Laís Bodanzky, por Como Nossos Pais

Publicado por

Primeiro, preciso dizer: muito obrigada. Acompanhei desde o começo, quando divulgaram as indicações, e já tinha achado incrível todas as categorias em que o nosso filme havia sido selecionado. Mas, durante o processo de contagem dos votos, acabei me perdendo nas datas. Então, confesso que me pegou de surpresa o resultado. E foi uma delícia, óbvio. Sempre é muito gostoso o reconhecimento do nosso trabalho. Fazer cinema, e, principalmente, cinema autoral, é um grande prazer, mas também um grande risco. É sempre a experiência do novo. Nunca se sabe se vai funcionar, se vai se comunicar. Então, ter o reconhecimento da crítica do Brasil, fazendo uma avaliação geral dos filmes de 2017, com calma, é mesmo muito importante.
Quero, também, destacar duas coisas. Uma em relação especificamente ao Como Nossos Pais. Eu, como diretora, tenho sempre um cuidado e muito orgulho de todo o meu elenco. Isso é uma coisa que trago desde o início, lá da época que fazia curtas-metragens. E essa premiação colocou um holofote justamente na minha protagonista, na Maria Ribeiro, e na Clarisse Abujamra, que fizeram um trabalho sensacional. O reconhecimento delas me enche de orgulho. E aí, claro, essa dobradinha com o prêmio de Elenco, como um todo, que de fato foi um trabalho feito com muito detalhe e cuidado. Esse, aliás, é um prêmio que não existe por aí. Que bom que vocês reconhecem esse conjunto do trabalho dos atores. É como vocês falam no texto: tem todo um processo, não só da escolha, mas da interação deles, da preparação, a própria filmagem. É uma engrenagem inteira para ter um resultado. Não é só esse ou aquele nome. É o por quê deles, e um com o outro. Vocês dão importância a isso, algo que no Brasil não é valorizado. Tenho que agradecer a existência dessa categoria. É importante para o nosso cinema, para que o espectador comum compreenda a importância que é o conjunto inteiro, da escolha de um elenco, do trabalho de todos os atores. Não existe um ator isolado. Existe ele no conjunto.
Como diretora, fico muito feliz de ter o meu trabalho reconhecido nessa área que, pra mim, é tão importante. Sem desvalorizar as outras, é claro. Mas se você for ver, em todos os debates que participo, e nas minhas declarações, sempre digo que acho que um bom filme é reconhecido quando você tem bons atores. Um filme que tenha uma ótima fotografia, uma incrível direção de arte, mas não tem um elenco maravilhoso, não vai ser um grande filme. Já o contrário, pode até ser. Uma fotografia ok, uma arte normal, e um elenco sensacional, ele vai ser um filme acima da média. Na minha forma de ver cinema, o elenco é que carrega o filme, que convida o espectador a mergulhar num outro universo. Ele é capaz disso, tem esse imã. Por isso acho tão importante esse reconhecimento.
O prêmio de Melhor Filme, por outro lado, não tenho palavras para descrever o que isso significa, ainda mais em um ano que foi tão importante para o cinema brasileiro, repleto de excelentes longas. Mas o que gostei, e preciso falar, é que sou uma diretora mulher, este filme tem uma temática feminina, e feminista, e notei que os votantes, na sua maioria, são homens (risos). Achei isso curioso. E importante. É um passo para o diálogo, para nossa sociedade, começando na nossa própria indústria de cinema. Essa compreensão da temática, esse reconhecimento não ser só por parte das mulheres – até porque, de certa forma, ele foi muito reconhecido pelas mulheres, naturalmente reconhecido por elas, e não necessariamente pelos homens. E essa premiação revelou o contrário. E isso me chamou a atenção.
Gostei também muito do prêmio do Direção para a Eliane Caffé, pelo mesmo motivo, e porque amo o filme dela. Era o Hotel Cambridge é, realmente, o melhor filme da Lili. É sensacional, muito importante para a nossa cinematografia. Gostei muito dessa dobradinha com ela. Gostei muito do texto que vocês fizeram apontando para esse ano tão curioso, com tantos filmes sendo reconhecidos em ao menos uma categoria. Acho que mostra a diversidade do nosso cinema. A importância e o amadurecimento dele. Valeu, muito obrigado e um beijão a todos que participaram do Guarani. E parabéns pela insistência em manter essa premiação, pois ela tem que continuar!

Laís Bodanzky
Premiada 
como Melhor Filme por Como Nossos Pais
Histórico: premiada como Melhor Direção por Bicho de Sete Cabeças (2001), indicada a Melhor Direção por Chega de Saudade (2007), As Melhores Coisas do Mundo (2010) e Como Nossos Pais (2017), a Melhor Roteiro Original por Chega de Saudade (2007) e Como Nossos Pais (2017), e a Melhor Filme por Chega de Saudade (2007)