A Viagem dos Comediantes abarca um período de cerca de 15 anos da história da Grécia, de 1939 a 1952, com uma narrativa em que se destaca um excepcional trabalho de câmera, todo o tempo em movimento, em longos planos sequência, e sem primeiros planos. A escolha deste período tem uma forte carga simbólica: em 1939, durante a ditadura do general Metaxás, tem início a Segunda Guerra Mundial; nos anos seguintes, ocorre a invasão italiana e a posterior ocupação nazista, que acaba no final de 1944, com a chegada de tropas inglesas na Grécia. Dezembro de 1944 marca o conflito entre a direita e a esquerda, e o início da guerra civil, que perdura até 1949. Em 1952, acontece a eleição do marechal Aléxandros Papagós, conhecido por ter derrotado os combatentes comunistas durante a guerra civil, e a adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Entrecortada com este período histórico, temos a narrativa e o percurso da companhia de teatro que revive a trilogia dos Atridas de Ésquilo (Agamenon, As Coéforas, As Eumênides), a tragédia de Orestes, Electra, Agamenon e Clitmenestra, enquanto viaja de cidade em cidade para encenar um drama popular, Golfo, a pastora, de Spiridion Peresiadis. Esta peça, escrita em 1893, faz parte da “bagagem cultural que todo grego carrega desde que nasce”, segundo Angelopoulos, para quem o filme é composto por “saltos descontínuos, um encadeamento em que uma lembrança leva a outra. O que está em jogo não é uma memória individual, é a memória coletiva.”
(Fonte: Imprensa IMS)