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Sinopse

Reúne quatro diretoras que tiveram a liberdade de contar qualquer história que quisessem. Essas histórias tem apenas dois temas em comum: o gênero horror e o protagonismo feminino.
 

Crítica

Se as mulheres já têm pouco espaço na indústria cinematográfica como um todo, em alguns gêneros a desigualdade é ainda mais visível. Embora filmes de terror frequentemente contem com figuras femininas na frente das câmeras – não pode ser ignorada, contudo, a questão de como essas personagens são representadas –, os bastidores da esmagadora maioria das obras continuam sendo predominantemente masculinos. É nesse contexto que entra este XX, antologia composta de quatro curtas-metragens dirigidos por e focados em mulheres, com o claro objetivo de diminuir o abismo entre a quantidade de diretoras e diretores no cinema de horror.

Além do gênero das realizadoras, as quatro partes têm pouco em comum. Em The Box, de Jovanka Vuckovic, um garotinho (Peter DaCunha) misteriosamente passa a recusar qualquer tipo de comida depois de espiar a caixa de presente de um estranho; já The Birthday Party, da cantora, compositora e musicista Sr. Vincent (aqui creditada como Annie Clark, seu nome real) é uma comédia de humor negro na qual Melanie Lynskey vive uma mãe que tenta, a qualquer custo, impedir que a morte de seu marido suicida estrague a festinha de aniversário da filha (Sanai Victoria); em Don’t Fall, Roxanne Benjamin segue o velho clichê dos jovens amigos acampando num lugar amaldiçoado; e Karyn Kusama assume Her Only Living Son, clara homenagem (ou até continuação) ao clássico O Bebê de Rosemary (1968).

Como é comum em obras no formato antológico, XX é irregular, cheio de altos e baixos. As quatro diretoras são evidentemente talentosas, e as habilidades e marcas autorais de cada uma transparecem nas obras. Quase todos os roteiros, porém, demonstram desconforto com as limitações de tempo exigidas por um curta-metragem. O resultado é uma série de conceitos bons – fantásticos, às vezes –, que não conseguem fisgar o espectador ou não entregam conclusões satisfatórias. De um lado do espectro, por exemplo, há uma história bem desenvolvida como The Box, mas que não apresenta desfecho algum, algo tão desesperador para o público quanto para a protagonista; no extremo oposto, temos Don’t Fall, que traz muito potencial, mas o desenrolar é tão rápido que a audiência não tem margem para se importar com os personagens o suficiente para sentir qualquer carga emocional.

Os curtas mais consistentes ficam sob o comando da (surpreendentemente) estreante St. Vincent e de Kusama, diretora do ótimo The Invitation (2015). The Birthday Party é uma cômica mistura entre Festim Diabólico (1948) e As Esposas de Stepford (1975), e cria em poucos minutos um universo asséptico, caricato e repleto de morbidez. Além da sempre excelente Lynskey, o segmento traz Sheila Vand (estrela de Garota Sombria Caminha Pela Noite, de 2014, outro horror dirigido por uma mulher) na pele de uma sinistra babá/secretária/governanta.

Mas, sem dúvida, o maior destaque de XX é a experiente Kusama. Seu curta-metragem é o único que realmente faz bom uso de sua duração, uma história concisa que, sem depender de diálogos expositivos demais, estabelece bem seus personagens e apresenta temas sólidos e pungentes. Her Only Living Son funciona bem sozinho, mas tem todo potencial para virar um longa-metragem e ganhar a chance de expandir sua mitologia interna.

Emoldurados por sequências de stop-motion maravilhosamente macabras da animadora Sofia Carrillo, os segmentos que formam XX não são sempre satisfatórios, mas representam, de qualquer maneira, um passo significativo rumo a um cinema mais igualitário. Mesmo que alguns curtas não ganhem completamente o espectador, é impossível ignorar o talento de todas as criadoras e, principalmente, a incrível diversidade de histórias e temas que perspectivas femininas trazem para um gênero tradicionalmente dominado por homens.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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