Crítica
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Sinopse
Um soldado norte-americano das Forças Especiais está sozinho na floresta das Filipinas, num território absolutamente hostil. Sem apoio em terra, ele conta apenas com a obstinação de um militar veterano que pilota um drone para extraí-lo dessa situação arriscada.
Crítica
O cinema norte-americano ainda utiliza muito a guerra como contexto. Há quem sustente a ideia de que um filme nesse cenário precise ser antibélico, portanto, avesso à existência da guerra – e de outros conflitos armados, como é o caso aqui. Dentro dessa perspectiva, uma obra como Zona de Risco, que existe para exaltar o heroísmo no front, não passa de uma maldisfarçada tática para excitar o imaginário das plateias por meio da gramática militar. O protagonista é Kinney (Liam Hemsworth), chamado em boa parte da trama pelo codinome Playboy. Apresentado como sujeito inexperiente no campo de batalha, o especialista em comunicações tem tudo para ser um fardo aos companheiros tarimbados. De comportamento meio perdido, quase beirando a inocência em alguns momentos (sintoma do nervosismo), Playboy imediatamente perde os traços de hesitação quando a missão de extração de um refém norte-americano nas Filipinas dá errado. A partir daí, passa a ter como único parceiro o capitão Reaper (Russell Crowe), controlador remoto da missão e piloto de drone. Portanto, a curva dramática do personagem prevê que rapidamente ele se adapte às adversidades e vire uma máquina de sobrevivência, exibindo muito mais perícia do que o diretor William Eubank nos mostrava num primeiro momento. Trata-se de mais um elogio aos esforços dos soldados (estadunidenses) persistentes.
Num filme como Zona de Risco, incapaz de minimamente pensar a guerra fora da lógica da aventura de sobrevivência, não é de se estranhar que a ação se passe num país asiático, assim reforçando o imaginário do norte-americano médio sobre perigos estrangeiros. Curiosamente, os Estados Unidos, a nação mais beligerante do mundo, luta sempre longe de seus domínios, como se os problemas do mundo nunca chegassem efetivamente à América do Norte – e quando chegam, como no 11 de setembro de 2001, passam a ser enxergados com assombro. O longa-metragem dirigido por William Eubank perpetua a ideia dos não estadunidenses, neste caso os filipinos, como bárbaros que vivem de modo selvagem na floresta. Apenas em um momento o inimigo confronta o soldado alçado ao heroísmo sobre os efeitos de matar. Ele diz algo do tipo: “diferentemente do que acontece com você, para mim matar traz consequências, esse ato me modifica profundamente”. Trata-se da exceção que confirma a regra desse manejo ideológico. É um fio de esperança solto no discurso de guerra que o filme defende por baixo da ideia de uma jornada de manutenção da vida. No entanto, essa fala forte não tem qualquer continuidade, ou seja, se torna um enunciado sem muita importância. Até porque estamos diante da inequívoca construção do heroísmo tipicamente norte-americano, inclusive com seus rebeldes inofensivos.
Reaper é o representante dessa rebeldia que poria em xeque a autoridade militar. Porém, essa força contestadora é mecânica e superficial, pois não existe para colocar em crise as regras ou mesmo o modo operandi do exército, mas para brigar pela excelência de sua atuação. É mais ou menos o que Maverick faz em Top Gun: Ases Indomáveis (1986), só que na aeronáutica. O personagem de Tom Cruise dá respostas atravessadas aos superiores e questiona a hierarquia porque acredita que sua unidade pode ser mais eficiente, não porque tem dúvidas acerca do discurso bélico dos Estados Unidos ou algo que o valha. Em Zona de Risco, o personagem de Russell Crowe é a voz resistente que briga até com seus superiores porque não percebe nos colegas um comprometimento semelhante ao seu. Além disso, o filme perde a oportunidade de estudar um pouco melhor a gamificação das guerras contemporâneas, uma vez que existe um abismo entre o soldado efetivamente correndo risco nas florestas asiáticas e esse capitão que fica controlando drones à distância, monitorando vídeos e indicando ao colega em campo o que ele deve fazer com base nas imagens de satélite. A utilização dos mecanismos e das dinâmicas de jogos na realidade está presente nessa interação, mas nunca é investigada como fenômeno. Ao realizador interessa a valorização dos louváveis esforços militares para construir o heroísmo.
Playboy fica encurralado quando o helicóptero de resgate é impedido por combatentes inimigos carregando bazucas. A partir disso, Zona de Risco vira uma longa/monótona repetição de chavões estéticos, narrativos e discursivos desse tipo de longa comprometido com o ideal da sobrevivência num ambiente hostil. Ao longo da trama, a hesitação de Playboy é transformada em expertise, talvez por força milagrosa da adrenalina. Do mesmo modo, a natureza obsessiva e meticulosa de Reaper simplesmente desaparece para dar lugar à preocupação com o soldado em campo a quem começa a demonstrar camaradagem. Não há um momento sequer em que a batalha seja encarada como uma circunstância nefasta, independentemente dos interesses que a movem. Subliminarmente reforçando o discurso de que os fins justificam os meios, a produção compreende a brutalidade dos soldados norte-americanos como uma força legitimada pela boa intenção do resgate de alguém que sofre longe de casa. Completando a fatura, cenas de ação genéricas, muitas delas feitas de emaranhados de imagens pouco nítidas que tentam (em vão) simular a desorientação dos combatentes enquanto inimigos atiram impiedosamente. Liam Hemsworth se esforça para ser um galã-sobrevivente enquanto o talento de Russell Crowe é novamente desperdiçado com um papel muito aquém das suas grandes capacidades dramáticas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Celso Sabadin | 4 |
Alysson Oliveira | 3 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 3.8 |
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