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Antônio Pitanga é mais conhecido pela grande carreira de ator, mas o veterano do Cinema Novo dirigiu Na Boca do Mundo em 1978, e tem planos para continuar a trajetória como cineasta. A premissa de seu novo filme, com filmagem prevista para este ano, data da amizade com Glauber Rocha, muitas décadas atrás. Durante a passagem pela 23ª Mostra de Tiradentes, onde foi homenageado ao lado da filha Camila Pitanga, ele explicou:

“O projeto nasce desse grupo do Cinema Novo, já na despedida do Glauber, quando nos deixou. Ele tinha o projeto com os baianos que saíram para viver no Rio e São Paulo, na intenção de que voltassem a viver em Salvador, na Bahia. Quando nós saímos, esse espaço foi ocupado pela música, foi lindo. Nessa volta dos baianos, Malês seria produzido. Se a cultura fosse um projeto de governo, já teríamos contado essa história, que seria distribuída de graça em todas as universidades e escolas, além das praças públicas”.

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Antônio Pitanga. Foto: Netun Lima / Universo Produção

 

Sobre a produção, ele precisa: “Vou filmar esse ano. A Camila é uma das atrizes, junto de Seu Jorge, Lázaro Ramos, João Miguel, Patrícia Pillar, Rocco Pitanga e Taís Araújo. Sinto a necessidade de contar essa história. As dificuldades apareceram. Eu poderia ter feito esse filme dez anos atrás, mas continuo tentando, e esse ano nós provavelmente já tenhamos mais de 50% do orçamento ganho em festivais e empresas. Acredito que, a partir de julho ou agosto, eu já esteja filmando no Recôncavo Baiano. Espero que depois desse filme eu não pare mais”.

Em que consiste, exatamente, esta revolta popular? Pitanga explicou ao grupo de jornalistas, majoritariamente jovens, durante a coletiva de imprensa: “Este é o mais importante levante popular ocorrido no país, já na chegada de Dom João VI. Ele chega em 1808, e em 1811 acontece o levante. Em 1835 tem esse projeto que não visava matar brancos, e sim constituía uma estratégia de guerra. Nós perdemos a guerra como Napoleão perdeu – havia uma estratégia. Contar a história de negros que tinham uma sabedoria da engenharia, da culinária, da música, da dança, da física e da matemática, é fundamental”.

“Mais de 60% da população da Bahia era negra e estava no Recôncavo Baiano”, continua. “O Recôncavo alimentava a mesa dos grandes senhores de engenho. De lá vinha a cana, as batatas, as frutas. Eles foram capazes de construir um levante, fazendo uma parceria inédita com os negros do candomblé, os negros do catolicismo, e com os ingleses no Corredor da Vitória. Constrói-se uma mesquita no Corredor da Vitória. São pessoas que tinham uma visão política, social e cultural importantíssima. Esse era o Brasil desatando o nó dos colonizadores. Por isso eu quero contar essa história que não envelhece. Quero fazer filmes com os quais eu possa contribuir coletivamente. O cinema tem essa grande oportunidade”.

Camila Pitanga acrescenta, a respeito de sua participação enquanto atriz: “A história oficial é a história dos negros vitimados, e não dos negros insurgentes. Eles tinham sabedoria, luta. Malês é emblemático porque fala de grito, de desobediência, de não ficar apaziguado nesse lugar que a sociedade quer colocá-lo. Esse filme precisa sair para ontem, essa história precisa ser contada para ontem. Eu jamais ouvi essa história na minha escola. Acredito que boa parte das pessoas não saiba dos tantos movimentos insurgentes que aconteceram no Brasil. Malês foi essencial, mas foi apenas um dos movimentos, formados tanto por homens quanto mulheres. Essas histórias iluminam a todos, pretos e brancos. Quando a gente se vê como um todo, compreendendo a força de resistência e luta dessa sociedade, isso alimenta o Brasil. Não é uma história só para pretos, é uma história para o Brasil”.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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