29º Festival de Vitória :: Causa indígena se fez presente na segunda noite do evento

Publicado por
Victor Hugo Furtado

Não é um filme fácil“. Foi como a diretora Susanna Lira classificou, no início da segunda noite do 29º Festival de Vitória, nessa terça-feira, 20, seu próprio projeto. Acontece que a cineasta errou. Seu documentário, A Mãe de Todas as Lutas, que integra a 12ª Mostra Competitiva Nacional de Longas, recebeu muito carinho e obteve fácil aceitação dos presentes no Teatro Glória (Av. Jerônimo Monteiro, 428 – Centro). Além desse longa, que trata da preservação da cultura indígena e aborda reforma agrária, foram exibidos quatro curtas-metragens, com destaque para títulos já projetados em gigantes festivais europeus. Siga o fio e confira mais detalhes.

Os apresentadores da noite: Kelner Macêdo e Letícia Persiles. Foto: Thais Gobbo.

Após o primeiro dia de mostras paralelas, que contam com o 22º Festivalzinho de Cinema de Vitória (que apresentou o longa Pluft: O Fantasminha, 2022, e diversos outros curtas), a 9ª Mostra Outros Olhares e a 11ª Mostra Corsária, chegou o momento da 26ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas. Na esteira da interessante estreia do dia anterior, a sessão, que começou às 19h25, exibiu tramas que recorrem à poesia, mas com forte enraizamento da sociedade brasileira. O start foi dado com O Dendê do Mestre Didi, de Beth Formaggini, que comprime em cinco minutos áudios sobre as riquezas da cura física e espiritual das plantas. Já Infantaria, de Laís Santos Araújo, encerrou a noite com uma trama sombria, mas com pitadas de humor, sobre o amadurecimento feminino sob uma ótica militarizada, de classe baixa e com poucas redes de apoio. Mas, os melhores curtas da noite estavam entre ambas produções citadas.

Carlos Segundo, diretor de Sideral. Foto: Thais Gobbo.

Recebendo forte aceitação do público, Manhã de Domingo foi enfático ao apresentar uma moça talentosa, com ouvido absoluto (capacidade que alguns seres humanos possuem de identificar a nota musical exata de qualquer som), que mistura sua arte com as dificuldades de desempenhá-la no Brasil. Dirigido por Bruno Ribeiro, o filme foi exibido no Festival de Berlim deste ano. Também desembarcado da Europa, Sideral, de Carlos Segundo, foi o destaque da categoria. Na trama selecionada para o Festival de Cannes 2022 uma mãe exausta recorre a um pedido de socorro mais do que curioso. Em fuga dos afazeres domésticos penosos, da forma mais improvável, deixa seu marido com o trabalho do qual ele sempre recuou. As risadas rolaram soltas no teatro.

Foto: Thais Gobbo.

Por fim, A Mãe de Todas as Lutas, assistido pelo Papo na 17ª CineOP (2022), brilhou ao mesclar temas de desinteresse do atual governo brasileiro: reforma agrária e causa indígena. O enredo segue duas mulheres, Shirley Krenak e Maria Zelzuita, à frente da luta por terra no Brasil. A primeira carrega as tradições das Guerreiras Krenak, de Minas Gerais, a segunda é sobrevivente do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Mesmo dotado de um tom cru, expondo diversas violências sofridas pelas protagonistas e seus familiares/amigos, o filme atingiu em cheio o público. Sobre a exibição, Susanna ressaltou a importância da empreitada ter sido selecionada. “Mais do que estar aqui hoje, fiquei muito feliz também por ter um documentário na Mostra Competitiva Nacional de Longas“. Ela acrescentou: “Não se trata de uma ficção e traz temas difíceis, mas tenho certeza que debates serão propostos“.

Susanna Lira no palco do festival. Foto: Thais Gobbo.

Não custa ressaltar que o 29º Festival de Cinema de Vitória seguirá até o dia 24 de setembro. Toda a programação é gratuita. Durante a semana, serão realizadas mostras competitivas, debates com cineastas e atividades de formação, além de uma homenagem à trajetória da atriz Bete Mendes.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: victor@papodecinema.com.br