Crítica
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Sinopse
Crítica
O signo principal de Zama, o mais novo filme da cineasta argentina Lucrecia Martel, é a espera. O protagonista, Don Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho), é um oficial da Coroa Espanhola que deseja ser transferido à capital Buenos Aires. Seus dias são preenchidos por essa expectativa que assume praticamente ares de impossibilidade. Não há uma progressão dramática facilmente reconhecível neste longa-metragem, cujo intento é emular o desespero silencioso do homem que não aguenta mais as mesmas paisagens ermas. Para isso, como se fosse necessário extirpar da encenação tudo que pudesse dirimir essa prioridade do aspecto sensorial, a realizadora passa ao largo de fazer questionamentos históricos ou de qualquer outra ordem que não a estritamente ligada ao aguardo de Don Diego. A interação com escravos e indígenas segue essa ideia minimalista, com uma sucessão nem sempre lógica de planos e sequências no intuito de priorizar a atmosfera em detrimento da trama.
Zama não é um filme fácil de ser assistido. A negação da exposição de eventos determinantes instaura um clima de placidez extrema. Testemunhamos longamente conversas sem aparente conexão com os fragmentos antecessores e subsequentes, o que nos obriga a perscrutar a imagem e o belíssimo desenho de som em busca de significados. A estrutura do roteiro não nos permite identificar com clareza outros pontos fortes ou mesmo de tensão dentro dessa realidade bastante singular em que os personagens não aparecem efetivamente para cumprir funções dentro do enredo, senão o de auxiliar a construção da ambiência dessa espera tão fatigante para o protagonista quanto ao público. Lucrecia nem ao menos chega a interessar-se pelos coadjuvantes que orbitam o cotidiano modorrento do homem da lei, numa terra achatada pelos indícios do progresso europeu. A entrada em cena de Luciana Piñares de Luenga (Lola Dueñas) ameaça adicionar uma virada importante, mas até isso logo se desfaz.
O ritmo indigesto de Zama, antes mesmo de um reflexo da sensação do protagonista, é fruto do roteiro lacunar, da falta de disposição de Lucrecia Martel em fazer um registo mais direto. Se em outras realizações, como O Pântano (2001) e A Menina Santa (2004), a cineasta conseguiu um fino equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui a primeira instância sobressai, vide a qualidade fotográfica e sonora, sufocando a segunda inapelavelmente. Don Diego é um tipo pouco representativo do poder colonial, tampouco simbólico dos processos burocráticos inerentes às civilizações europeias e, portanto, estranhos aos nativos latino-americanos. Testemunhamo-lo interagindo entorpecido de desilusão com o meio, sem algo que justifique ou amplifique sobremaneira essa angústia de permanecer. É somente próximo do fim que o cenário muda, com Don Diego aceitando fazer parte do grupo de caça a um malfeitor famigerado da região.
Matheus Nachtergaele interpreta aquele que contrapõe o protagonista. Sua entrada em cena melhora Zama substancialmente, pois, a partir da conjuntura de sua atuação no bando, outros elementos são colocados em jogo. Em meio a planos fixos, movimentações parcimoniosas de câmera, uma contemplação que, muitas vezes, extrapola o aceitável, o longa-metragem transcorre impávido, correndo o sério risco de perder rapidamente a adesão do espectador. Ao prescindir de quaisquer discussões mais profundas, ao relegar escravos e índios à coadjuvância absoluta – poucos têm, sequer, alguma fala – Lucrecia Martel se concentra na experiência de Don Diego, tentando externar seu estado de espírito, para isso de valendo de uma construção cinematográfica rica, no que tange aos sentidos, mas essencialmente frágil na tentativa de estabelecer empatia ou de trazer à tona as vicissitudes de um personagem constantemente esvaziado pela maneira como é apresentado na tela, deliberadamente sem tônus ou emoção.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Bianca Zasso | 9 |
Wallace Andrioli | 6 |
MÉDIA | 6.8 |
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