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Sinopse

Incumbido de localizar um perigoso dispositivo, um piloto é enviado a uma zona militar proibida. Auxiliado por um androide, ele precisa chegar ao artefato antes que o mesmo caia nas mãos erradas.

Crítica

Apesar do título genérico recebido no Brasil, esse Zona de Combate possibilita uma compreensão melhor a partir do batismo original, Outside the Wire – ou seja, além da cerca, longe do perímetro, ou algo do gênero. Pois é o que se passa com o protagonista, vivido pelo novato Damson Idris (visto no episódio Smithereens, o segundo da quinta temporada de Black Mirror, 2019), em sua primeira oportunidade de maior destaque, a partir do momento em que começa a atuar ao lado do oficial – e seu superior – Leo (Anthony Mackie, que tem se tornado cada vez mais frequente no catálogo da Netflix, após os longas IO: O Último da Terra, 2019, e À Queima Roupa, 2019, e das séries Altered Carbon (T02, 2020) e Black Mirror (Striking Vipers T05 E01, 2019). Era para ser apenas mais uma missão de rotina. No entanto, assim que os dois militares se afastam dos olhares e do controle daqueles ao redor deles e passam a agir por conta própria, a aposta é que nenhuma regra mais estará ali para ser respeitada. Uma diretriz que o filme até tenta seguir, mas sem muito sucesso.

Assim se dá porque o filme do diretor sueco Mikael Hafström (Rota de Fuga, 2013) está mais interessado no antagonismo entre os dois personagens principais do que nas motivações e interesses que os levaram até o momento em que agora se apresentam em conjunto. Harp (Idris) é um piloto de drone, um soldado que nunca esteve em um campo de batalha, tendo acompanhado os embates sempre a uma distância segura. Para ele, portanto, cada vítima dos ataques que ordena não são mais do que números e pontos luminosos em uma tela. Por isso, quando uma das suas ações resulta em fatalidades que poderiam ter sido evitadas, algo irá mudar na sua rotina. Mas veja bem: somente sofrerá as consequências dos seus atos porque estes resultaram em baixas entre os invasores (no caso, o exército norte-americano), uma vez que a empatia pelo invadido (e oprimido) é algo inexistente nesse tipo de discurso.

Retirado do ambiente com o qual estava acostumado, Harp é enviado para a linha de frente, e deverá atuar de acordo com os comandos de Leo. O que não esperava, no entanto, é que esse fosse quem, de fato, é. Isso porque a trama se passa em um ano não determinado no futuro, e o que logo se percebe é que nesse cenário a ideia é fazer uso ao máximo da tecnologia para colocá-la no centro do confronto, evitando, com isso, o desperdício humano. Mas como agir quando uma coisa se confunde com a outra? Ou seja, quando o homem é, também, a máquina? Pois é com isso que Harp se depara: Leo se mostra como mais um soldado para qualquer um que o veja de longe. No entanto, aqueles que dele se aproximam, terão que lidar com uma espantosa realidade: trata-se do primeiro de uma nova linha de ciborgues, supostamente a combinação do que de melhor os dois espectros tem a oferecer. Mesmo assim, é visto com desconfiança por aqueles que o conhecem por completo. E como Harp irá reagir a essa descoberta será determinante para o tom que a relação entre eles irá assumir.

A questão que envolve o contato de um com o outro é que Harp está ali como punição, e pretende cumprir o que lhe for proposto com a maior rapidez e eficiência possível para que, assim, possa voltar a ser designado ao seu lugar de origem. Leo, por sua vez, possui uma agenda própria, e necessita do outro para que ela possa ser executada tal qual o seu planejamento. E nela não está nada que indique uma “volta à normalidade”, como o seu colega espera. Muito pelo contrário, ele ambiciona alterar as estruturas e mostrar de uma vez por todas que, ao invés de exceção, pode bem ser a resposta para esses conflitos. Há no roteiro uma discussão interessante a respeito destes dois diferentes pontos de vista que, no entanto, nunca chega a ser aprofundada de acordo com o esperado – ou merecido. E, por isso, Zona de Combate perde muitos – e valiosos – pontos.

Não chega a ser ponto de debate perceber que o melhor em cena é Anthony Mackie, um ator que tem evoluído a cada novo trabalho, desde o tempo em que se aventurava em projetos de maior prestígio, como o oscarizado Guerra ao Terror (2008), passando pela imensa experiência adquirida durante suas intervenções no Universo Cinematográfico Marvel como o herói Falcão. Dessa vez, porém, ele é quase o antagonista, muitas vezes se mostrando confortável como um vilão em potencial cujas reais intenções só serão colocadas à prova no último instante. É por ele, portanto, que Zona de Combate acaba validando seus esforços, a despeito de um protagonista apático e de um diretor que parece não saber muito bem o que fazer com o tanto que lhe é oferecido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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