8½ Festa do Cinema Italiano 2024 :: Seleção da 11ª edição discute machismo e autoritarismo

Publicado por
Marcelo Müller

A 8½ Festa do Cinema Italiano 2024 chega ao fim nesta quarta-feira, 03, na maioria das cidades. Mas, em algumas localidades ele segue excepcionalmente (confira a lista no fim desta matéria). Com o festival acabando, e tendo visto a maioria dos filmes da boa seleção deste ano, conseguimos tirar a temperatura do que o evento nos apresentou em termos de tendências do cinema italiano contemporâneo. Dois assuntos sobressaíram no conjunto de filmes: a luta contra o machismo e o autoritarismo. Mesmo quando as produções se referiram a algo acontecido em outra época, pareceram sempre estar dialogando diretamente com a atualidade na qual as pautas citadas fazem parte do nosso cotidiano. Como em Ainda Temos o Amanhã (2023), a principal vedete da programação. Nela temos uma protagonista lutando contra os arroubos machistas e autoritários do marido, condições naturalizadas numa Itália pós-Segunda Guerra Mundial. Quase o mesmo pode ser conferido em A Imensidão (2022), co-produção Itália/França, estrelada por Penélope Cruz, ambientada na Europa dos anos 1970, na qual a diversidade sexual se irmana com as questões relativas à feminilidade para resistir a um patriarcado agindo impunemente.

A Imensidão

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Lubo (2023) também retrocede no tempo para contar uma história sintomaticamente ambientada na Segunda Guerra Mundial, na qual povos nômades eram perseguidos numa Europa tomada de assalto pelos ideias eugenistas e supremacistas do nazismo alemão. Já Maria Montessori: Ensinando com Amor (2023) pega o exemplo de uma personalidade real para escancarar os efeitos nocivos do machismo, especialmente num momento histórico em que era infelizmente comum as carreiras das mulheres se desenvolverem à sombra das competências ou mesmo das incompetências dos homens mais próximos. Por fim, O Sequestro do Papa (2023), do mestre Marco Bellocchio, também regride cronologicamente para denunciar um poder instituído (no caso a Igreja Católica) exercendo pressão opressora contra grupos minorizados e perseguidos (no caso os judeus italianos). Como se pode notar, há uma coesão temática entre boa parte das obras selecionadas à 8½ Festa do Cinema Italiano, o que atesta a minúcia da curadoria e, ainda, sinaliza temas em voga na sociedade italiana.

Maria Montessori: Ensinando com Amor

Vale lembrar que a 8½ Festa do Cinema Italiano é uma realização do Ministério da Cultura, da Associação Il Sorpasso e da Risi Film Brasil com a colaboração da Embaixada da Itália, dos Institutos Italianos de Cultura de São Paulo e do Rio de Janeiro e o apoio da Cinecittà. Como de costume, o Papo de Cinema fez uma cobertura especialíssima do evento com críticas, entrevistas exclusivas, notícias e muito mais, material que você pode conferir logo abaixo. Nos vemos na festa de 2025?

CONFIRA
Cobertura :: 11ª 8½ Festa do Cinema Italiano (2024)

 

A FESTA CONTINUA EM…

Aracajú – até 09/07
Brasília – até 10/07
Camaquã – até 12/07
João Pessoa – até 07/07
Niterói – até 10/07
Palmas – a definir
Ribeirão Preto – até 10/07
São Paulo – até 07/07
Volta Redonda – até 05/07

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.