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Sinopse

No futuro, os mutantes são caçados impiedosamente pelos Sentinelas, gigantescos robôs criados por Bolívar Trask. Os poucos sobreviventes precisam viver escondidos, caso contrário serão também mortos. Entre eles estão o professor Charles Xavier, Magneto, Tempestade, Kitty Pryde e Wolverine, que buscam um meio de evitar que os mutantes sejam aniquilados. O meio encontrado é enviar a consciência de Wolverine em uma viagem no tempo, rumo aos anos 1970. Lá ela ocupa o corpo do Wolverine da época, que procura os ainda jovens Xavier e Magneto para que, juntos, impeçam que este futuro trágico para os mutantes se torne realidade.

Crítica

Ainda que apresente personagens extremamente populares e um histórico nos gibis bastante respeitável, os filmes da série X-Men não são, exatamente, legítimos arrasa-quarteirão. Para se ter uma ideia, o mais bem sucedido de todos os longas da franquia até o momento é X-Men: O Confronto Final (2006), que faturou pouco mais de US$ 459 milhões em todo o mundo – em termos de comparação, o filme mais bem sucedido nas bilheterias baseado em personagens da Marvel é Os Vingadores (2012), que arrecadou US$ 1,5 bilhão, ou seja, mais do que o triplo. Este desempenho, no entanto, tem tudo para ser melhorado com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, certamente o mais ambicioso de todos os sete filmes da saga – incluindo aí os dois solos do Wolverine. Talvez não a ponto de fazer frente à reunião do Homem de Ferro e seus amigos, mas certamente para deixar para trás todas as incursões anteriores dos heróis mutantes.

Baseado em uma das mais populares histórias em quadrinhos dos X-Men, publicada originalmente em 1981, Dias de um Futuro Esquecido representa um ponto crucial na jornada destes seres em constante conflito. Em 2023, os integrantes remanescentes do grupo formado pelo Professor Xavier (Patrick Stewart) lutam com todas as forças contra robôs gigantes – os Sentinelas – construídos especialmente para eliminá-los. Criados pelo empresário Bolivar Trask (Peter Dinklage) cinquenta anos antes, estes monstros robóticos possuem a capacidade de se transformarem conforme o inimigo, habilidade que só foi possível adquirir após um profundo estudo do DNA de uma das mais audaciosas mutantes, a transmorfa Mística (Jennifer Lawrence). Ela foi capturada pela primeira vez após assassinar Trask, e sua prisão foi determinante para o quadro caótico atual – apesar dela acreditar ter feito um bem pela causa. Diante dos resultados posteriores, no entanto, a única solução é voltar no tempo e impedi-la de cometer o crime – evitando, portanto, que ela seja pega e, consequentemente, permitindo o acesso ao conhecimento necessário para o desenvolvimento dos caçadores cibernéticos.

Se na trama original a responsável por essa viagem temporal era a habilidosa Kitty Pryde (Ellen Page), no cinema tal tarefa é designada a um personagem muito mais popular: Wolverine (Hugh Jackman). Essa escolha, no entanto, é nitidamente mercadológica – ele pouco faz no filme, servindo apenas como um condutor. Há algumas passagens interessantes de sua trajetória, como o primeiro encontro com o militar Bill Stryker (Josh Helman, no papel que foi defendido por Danny Huston em X-Men Origens: Wolverine, 2009, e por Brian Cox, em X-Men 2, 2003), mas estes são apenas vislumbres de momentos que já foram explorados à contento anteriormente. Os verdadeiros protagonistas são, além de Mística (Lawrence cada vez mais no domínio e à vontade em cena), os eternos amigos/inimigos Professor Xavier (um competente James McAvoy, em sua versão jovem) e Magneto (Michael Fassbender, intenso e destemido, deixando pouco espaço para saudades do desempenho de Ian McKellen, que mal aparece).

Quando Wolverine chega no ano de 1973, terá que convencer um desiludido Xavier de quem é na verdade e qual sua missão. Com o apoio de Fera (Nicholas Hoult) e de Mercúrio (Evan Peters), eles conseguem salvar Magneto de uma prisão de segurança máxima, lugar em que se encontra acusado de ter matado o presidente da República – ninguém menos do que John Kennedy! Ao irem atrás de Mística, no entanto, nem todos confirmarão possuir o mesmo objetivo, e somente após se separarem é que as reais consequências de seus atos começarão a desenhar um futuro diferente – melhor ou pior, caberá ao passar dos anos decidir.

Muito se falou durante a produção de Dias de um Futuro Esquecido da importância deste filme promover o encontro da equipe original – apresentada na primeira trilogia – com suas versões mais jovens – vistas anteriormente em X-Men: Primeira Classe (2011). Tal percepção é quase falsa, pois além de Wolverine e de uma breve conversa telepática de Xavier consigo mesmo (ou seja, entre McAvoy e Stewart), não há mais cruzamentos. Os heróis atuais, representados por Xavier, Magneto, Pryde, Tempestade (Halle Berry), Homem de Gelo (Shawn Ashmore), Colossus (Daniel Cudmore) e outros, poucos tem a fazer além de proteger de um novo ataque dos Sentinelas o selvagem canadense de garras de adamantium enquanto se encontra em estado de transe. Afinal, sua viagem no tempo se dá através de sua consciência – o físico permanece o mesmo, independente do ano em questão, e somente garantindo sua integridade em ambas as épocas é que a sobrevivência de todos poderá será assegurada.

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é uma produção audaciosa e muito bem sucedida. Talvez não seja tão emocional como os melhores momentos da saga da Fênix, mas tem passagens de intensa adrenalina – a fuga do Pentágono, o duelo em Paris ou o clímax final, por exemplo – e situações de destaque em ação para quase todos os personagens. A dinâmica da relação entre os heróis rejuvenescidos está ainda mais precisa, e Bryan Singer é inteligente o suficiente para aproveitar o que de melhor os demais diretores introduziram em seus respectivos capítulos, ao mesmo tempo em que abre espaço para um legítimo recomeço, praticamente do zero. Daqui pra frente tudo é novo, e mesmo decisões radicais de outrora poderão ser revistas. Um alento aos fãs e oportunidade perfeita para aqueles que estão entrando agora nesse universo. E antes de mais nada, uma jogada de mestre perfeita para uma série que ainda oferece muito a ser explorado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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