A quinquagésima segunda edição do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, o mais antigo e tradicional evento cinematográfico do país, começou na noite da última sexta-feira, 21, com uma sessão marcada por homenagens – e muitos protestos! A programação, que teve apresentação da atriz Maria Paula, tinha como atração principal a primeira exibição pública no Brasil do aguardado O Traidor (2019), longa de Marco Bellocchio que foi selecionado para o Festival de Cannes deste ano. Representante oficial da Itália no Oscar 2020 (irá disputar uma indicação, por exemplo, com A Vida Invisível, de Karim Ainouz, nosso escolhido), essa co-produção entre Itália, Brasil, Alemanha e França conta com locações no Rio de Janeiro e é estrelada por Pierfrancesco Favino e Maria Fernanda Cândido, entre outros. A atriz estava presente, ao lado dos produtores André Ristum, Fabiano e Caio Gullane. Os quatro falaram sobre a aproximação com Bellocchio, como foi o processo de escolha de Cândido para o elenco e da emoção de exibirem o trabalho no Cine Brasília.
Antes disso, no entanto, o palco do festival abriu espaço para algumas homenagens – e três importantes lembranças (Fábio Barreto, Domingos Oliveira e o ator brasiliense Andrade Jr. estavam no In Memoriam). O grande homenageado deste ano foi Stepan Nercessian, recentemente premiado como Melhor Ator no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (o ‘Oscar’ nacional) por seu desempenho em Chacrinha: O Velho Guerreiro (2018). Uma retrospectiva dos principais filmes estrelados pelo astro foi exibida na tela grande, seguido por um emocionado discurso de agradecimento. Depois dele, o baiano Fernando Adolfo foi chamado para receber a Medalha Paulo Emílio Salles Gomes. Sua escolha vem do mérito de ter sido um dos primeiros organizadores do evento, que já tem mais de meio século de existência. A documentarista Debora Diniz, que não pode comparecer à cerimônia, recebeu prêmio da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV). Devido a sua ausência, ela mandou um vídeo de agradecimento.
A noite, no entanto, ficou marcada por algo que aconteceu ainda antes de todos esses discursos. Logo no começo do encontro, os patrocinadores e apoiadores do festival foram chamados para seus devidos depoimentos. Entre eles, como seria de se esperar, estava o Secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Adão Cândido. Antes mesmo dele subir ao palco, os gritos de “Fora, Adão!” já começaram a ecoar pela plateia do Cine Brasília. Ele tentou seguir com o protocolo, até que não mais aguentou: “A postura de vocês é anti-democrática. Estão manchando a história do Festival de Brasília”. Os protestos se deviam aos cortes orçamentários que o evento enfrentou nesse caso, que por pouco não inviabilizaram a sua realização. As manifestações foram tão fortes que ele mal conseguiu terminar sua fala. Mas os protestos não acabaram por aí.
Quando a equipe de O Traidor subiu ao palco, uma pessoa que não havia sido convidada foi ao lado deles, e ali permaneceu durante todos os agradecimentos. Somente quanto se retiraram, é que ele pode pegar o microfone e se manifestar. Tratava-se do ator Marcelo Pelucio, que portava uma carta do Movimento Cultural do Distrito Federal, iniciativa que reúne diversas entidades artísticas. Ele criticava a decisão do secretario em suspender o Fundo de Amparo à Cultura, que distribuiria mais de R$ 25 milhões para projetos culturais. Além disso, apontava também para o não cumprimento da Lei Orgânica de Cultura (LOC). Enquanto lia, um segurança tentou retirá-lo, sem sucesso. Porém, logo em seguida o som do microfone foi cortado, e a leitura não encontrou seu término. Diante destas atitudes, o público não se conteve, e gritos de “censura” voltaram a dominar as atenções.
O Papo de Cinema é convidado oficial do 52o Festival de Brasília de Cinema Brasileiro
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