Nesta quarta-feira, 2 de dezembro, foi apresentado à imprensa o 1º Festival de Cinema Russo, que ocorre entre os dias 10 e 30 de dezembro. Evgenia Markova, CEO da empresa organizadora ROSKINO, esclareceu as ambições do projeto junto a Dilson Neto, coordenador de difusão da Spcine, empresa parceira do evento. Os títulos selecionados serão exibidos gratuitamente na plataforma online Spcine Play.
Dramas e animações
Um dos principais elementos valorizados pelos criadores diz respeito à diversidade de gêneros presentes na seleção. “Somos famosos mundialmente pelos filmes de guerra e pelos filmes de terror, mas queríamos mostrar gêneros diferentes daqueles mais difundidos até então”, explica Markova. De acordo com os números apresentados, o terror russo é o gênero mais popular no Brasil, a exemplo de A Sereia: Lago dos Mortos (2018), que chegou a 232 mil espectadores em nossas salas.
Por este motivo, os curadores valorizaram tanto as comédias populares (Vamos nos Divorciar) quanto os dramas selecionados nos festivais de Veneza (O Homem que Surpreendeu a Todos) e Roterdã (O Francês), além do suspense O Texto, responsável por uma das maiores bilheterias recentes no país.
“O cinema russo é muito rico”, confirma Neto. “Temos desde dramas até uma animação que inclusive já foi exibida no circuito Spcine este ano: O Reino Gelado: A Terra dos Espelhos (2018), segundo lugar do nosso ranking anual. Temos a possibilidade de mostrar a força do cinema russo recente, e pensar em novas parcerias com a produção deste país”.
Oito filmes, para começar
Por que restringir a seleção a oito filmes? Markova explica que os títulos partiram de uma lista maior de 30 obras pré-selecionadas por críticos de cinema do país. Estes, por sua vez, determinaram seus favoritos entre 166 produções russas entre os anos de 2017 e 2019. Para a CEO da ROSKINO, a seleção constitui uma porta de entrada para a produção russa contemporânea:
“Tínhamos que começar de alguma forma. Oito era um bom número para dar um pequeno gosto da cinematografia russa neste momento. O festival vai dizer muito sobre a tradição do país. Não temos como apresentar a cinematografia inteira, mas o evento permite uma compreensão básica da nossa produção, e para onde ela se encaminha no futuro”.
A Spcine também valoriza a lista restrita de títulos: “É bom que sejam oito filmes, não mais, não menos”, ressalta Neto. “Se tiverem filmes demais, alguns deles passam batidos. Festivais que se concentram num número definido de títulos têm mais visualizações. Quando são títulos demais, alguns ficam perdidos. Na nossa estante da Spcine Play, cabem exatamente oito filmes numa mesma tela. As pessoas vão selecionar sem ficarem perdidas entre várias opções”.
Afinidades com o Brasil
Segundo Markova, a Rússia vem aprofundando os laços culturais com nosso país nos últimos dez anos. Ela ressalta a abertura das escolas Tchaikovski e Bolshoi no Brasil – esta última, servindo de motor para a seleção do drama Bolshoi entre a seleção. Além disso, Moscou abriga um centro de cultura brasileira desde 2013, em paralelo a um festival anual de cinema brasileiro.
“Espero que em 2021 e 2022 possamos trazer esses conteúdos para vocês presencialmente”, ela ressalta, esclarecendo as intenções de expandir a iniciativa em novas edições. Realizado também na Austrália, México e Espanha nos dois últimos meses de 2020, o festival não nega a intenção de aumentar o interesse dos brasileiros pelas belas paisagens russas. Após exibir um vídeo institucional do Ministério do Turismo, Markova explica: “Qualquer festival é um convite ao país”.
Cinema com financiamento público
A representante da ROSKINO elogia o governo russo pelos investimentos no cinema local. “Temos fundos cinematográficos anuais para as produções. Isso começou em 2012. Como se lembram, havia uma grande tradição do cinema soviético até 1990, e depois houve uma lacuna. Só conseguimos retomar as atividades por volta de 2013, 2014. Desde então, o desenvolvimento da indústria tem sido muito rápido. Em 2017 e 2018, os filmes começaram a entrar no mercado internacional”.
Ela explica o funcionamento dos incentivos estatais. “Parte desses fundos precisa ser devolvida, mas a outra parte não exige retorno. Também existe um projeto no Ministério da Cultura para filmes infantis, curtas-metragens etc. Recentemente, foi criado um programa voltado às coproduções, algo que tem funcionado muito bem. Somos nós que apoiamos as coproduções ao mostrá-las ao mercado internacional. Também existem programas de apoio à dublagem e legendagem, com subsídio do governo. Há um apoio extenso há vários anos”.
Mulheres russas no audiovisual
Outro foco da coletiva de imprensa disse respeito ao protagonismo feminino e à quantidade de títulos dirigidos por mulheres. De acordo com a representante russa, esta não é uma novidade. “A ROSKINO existe há quase 100 anos. Estudamos os arquivos e descobrimos que durante a União Soviética havia quase 160 mulheres dirigindo. Essa tradição vem de longe: elas dirigiram muitos filmes entre as dez maiores bilheterias do ano”.
“Na Rússia contemporânea, essa tradição vai além”, completa. “Temos muitas diretoras, e especialmente, muitas produtoras. Elas são bastante ativas no audiovisual russo. Se me perguntar o que definem os filmes dirigidos por mulheres, eu diria que eles talvez sejam mais sinceros, e tenham um ponto de vista mais franco sobre temas da atualidade. Também fizemos projetos educacionais para produção e roteiro, e o prêmio foi entregue a sete mulheres”.
Você descobre toda a seleção de filmes e os horários de exibição no site da Spcine Play, além das redes sociais do Russian Film Festival.
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