Surpreendendo a todos, o documentário pernambucano Casa, de Letícia Simões, foi o grande vencedor do 26oFestival de Cinema de Vitória. O filme, o último a ter sido exibido na mostra competitiva de longas-metragens nacionais, superou outros fortes concorrentes, como o cearense Pacarrete, de Allan Deberton, que ganhou apenas como Melhor Interpretação, para Marcélia Cartaxo, e o paraibano O Seu Amor de Volta, de Bertrand Lira, que foi o mais premiado deste ano, vencendo como Direção, Roteiro, Interpretação (Cartaxo está em ambos os filmes) e Menção Honrosa (para o ator Willian Muniz). O gaúcho Mirante, de Rodrigo John, levou o prêmio especial de Contribuição Artística, enquanto que o paranaense Alice Júnior, de Gil Maroni, e o paulista Selvagem, de Diego da Costa, foram os únicos a ficar de mãos abanando.
As escolhas do júri formado pelo crítico de cinema André Dib, pela produtora Irina Neves e pela realizadora Sabrina Fidalgo foram, no mínimo, questionáveis. Pacarrete foi o grande vencedor do Festival de Gramado deste ano, tendo se consagrado na Serra Gaúcha com nada menos do que 8 kikitos, e era esperado que o mesmo se repetisse no evento capixaba, não por uma simples lógica de resultados, mas por apresentar uma qualidade indiscutivelmente superior aos demais concorrentes. Por outro lado, o docudrama O Seu Amor de Volta, por mais bem intencionado que seja – e feliz em muitas das suas soluções – estava longe de merecer o posto de mais premiado desta edição. Sentiu-se falta, também de um prêmio de júri popular para os longas, troféu que se houvesse deveria ter ido tranquilamente para Alice Júnior, o mais aplaudido pelo público em sua exibição. Trabalho de fôlego, poderia ter conquistado outros prêmios, como Roteiro e Menção Honrosa, por exemplo. O inventivo Mirante, por outro lado, era o candidato natural ao prêmio de Direção, e ao negarem a Rodrigo John esse reconhecimento o festival desperdiçou a oportunidade de fazer justiça a esse belo trabalho.
Na mostra nacional de curtas, o escolhido como melhor do ano foi Negrum3, de Diego Paulino, que levou também o troféu de Direção. Com vários filmes na seleção que já haviam sido exibidos em outros eventos similares, foi quase impossível evitar uma sensação de déja vù. Negrum3 mesmo, por exemplo, foi premiado antes na Mostra de Cinema de Tiradentes, entre tantos outros. Sangro, escolhido como Melhor Filme pelo Júri Popular, fora um dos vencedores do último Festival de Gramado, enquanto que O Órfão, que ganhou o Troféu Vitória de Melhor Interpretação (Kauan Alvarenga), chegou até a ser indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Guaxuma, dono do Prêmio Especial do Júri, foi o grande vencedor também no Festival de Gramado, mas de 2018! O júri formado pela crítica Kênia Freitas, pelo diretor de fotografia Rafael Malta e pela pesquisadora Samantha Brasil talvez pudesse ter sido mais original, optando por títulos que ainda merecem ser descobertos, como o capixaba Os Mais Amados, de Rodrigo de Oliveira, ou o pernambucano Tempestade, de Fellipe Fernandes.
O 26o Festival de Cinema de Vitória apresentou ainda outras dez mostras paralelas. Confira a seguir a relação completa com todos os vencedores deste ano:
MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS
Filme: Casa, de Letícia Simões
Direção: Bertrand Lira, por O Seu Amor de Volta
Interpretação: Marcélia Cartaxo, por Pacarrete e O Seu Amor de Volta
Roteiro: Bertrand Lira, por O Seu Amor de Volta
Contribuição Artística: Mirante, de Rodrigo John
Menção Honrosa: Willian Muniz, ator de O Seu Amor de Volta
MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE CURTAS
Filme: Negrum3, de Diego Paulino
Júri Popular: Sangro, de Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto BR
Direção: Diego Paulino, por Negrum3
Interpretação: Kauan Alvarenga, por O Órfão
Roteiro: Willian Alves e Zefel Coff, por A Praga do Cinema Brasileiro
Contribuição Artística: Quando Elas Cantam, de Maria Fachin
Prêmio Especial do Júri: Guaxuma, de Nara Normande
FESTIVALZINHO DE CINEMA DE VITÓRIA
Júri Popular: Arani Tempo Furioso, de Robert Chay Domingues da Rocha
MOSTRA DO OUTRO LADO
Filme: Caranguejo Rei, de Enock Carvalho e Matheus Farias
Menção Honrosa: Carne Infinita, de Isadora Cavalcanti
MOSTRA NACIONAL DE CINEMA AMBIENTAL
Filme: Ka’a zar ukyze wà – Os Donos da Floresta em Perigo, de Flay Guajajara, Edvan dos Santos Guajajara e Erivan Bone Guajajara
MOSTRA NACIONAL DE VIDEOCLIPES
Filme: Pedrinho (Tulipa Ruiz), de Fábio Lamounier, Pedro Henrique França e Rodrigo Ladeira
Menção Honrosa: Ok Ok Ok (Gilberto Gil), de Victor Hugo Fiuza
MOSTRA MULHERES NO CINEMA
Filme: Deus Te Dê Boa Sorte, de Jacqueline Farias
Menção Honrosa: Afeto, de Gabriela Gaia Meirelles e Tainá Medina
MOSTRA CINEMA E NEGRITUDE
Filme: Sem Asas, de Renata Martins
Menção Honrosa: Motriz, de Tais Amordivino
MOSTRA OUTROS OLHARES
Filme: Do Outro Lado, de Bob Yang e Frederico Evaristo
Menção Honrosa: Kris Bronze, de Larry Machado
MOSTRA CORSÁRIA
Filme: A Profundidade de Areia, de Hugo Reis, e Plano Controle, de Juliana Antunes
MOSTRA FOCO CAPIXABA
Filme: Jardim Secreto, de Shay Peled
MOSTRA QUATRO ESTAÇÕES
Filme: Tea For Two, de Julia Katharine
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