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Crítica


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Sinopse

Derek Zoolander e Hansel estavam afastados do mundo da moda, mas retornam à ativa quando celebridades (as mais lindas do mundo) começam a ser assassinadas em série.

Crítica

Quando surgiu em Zoolander (2001), há exatos quinze anos, o modelo Derek Zoolander nada mais era do que um perfeito estereótipo do galã de passarela, aquele profissional cuja beleza deve sempre falar mais alto e cuja presença é disputadíssima – desde que se mantenha de boca fechada. Todos os problemas que enfrenta no longa original, aliás, se dão justamente por causa das bobagens e tiradas ridículas que vez por outra acaba proferindo, na maior parte das vezes sem a menor noção. Culmina para a sua visão ácida deste universo o fato de ter sido criado, dirigido e interpretado por Ben Stiller, um homem dono de um charme próprio, porém longe da beleza clichê masculina. Pois bem, eis que mais de uma década se passou e o mesmo tipo volta novamente às telas, pelas mesmas mãos dos responsáveis por sua origem, em Zoolander 2. A boa notícia? Que, assim como a grande maioria dos astros e estrelas de Hollywood, a impressão que temos ao reencontrá-lo é de não ter passado um dia sequer desde a sua despedida.

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Assim como na vida real, Zoolander esteve exilado durante todo esse tempo também na ficção – uma sacada inteligente de Stiller e de seus colegas roteiristas (Justin Theroux, John Hamburg e Nicholas Stoller) que ajuda a explicar sua inaptidão ao lidar com as modernidades tecnológicas de hoje. Celulares e redes sociais são elementos que ele mal entende como funcionam, acreditando que aquilo lhe garantiu fama e fortuna – um olhar matador e um estilo único – seguiria sendo suficiente. Mas não, pelo contrário. Derek agora é um pária, e toda a popularidade que um dia desfrutou não mais existe. E lá ele permaneceria, esquecido em uma cabana muito bem aquecida nos alpes do Himalaia, até – veja só! – Billy Zane em pessoa tocar em sua porta com um convite irrecusável: voltar a desfilar para o lançamento da nova coleção de Alexanya Atoz (uma impagável Kristen Wiig, fazendo às vezes de Donatella Versace). Paralelamente, o também ex-modelo Hansel (Owen Wilson, ainda mais confortável neste retorno) recebe o mesmo convite. E pronto: os dois estão de volta sob os holofotes.

Mas nem tudo é tão simples quanto poderiam imaginar. Afinal, os dois pouco imaginam que existem motivos secretos para voltarem à cena. Enquanto a agente da Interpol especialista em crimes de moda Valentina Valencia (Penélope Cruz, mais linda do que nunca) investiga os misteriosos assassinatos de ícones pop como Justin Bieber, Madonna e Bruce Springsteen, chegando a conclusão de que apenas Zoolander poderia ajudá-la a descobrir as motivações por trás destas mortes, há ainda o plano do seu antigo arqui-inimigo, Mugatu (Will Ferrell, no pleno domínio do personagem), que deseja escapar da prisão de segurança máxima onde se encontra encarcerado e ocupar novamente o posto máximo do mundo fashion. Por fim, a peça que parece faltar neste intrincado – porém absurdo – quebra-cabeça é a presença do filho de Zoolander, o jovem Derek Jr. (Cyrus Arnold), que tanto pode ser o elo sagrado de uma antiga profecia como a garantia de um legado para o próprio pai.

Stiller e seus parceiros parecem ter se esforçado para criar uma história válida que justificasse o regresso de Zoolander. No entanto, é pouco provável que alguém na audiência fique ligado em cada pormenor do desenrolar da ação, muito provavelmente porque nem tudo faça, de fato, sentido. O humor perseguido pelos realizadores trafega nos limites do improvável, contando muito com a contrapartida do espectador para compreender as inúmeras referências que são jogadas na tela com impressionante agilidade. Como, por exemplo, reconhecer Susan Sarandon recitando versos de canções do clássico camp The Rocky Horror Picture Show (1975), descobrir o que Jack Bauer (ou seria Kiefer Sutherland?) faz no meio de uma orgia ou tentar entender como nomes como Anna Wintour, Alexander Wang, Marc Jacobs, Tommy Hilfiger e Valentino Garavani conseguiram ser convencidos a darem suas caras à tapa em momentos ridículos – e absolutamente hilários!

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Menos Zoolander e muito mais seus companheiros, Zoolander 2 é promessa de diversão tanto para os fãs do personagem como até para o espectador mais desavisado que decidir apenas passar seu tempo esperando pela próxima celebridade em participação especial – Katy Perry, Kate Moss, John Malkovich, M. C. Hammer, Willie Nelson, Ariana Grande, Naomi Campbell, Joe Jonas, Susan Boyle, entre tantos outros, estão em cena como eles próprios. Cabe citar, no entanto, dois destaques: Sting, que desde Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) não tinha uma aparição como ator tão marcante – e repleto de ensinamentos transcendentais (15 horas!!!) – e Benedict Cumberbatch, que ao personificar o modelo pansexual All (o nome já diz tudo) responde sozinho por uma das melhores piadas de toda a produção. Enfim, Stiller está em casa, repleto de amigos e conhecidos tão ou mais famosos que ele, fazendo rir com sua graça habitual e sem deixar de proporcionar espaço para uma crítica subliminar, porém não menos inteligente. Pode parecer pouco, mas num cenário tão rarefeito quanto o atual, já tá de bom tamanho.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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