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Sinopse

Zé foi um dos líderes do movimento estudantil contrário à ditadura civil-militar brasileira. Um jovem idealista repleto de sonhos que foi assassinado pelos militares aos 27 anos de idade.

Crítica

Mergulhar no universo particular das cinebiografias é sempre tarefa árdua, mais ainda quando a proposta do realizador é lançar o espectador a um mar sem troncos para se segurar na correnteza. Sem muitos esclarecimentos iniciais, conjectura instantes da vida de José Carlos Novaes da Mata Machado, universitário mineiro morto aos 27 anos, em 1973, pela Ditadura Militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Ex-dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), o biografado é encarnado por Caio Horowicz, empenhado ator que, aqui, não parece encontrar espaços para manifestar seus atributos.

Em sua incursão mais ousada, Rafael Conde, diretor de apenas dois longas, Samba Canção (2002) e Fronteira (2008), opta pela cinebiografia da fragmentação. Ou seja, pinça momentos cruciais da trajetória de José Carlos e busca equilibrá-los na construção narrativa, priorizando a vida política do personagem e ignorando sua infância. Na trama, o núcleo mais imponente se fixa na decisão do protagonista em continuar sua luta na clandestinidade, vivendo uma vida de privações, fugas e poucos recursos, ou engendrar resistência intelectual fora do Brasil, como exilado. Embora seja o responsável pelo caminho que escolheu seguir, precisa pesar o fato de que não sabe quando verá novamente a esposa e companheira de AP, Maria Madalena Prata (Eduarda Fernandes), os pais e mesmo os dois filhos pequenos.

Entretanto, é justamente aí que provavelmente se instalam as primeiras adversidades. Ao excluir a possibilidade de relatar a - ainda que breve - vida inteira de Zé, são fartas as sequências que não agregam na contação da história. Com mais de duas horas, a sensação diante do que o filme, desde os primeiros momentos, expõe, é de se estar em uma espécie de sanfona, cuja montagem progride em alguns momentos, para em seguida retornar ao eixo central. Nesse vai e volta, poucas deliberações transcorrem.

Quem mais perde é Caio que, mesmo abrigando bem seu personagem - revelando exame apurado do homem o qual está interpretando - não encontra espaço para o clímax. Este, aliás, existe, e pode ser detectado pelo espectador na discussão acalorada em que Zé relativiza a militância dos intelectuais, refletindo sobre quantos deles já precisaram "se virar com salário mínimo". No entanto, essa oportunidade de brilho maior fica para trás ao contar com um Caio menos intenso do que poderíamos contar. Ao menos, no desfecho, sua marca é deixada com grandiosidade.

Mesmo assim, a obra se vale da contextualização. Desde sempre, o cinema brasileiro tratou sobre os “anos de chumbo” e, agora, após o ressurgimento do autoritarismo na política nacional, há ainda mais motivos para descobrir novos "Zés" e passar a limpo seus choques com o poder. Porém, é sempre favorável ir direto ao ponto.

Filme visto durante a 17ª CineBH: Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (2023).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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