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Há aproximadamente um ano, Marighella (2019) foi exibido pela primeira vez dentro do prestigioso Festival de Berlim. As salas lotadas, tanto de jornalistas do mundo inteiro quanto do público local, aplaudiu a primeira experiência de Wagner Moura na direção, levando aos cinemas a história do militante Carlos Marighella, interpretado por Seu Jorge.

Na época, as reações foram muito positivas, e a grande produção – coestrelada por Bruno Gagliasso, Herson Capri, Adriana Esteves e Humberto Carrão – despontava como uma das principais apostas de bilheteria nacional no ano. Exceto por um detalhe: o filme jamais foi exibido no circuito comercial brasileiro. Depois de trocas de farpas entre produtores e distribuidores, acertou-se a data de novembro de 2019, coincidindo com o mês da Consciência Negra. No entanto, a produção jamais teve autorização da Ancine para recursos de distribuição.

Em paralelo, Marighella foi alvo de uma intensa campanha de difamação institucional e nas redes sociais, promovida por pessoas que sequer assistiram ao filme. O diretor chegou a sofrer ameaças por retratar a vida de um guerrilheiro do partido comunista. Se tivessem assistido ao filme, no entanto, essas pessoas teriam descoberto um retrato repleto de nuances sobre o personagem histórico, que destaca suas qualidades mas também sublinha as ações contestadas dentro do próprio partido.

 

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Wagner Moura durante a apresentação de Marighella em Berlim

 

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A Agência Nacional do Cinema (Ancine) está diretamente implicada na dificuldade de lançar Marighella, desde antes da gestão anterior. Inicialmente, foram apontados problemas de prestação de contas, mas para o cineasta, o argumento não se sustenta. Moura explicou à Mídia Ninja: “A Ancine censurou Marighella. É uma censura diferente, que usa instrumentos burocráticos para dificultar produções das quais o governo discorda. Não tenho a menor dúvida de que Marighella não estreou ainda por uma questão política”.

A afirmação se sustenta dentro do contexto em que o presidente vetou um edital para o fomento de filmes de temática LGBT, ao passo que o Ministro da Cidadania e o Secretário da Cultura se posicionam a favor de obras de caráter cristão, bloqueando filmes sobre questões raciais, étnicas e de diversidade sexual, por exemplo.

De qualquer modo, o público ainda espera pela exibição da obra nos cinemas nacionais, para poder enfim debater sobre a representação proposta por Wagner Moura sobre este episódio da ditadura militar brasileira. Ninguém é obrigado a assistir à obra, é claro, ao mesmo tempo em que ninguém deveria ser proibido de vê-la.

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