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Na manhã de 21 de outubro foi organizada a coletiva de imprensa sobre A Verdade da Mentira (2020), documentário em média-metragem da Elo Company que estreia nas plataformas virtuais de 26 de outubro. A diretora Maria Carolina Telles e a apresentadora Pétria Chaves analisam o fenômeno da desinformação nas redes sociais, vinculada às chamadas fake news, que desempenham um papel fundamental em processos políticos.

As criadoras entrevistam jornalistas experientes, como Pedro Dória, além de diretores de institutos de checagem de fatos para refletir sobre possíveis maneiras de responder à crise da informação. Embora busque uma postura apartidária, o filme cita as campanhas de Jair Bolsonaro e Donald Trump enquanto estudos de caso. Descubra alguns momentos da conversa:

 

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A Verdade da Mentira

 

Um filme sem polarizações

Pétria Chaves explica os motivos para o documentário não tomar partido da direita, nem da esquerda: “Nosso ponto de partida foi a pesquisa profunda do IT&E (Instituto de Tecnologia e Equidade) [a respeito da desinformação]. A gente não queria se tornar mais um agente para acirrar a polarização. Todos nós já mentimos, isso é algo do humano. A intenção era sair da pergunta ‘Por que um mente mais do que o outro’? A pergunta é: por que todos nós caímos, de maneira às vezes emocional, nestas cascas de banana que as redes sociais nos jogam? Isso está acontecendo hoje em escala exponencial. Quando você tem dois lados muito acirrados, eu sempre vou buscar um terceiro lado para ter um conteúdo a mais, ao invés de um alimento dessa polarização”.

A diretora Maria Carolina Telles confirma a busca por um debate além dos posicionamentos ideológicos: “A nossa intenção é conversar com todo mundo, desde as crianças até os universitários, incluindo quaisquer pessoas que consumam informação. A gente entende que a desinformação acaba tribalizando a sociedade, e a deturpação do real corrói a democracia. O filme abre um questionamento a mais. Todos nós, comunicadores e diretores audiovisuais, temos uma responsabilidade com a sociedade e os processos democráticos”.

 

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Pétria Chaves. Foto: Divulgação

 

“A Internet está se tornando uma distopia”

Ariel Kogan, co-diretor do IT&E, alerta para a dimensão do problema: “A Internet veio como uma utopia, mas está se tornando uma distopia. Há cerca de quatro anos, a gente já vinha acompanhando outros plebiscitos fora do Brasil nos quais a tecnologia desempenhou um papel fundamental na escolha do cidadão. A gente sabia que isso teria um impacto grande nas eleições brasileiras. Nosso papel era contribuir com o conteúdo técnico para subsidiar o trabalho dos atores que estavam trabalhando nesse ecossistema”.

“Sempre fui muito contra a abordagem determinista da tecnologia”, pondera a diretora, evitando a leitura alarmante das redes sociais. “A sociedade influencia a tecnologia em primeiro lugar. Mas a tecnologia pode se tornar potencializadora de coisas que já existem, influenciando na economia da atenção. Ela vende nossa atenção aos interessados, o que se traduz num terreno fértil à política. O algoritmo te empurra cada vez mais para uma radicalização de conteúdo, porque ele analisa o que te estimula nas redes. Isso vai ser difícil de regular. O documentário representa um alerta poderoso sobre os riscos que vão afetar nossas interações políticas, para o bem ou para o mal. As redes sociais afetam o conhecimento autorizado. Quem antes tinha autoridade para produzir conhecimento – academia, mídia, ciência – está em crise. As pessoas capturas por esse novo sistema são tentadas pela ilusão de que os veículos tradicionais mentem, e agora têm acesso a uma verdade que estaria escondida até então”.

 

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Pedro Dória. Foto: Divulgação

 

Democracia em risco

Algumas das falas mais potentes vieram de Pedro Dória, especialista em política e tecnologia. “Eu sou da turma que acha que a democracia está de fato em risco. Como a Internet, essa ferramenta que veio trazer informação a todo mundo, passa a fraudar o debate público? Se uma democracia consiste na ideia que um eleitorado possa escolher, a partir de seus pontos de vista, quem os governa, agora se pode fraudar a maneira como as pessoas se informam”.

“Podemos comparar o nosso caso com a eleição americana em curso agora”, ele especifica. “É nítida a dificuldade da equipe de Donald Trump em fraudar o debate público. Segundo a CIA, os russos participaram de campanha de desinformação durante a corrida presidencial de 2016. Tentaram fazer isso com Joe Biden e o filho dele. Os critérios das redes para combater a desinformação não estão claros. Ao que parece, o processo organizado de desinformação, ou seja, a guerrilha do Steve Bannon, equivalente à máquina de Carlos Bolsonaro no Brasil, está com dificuldade de agir. Por outro lado, as teorias conspiratórias são difíceis de limitar. Mas a própria sociedade cria anticorpos para comportamentos bizarros de seus chefes de Estado com discursos de constante belicismo. Na democracia americana, que é muito mais estável do que a nossa, as pessoas estão querendo dar dois passos atrás. E aqui no Brasil?”.

Kogan alerta para os perigos das próximas semanas e meses. “Precisamos estar alertas às bombas de desinformação e aos vídeos que devem chegar perto da eleição”. O objetivo, nas palavras dele, seria “desacreditar o próprio processo eleitoral”.

 

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Cristina Tardáguila. Foto: Divulgação

 

O(s) dilemas das redes

A produtora executiva Paula Garcia comemorou o fato de o filme ser distribuído em data próxima de O Dilema das Redes (2020), documentário da Netflix que suscitou debates acalorados sobre o uso das redes sociais. “A ideia é abrir o debate. Foi uma coincidência boa o lançamento perto de O Dilema das Redes: as obras são complementares. Algumas pessoas não têm conhecimento de que o conteúdo nas redes pode ser falso, e não se questionam. Precisamos trazer um questionamento sobre a informação recebida. É muito conveniente acreditar no que nos convém”.

“Nosso intuito era a consciência”, completa Pétria Chaves. “Essa palavra é maior do que o jornalismo, maior do que a Internet. Isso permeia um desejo da sociedade. Enquanto jornalistas, precisamos estar unidos. O documentário pretende ser uma cartilha para lançar algumas questões e ser um estímulo para que se entenda esse mecanismo”.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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