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Crítica


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Sinopse

Uma musa grega vem à Terra auxiliar um artista de rua a encontrar um rumo. Ao lado de Danny, eles abrem Xanadu, uma boate sem igual em que tudo é possível.

Crítica

Existem filmes ruins e existem aqueles deploráveis. E no meio do caminho entre um e outro extremo, está Xanadu (1980). Recentemente houve uma montagem do musical nos palcos brasileiros capitaneada por Miguel Falabella, que lá pelas tantas, no meio do espetáculo, vira para a plateia e declara: “em 30 anos de carreira, nunca fiz algo tão abusrdo”! Pois o filme que deu origem ao show da Broadway é exatamente isso: sem pé nem cabeça. Absolutamente nada fez sentido. O mais curioso, no entanto, é que nem é possível apontá-lo como produto de uma época, pois foi um fracasso de público e de crítica. Então, como explicar essa longevidade e o atual status cult que adquiriu? A resposta é tão óbvia quanto risível: justamente pela sua ruindade.

Sonny Malone (Michael Beck, hoje em dia um veterano da televisão, aqui num dos seus raros trabalhos para o cinema e cujo único outro crédito digno de nota é Warriors: Selvagens da Noite, dirigido por Walter Hill um ano antes, em 1979) é um artista de rua que não sabe o que quer da vida. Está indeciso em relação ao seu talento, ao seu potencial e com o que busca para o futuro. Quem vem ajudá-lo é Kira (Olivia Newton-John, dois após Grease: Nos Tempos da Brilhantina, sem repetir o sucesso obtido ao lado de John Travolta), uma musa grega. Ao se tornar humana para se aproximar dele, ela o deixa ainda mais confuso, pois desperta no rapaz uma paixão avassaladora. O mesmo efeito que provocou décadas atrás ao aparecer para Danny McGuire (o imortal Gene Kelly, de Cantando na Chuva, 1952, e Sinfonia de Paris, 1951, em seu derradeiro registro na tela grande). Naquela época ela o inspirou a construir uma boate fabulosa, que nunca chegou a ser concluída. Agora, com a ajuda do jovem Sonny, a roller disco irá se tornar realidade, batizada de Xanadu!

Mas o que significa Xanadu? Ninguém sabe. Qual o objetivo dessa divindade do Olimpo e por que ela segue interferindo nos assuntos dos homens? Em nenhum momento há uma explicação. Ela está apaixonada por Sonny, ou irá abandoná-lo, como fez com Danny? Isso não fica claro. Qual o dilema do rapaz, se no começo da trama ele tem um trabalho fixo e ganha a vida com a própria arte? Mero detalhe. Agora, o mais estapafúrdio de tudo: por que cargas d’água uma danceteria iria resolver o problema de todo esse pessoal? Só uma mente muito alucinada do final dos anos 70 para encontrar essa resposta.

Lançado em 1980, recebeu 6 indicações o afamado Framboesas de Ouro, que reconhece os Piores do Ano. Ganhou como Pior Diretor (Robert Greenwald, superando pesos pesados como os oscarizados John G. Avildsen, William Friedkin e Stanley Kubrick), e ainda foi lembrado como Pior Ator, Atriz, Canção, Roteiro e, é claro, Filme. Em 2005 – ou seja, 25 anos depois – foi lembrado pela premiação, ao ser indicado como Pior Musical das últimas décadas, ao lado de Glitter: O Brilho de uma Estrela (com Mariah Carey) e O Mundo das Spice Girls. Fracasso de bilheteria, faturou em toda sua carreira pouco mais de US$ 20 milhões, um resultado constrangedor para a protagonista do filme do gênero de maior sucesso de público de todos os tempos (o já citado Grease). Mas como a trilha se tornou campeã de vendas e tudo que é ruim demais acaba se tornando divertido, Xanadu está vivo até hoje, encantando como um dos melhores exemplos daquilo que, de tão péssimo, encontra aí o seu valor.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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