Estamos chegando na metade do 31º Cine Ceará: 3 dias da programação já se foram, faltam outros três. Dos seis longas da mostra competitiva, foram exibidos um brasileiro, um uruguaio e um equatoriano. Dos restantes, dois são do Brasil e um da Costa Rica. E as avaliações seguem a favor do time da casa, pois os representantes estrangeiros, ainda mais por serem oriundos de cinematografias pouco tradicionais, despertam mais estranheza do que curiosidade.
A seleção de 2021 foi aberta em alto estilo: Fortaleza Hotel (2021) é assinado por Armando Praça, cineasta local que há dois anos se consagrou aqui mesmo com os troféus de Melhor Filme e Direção (entre outros) para o drama Greta (2019). E se seu novo trabalho não alcança as mesmas altas notas do anterior, isso diz mais a respeito dos méritos daquele longa do que desse. Focado na relação de duas mulheres, uma cearense que deseja ir embora do país, e outra estrangeira recém-chegada por força do destino, o filme acerta na escolha de suas protagonistas e numa condução delicada, intimista, que sabe o que procura e não tem pressa em alcançar tais resultados. Talvez não seja uma obra para todos, mas certamente contará com fortes defensores. Já desponta aqui um candidato de respeito para a premiação desse ano.
Confira a crítica de Fortaleza Hotel, por Robledo Milani
![31º Cine Ceará :: Cinema brasileiro se destaca frente ao Uruguai e Equador 2 20211130 halder gomes marta aurelia papo de cinema](http://www.papodecinema.com.br/wp-content/uploads/2021/11/20211130-halder-gomes-marta-aurelia-papo-de-cinema-750x421.jpeg)
Os dois longas seguintes foram anunciados com credenciais que despertaram interesse. Bosco (2021), da uruguaia Alicia Cano Menoni, havia passado por festivais na Holanda, França, Espanha, Itália, Escócia, México, Áustria e Equador. Uma jornada impressionante. Na maioria desses lugares, no entanto, foi apenas selecionado, tendo deixado tais exibições sem maiores reconhecimentos. Não será de se espantar se o mesmo acontecer por aqui também. A narrativa, assumidamente pessoal, que investiga as origens familiares da realizadora a partir da história do avô, que deixou a Itália há mais de um século para tentar uma nova vida no outro lado do Atlântico, talvez alcançasse um resultado mais efetivo num formato econômico, como num curta-metragem. Como longa, a jornada percorrida se perde em divagações e desvios que pouco acrescentam ao conjunto.
Confira a crítica de Bosco, por Robledo Milani
Ainda assim, é uma proposta mais válida do que a de Vacío (2020), que vem do Equador para falar do drama de imigrantes chineses pela América Latina. Assumidamente novelesco, apresenta-se como uma mistura indigesta, formada por um elenco amador, uma estrutura de cena que pouco explora seus ambientes, uma direção de arte óbvia, desprovida de imaginação, e um enredo absurdamente óbvio, que aposta em reviravoltas previsíveis para justificar uma suposta ação que pouco consegue fazer no sentido de se envolver com a audiência. Chega a ser constrangedor por mais de um momento. Mesmo assim, antes de aportar por aqui foi exibido em eventos na Coréia do Sul, Japão, Argentina e Estados Unidos, além de ter sido escolhido como representante oficial do seu país na disputa pelo Oscar 2021. Dados que, num primeiro momento, impõem autoridade, mas não estão à altura do que se vê na tela.
Confira a crítica de Vacío, por Robledo Milani
Dos 12 curtas selecionados para a mostra competitiva brasileira (nesse certame, competem apenas títulos nacionais), cinco já foram exibidos. Destes, o documentário pessoal Foi um Tempo de Poesia (2021), de Petrus Cariry, e o drama Chão de Fábrica (2020), de Nina Kopko, se destacam. O primeiro pela excelência técnica que é marca registrada do realizador, que parte num resgate de suas próprias raízes para prestar uma singela homenagem ao poeta – e seu padrinho – Patativa do Assaré. Já o segundo conta com um elenco poderoso – são quatro atrizes, entre elas Helena Albergaria e Carol Duarte – para buscar um resgate quase apagado da luta sindical no Brasil: a participação das mulheres nesse movimento. Uma bela composição dramática, uma energia interessante entre as intérpretes e um desfecho agridoce fazem desse um discurso forte e necessário. Dos demais, O Durião Proibido (2021), de Txai Ferraz, chama atenção pela forma original e criativa que estabelece ao contar sua história, enquanto Encarnado (2021), de Otávio Almeida e Ana Clara Ribeiro, ganha pontos pelas fortes – e belas – imagens que ilustram uma trama desprovida de diálogos.
![31º Cine Ceará :: Cinema brasileiro se destaca frente ao Uruguai e Equador 3 20211130 cine ceara 2021 papo de cinema](http://www.papodecinema.com.br/wp-content/uploads/2021/11/20211130-cine-ceara-2021-papo-de-cinema-750x422.jpeg)
ESPECIAL :: Cobertura do 31º Cine Ceará, direto de Fortaleza, CE
Há três grandes festivais no Brasil com foco na produção dos nossos vizinhos de continente: Gramado, que aproveitou dessa proximidade quando lhe foi conveniente, nos anos 1990, mas que há muito relegou os convidados estrangeiros a uma mostra paralela e de pouco destaque, o Festival Latino-Americano de São Paulo, que é mais uma mostra de alcance limitado, e o Cine Ceará. A aposta em cinematografias pouco óbvias – Uruguai, Equador e Costa Rica, no caso desse ano – é salutar. Ao mesmo tempo, aumenta as distâncias entre eles e o que de melhor tem sido feito entre nós. A expectativa, portanto, é esperar para ver se essa promessa se mantém pelas próximas noites.
![avatar](/20230519-ac3054cf01cf0b94b197b48aad2037b3.png)
![avatar](/20230519-ac3054cf01cf0b94b197b48aad2037b3.png)
Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- Oscar 2025 :: Apostas para Melhor Direção - 11 de fevereiro de 2025
- Oscar 2025 :: Apostas para Melhor Figurino - 10 de fevereiro de 2025
- Oscar 2025 :: Apostas para Melhor Ator Coadjuvante - 7 de fevereiro de 2025
Deixe um comentário