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23ª Mostra de Tiradentes :: O surpreendente Mascarados representa o melhor da Mostra Aurora

Publicado por
Bruno Carmelo

A noite de 30 de janeiro trouxe um dos favoritos ao prêmio principal da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Após alguns filmes controversos por motivos políticos (Cadê Edson?), éticos (Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu) ou narrativos (Canto dos Ossos), o drama goiano Mascarados (2020), dirigido por Henrique Borela e Marcela Borela, trouxe o nível de sofisticação estética e política esperada de um vencedor do festival.

O filme aborda a vida de trabalhadores braçais de uma pedreira, explorados pelo patrão enquanto sonham com uma festa popular, onde poderão se divertir mascarados. No entanto, novas leis proíbem os habitantes de saírem nas ruas com objetos que cubram o rosto. De maneira sucinta, o drama explora a condição destes personagens e suas possibilidades de revolta, entre a poesia e a denúncia social. Leia a nossa crítica. Resta saber se o júri oficial de Tiradentes vai apostar nesta obra um pouco mais linear, de porte considerável de produção, ao invés de filmes mais “caseiros” ou experimentais.

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Equipe de Mascarados no palco do Cine-Tenda. Foto: Jackson Romanelli / Universo Produção

 

Na mesma noite, a Mostra Aurora trouxe outra representação da desigualdade social, desta vez inspirada em textos clássicos de Brecht e Benjamin. Pão e Gente (2020), dirigido por Renan Rovida, aposta numa narrativa alegórica sobre um padeiro explorador de mão de obra, misturando séculos de opressão enquanto transpõe a história alemã de “A Padaria”, de Brecht, aos bairros populares de São Paulo.

O resultado agradou ao público, que respondeu favoravelmente à metáfora teatral, embora soe um tanto desconectado da miséria contemporânea ao discutir a fome sem jamais mostrá-la em cena, através de imagens de fotografia pouco elaborada. Leia a nossa crítica.

O dia 31 traz os últimos representantes da Mostra Aurora antes da cerimônia de entrega de prêmios: a ficção cearense Cabeça de Nêgo (2020), dirigida por Déo Cardoso, e a ficção mineira Natureza Morta (2019), de Clarissa Ramalho. Em paralelo, a Mostra Olhos Livres se encerra com a projeção do documentário mineiro Yãmiyhex: As Mulheres-Espírito (2020), dirigido por Sueli Maxakali e Isael Maxakali.

 

Pão e Gente
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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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