Crítica
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Sinopse
Monterrey, México. Ulises Samperio é um jovem de 17 anos que ama a cumbia, ritmo colombiano o qual dança desde quando era pequeno. Líder de uma gangue local chamada Terkos, ele vive no limiar da criminalidade devido à proximidade do cartel local. Quando um atentado o aponta como suspeito, ele é obrigado a fugir do local onde cresceu.
Crítica
Há algumas mensagens enviadas pelas belas panorâmicas que mostram a cidade de Monterrey, no México. A óbvia é acerca da vastidão daquela selva de pedra, com pouquíssimos pontos verdes a olho nu, no sentido de ressaltar a aglomeração de pessoas e carros que ali residem. O arremedo de prédio abandonado que, muitas vezes, serve de abrigo aos Terkos também aponta o desleixo do poder público, que permite o absoluto descontrole de tal região. Além disto, fica claro que o diretor Fernando Frias tem especial predileção por enquadramentos bem delineados, de forma que sejam esteticamente belos e também tenham algo a dizer sobre a ambientação desta história que, no fim das contas, possui profundas raízes nas mazelas existentes no país.
É também interessante observar o duplo sentido decorrente do título original, Ya No Estoy Aqui, referente à identidade cultural de seu personagem principal. Ulises (Juan Daniel Garcia Treviño) é um jovem de 17 anos que ama a cumbia, ritmo colombiano o qual dança desde quando era criança. Sempre sisudo, ele apenas se sente pleno e solto quando dança sua música tão amada - atenção a este ponto: a cumbia precisa ser dançada, não basta ser apenas cantarolada. Trata-se de uma expressão do espírito, acima de tudo, que Ulises cultiva com tanto gosto ao lado dos Terkos, a gangue a qual lidera, dedicada à dança da cumbia.
Mas nem só de dança se vive e, em um país onde a influência dos cartéis é tão intensa, a violência e o tráfico batem à porta todos os dias, seja como tentação ou mesmo produzindo vítimas. Ulises vive neste limiar, aspirando desejos sem ter dinheiro para realizá-los, percebendo a facilidade em ir para o outro lado. Tal aspecto social, entretanto, não é o foco central desta história: ele surge enviesado, com ares de inevitabilidade diante do atual momento mexicano. Com isso, cabe à narrativa abordar este antes, durante e depois a partir de três linhas temporais, entremeadas de forma um tanto quanto confusa devido aos pequenos detalhes que pontuam cada momento - mais especificamente, mudanças no corte de cabelo.
Este, por sinal, é o aspecto mais marcante de Ulises, e não apenas pelo inusitado visual. Através dele nota-se não apenas a personalidade do jovem mas, também, o grau de sua paixão pelo ritmo, capaz de moldar também seu figurino. Se é verdade que, para o não-latino, tal mistura tende ao exótico, ela reflete tão bem a identidade do jovem diante da civilização, com todas as benesses e preconceitos intrínsecos, algo que Ulises sente com mais intensidade ao ser forçado a deixar o local em que vive. O relacionamento com Lin (Xueming Angelina Chen) é calcado muito mais na curiosidade do que no real interesse pelo outro.
Por mais que traga nuances bem interessantes, Ya No Estoy Aqui é um filme de ritmo bastante prejudicado pela forma com a qual as transições temporais são apresentadas, sem muita clareza. Na metade final os códigos enfim ficam claros, mas até lá há uma sensação forte de vazio, também devido ao rompante mal trabalhado com o qual se apresenta a virada para Ulises. Se o filme constrói bem o antes e o depois, é no meio termo e na edição que estão seus principais problemas. Ainda assim, trata-se de um filme correto e interessante que tão bem reflete a América Latina como um todo, apresentada através de um elenco correto e competente.
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