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Sinopse

Um chefe militar é incumbido da missão de procurar armas de destruição em massa no Iraque em 2003.

Crítica

Logo após realizar A Supremacia Bourne (2004), segundo episódio da saga Bourne, o diretor Paul Greengrass apresentou para os diretores da Universal a ideia de fazer um filme que reunisse os dois grandes temas em discussão na época: os atentados de 11 de setembro de 2001 e a Guerra no Iraque. Ele não sabia, no entanto, de duas coisas: que Supremacia seria um sucesso ainda maior que o longa original (A Identidade Bourne, 2002), obrigando-o a voltar para um terceiro segmento antes do previsto (O Ultimato Bourne, lançado em 2007) e que sua proposta de filme intermediário seria dividido em dois projetos. O primeiro, Vôo United 93 (2006), lhe rendeu, ao menos até esse momento, sua única indicação ao Oscar de Melhor Direção e tinha como foco os ataques ao World Trade Center em Nova York. O segundo veio anos depois, se chama Zona Verde, e se passa inteiramente no Oriente Médio. Infelizmente, foi o único destes quatro longas que fracassou terrivelmente, tanto quanto à crítica quanto, principalmente, junto ao público.

É um trabalho um tanto ingrato tentar entender os porquês da má recepção que Zona Verde teve. Principalmente porque à uma primeira vista, só nos saltam qualidades aos olhos. Matt Damon se reuniu à Greengrass pela terceira vez (após os dois últimos Bourne) e entrega mais uma interpretação visceral. A reconstituição de época – o filme se passa em 2003, quando os americanos foram mandados ao Iraque para descobrirem as armas de destruição em massa, tarefa que logo se revelou inútil, pois as mesmas simplesmente não existiam – é bastante detalhista. E a direção nervosa do cineasta oferece toda a tensão e o dinamismo que a obra exige. Do que não gostar? Do tema, obviamente. Afinal, são americanos admitindo que estavam errados. E ninguém gosta de reconhecer os próprios erros, ainda mais um povo que é internacionalmente reconhecido por seu orgulho. Como comprovação desta tese, basta olhar para todas as outras produções que dividem a mesma temática – O Reino (2007), Leões e Cordeiros (2007), O Suspeito (2007), Rede de Mentiras (2008) – e constatar que nenhum escapou do mesmo destino: desprezo.

Baseado em fatos reais, Damon aparece como o capitão Miller, que após a quarta ou quinta busca frustrada pelas tais armas começa a desconfiar de que algo esteja errado. Duas forças estão em jogo, a CIA (representada pelo agente interpretado por Brendan Gleeson, de Albert Nobbs, 2011) e o próprio governo americano (aqui na figura do burocrata vivido por Greg Kinnear, de Não Sei Como Ela Consegue, 2011). Os primeiros possuem a mesma desconfiança, enquanto que os segundos tentam a todo custo justificar a presença de todos em pleno deserto. Entre eles aparece uma verdadeira conspiração envolvendo um ex-general de Saddam que deseja retomar o poder e uma jornalista americana (Amy Ryan, de Ganhar ou Ganhar, 2011) disposta a tudo por uma boa matéria – seja ela verídica ou não. São tantos interesses em jogo que fica difícil identificar de imediato quem está atrás de que, e quais os reais objetivos de cada um em suas jornadas. Com exceção do protagonista, que assume uma postura mais próxima do público, mostrando o quão tolos foram todos os que simplesmente acreditaram no que era divulgado, sem nunca questionar nada.

Os principais defeitos apontados em Zona Verde dizem respeito ao roteiro escrito por Brian Helgeland (vencedor do Oscar por Los Angeles: Cidade Proibida, 1997) e a falta de profundidade dos personagens. Bem, quanto ao primeiro ponto, é fácil constatar que talvez um pouco menos de ambição tivesse feito bem ao projeto, que tenta abraçar muitos assuntos sem se aprofundar realmente em nenhum ponto específico. Já quanto ao elenco a discussão é nula, pois todos parecem bastante comprometidos e o que é prometido é entregue à contento. A questão é que são muitos – coadjuvantes, amadores, militares (que aparecem interpretando a si mesmos) – e diversos focos de ação, que terminam por dispersar a atenção da audiência. O herói está perdido e custa a entender o que de fato acontece ao seu redor. Já os demais possuem mais intenções escusas do que vontades declaradas. Leva-se muito tempo para termos indícios de quem é ou não de confiança, e nessa demora quem mais sofre é o próprio filme.

O problema maior, no entanto, foi a falta de coragem, tanto de Greengrass quanto de Damon – e da Universal, principalmente – de assumirem o filme tal qual ele é. Vendido como se fosse apenas mais um da série Bourne, ele perdeu sua força de denúncia e coragem que reúne. Jason Bourne, o agente secreto desmemoriado que Matt Damon tão bem encarnou na primeira trilogia, é uma criação ficcional e como tal seus feitos devem ser vistos e admirados. Aqui a questão é outra, diferente e muito mais realística. Este não é só mais um filme de ação. É, também, uma importante obra política, de posições claras e que toca em questões muito delicadas e pertinentes. Agora, uma vez que seus próprios realizadores não o assumiram, como o espectador iria fazer isso? Como resultado temos um fracasso retumbante nas bilheterias, onde foi arrecadado um terço do orçamento original (em torno dos US$ 100 milhões). E, acima de tudo, o desperdício de uma importante oportunidade que se perdeu sem que nenhum dos seus objetivos tenham sido alcançados – nem como debate, muito menos como entretenimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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