik Lehnsherr. Casado e pai de uma menina, passa seus dias como operário em uma fábrica no interior da Polônia. Eles todos, no entanto, voltarão a se cruzar com a aparição daquele que os estudiosos e fanáticos afirmam ser o primeiro mutante de todos, o que teria dado origem aos demais: Apocalipse (Oscar Isaac), que após ter sido traído em um ritual sagrado no antigo Egito, é ressuscitado milhares de anos depois e acorda disposto a tudo para seguir com os mesmos planos de antes: ou seja, destruir a realidade tal qual a conhecemos e dar início a uma nova ordem, dessa vez de acordo com a sua visão.

O poder de Apocalipse é tamanho que é difícil imaginar quem poderia lhe fazer frente. Porém ele não age sozinho, e por isso se dedica a escolher Quatro Cavaleiros para agirem ao seu lado – Tempestade (Alexandra Shipp, de Straight Outta Compton: A História do N.W.A., 2015), Anjo (Ben Hardy, do seriado inglês EastEnders, 2013), Psylocke (Olivia Munn) e, por fim, o próprio Magneto. Pressentindo o pior, Xavier terá ao seu lado Fera (Nicholas Hoult), Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Destrutor (Lucas Till), Noturno (Kodi Smit-McPhee), Mercúrio (Evan Peters), a agente Moira MacTaggert (Rose Byrne) e Mística, que retorna para ajudá-lo. Apocalipse precisa dos poderes de Xavier para concretizar seu intento, e ao raptá-lo os pupilos deste terão que aprender a se virarem sozinhos, indo contra o que sempre lhes foi ensinado: ao invés de controlar seus poderes, a partir de agora terão que liberá-los com todas as forças, tendo o destino do planeta Terra e a sobrevivência da humanidade em jogo.

Ao contrário do que a saga X-Men sempre pregou, Apocalipse não se preocupa em aprofundar qualquer tipo de discussão política, deixando de lado diferenças, preconceitos, incompreensões e outros debates controversos, mirando seu foco no entretenimento puro e simples. Nesse sentido, a competência de Bryan Singer fica evidente, com efeitos visuais grandiosos, um impressionante desenho de som e, principalmente, pelo seu evidente apreço pelos tipos que tem sob seu controle. A nova Jean Grey é um verdadeiro achado, com a jovem Turner, popular pela fama recém adquirida por sua participação no seriado Game of Thrones (2011-), oferecendo as nuances e as contradições internas tão intrínsecas à personagem que defende, e sua ligação com Tye Sheridan – seguro na posição de líder – é eficiente na medida em que já estabelece a química necessária para o envolvimento que os dois terão no futuro. Assim como Mercúrio, que tem mais espaço para desenvolver não apenas sua história pessoal, mas também em oferece uma nova demonstração de suas habilidades únicas, em um dos momentos mais surpreendentes do enredo. Por outro lado, Olivia Munn tem pouco o que fazer com Psylocke, da mesma forma que Oscar Isaac está escondido por baixo de tanta maquiagem que a impressão que fica é que qualquer outro ator poderia estar no seu lugar.

Ainda que as novidades chamem a devida atenção, é praticamente impossível não torcer pelos rostos mais conhecidos – e McAvoy, Fassbender e Lawrence são competentes o suficiente para entregarem ao público exatamente o que se espera deles. Até surpresas de última hora – sim, estamos falando do Wolverine de Hugh Jackman, em uma participação rápida, porém marcante – funcionam menos como distração e mais como elementos agregadores. Assim, X-Men: Apocalipse peca apenas por não estar à altura das expectativas geradas pelos seus antecessores e pela combinação dos fatores reunidos. Deixando tais impressões prévias de lado, tem-se aqui uma aventura envolvente, atenta às suas origens enquanto história em quadrinhos, como uma diversão passageira, que não mudará a vida de nenhum dos envolvidos, mas que entretém com eficiência enquanto dura. E que venha o próximo (ps: fique até o final dos créditos para as ‘cenas do próximo capítulo’)!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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