O edital BRDE/FSA-PRODAV – TVs Públicas finalmente divulgou o seu resultado na última terça-feira, dia 21, após ser alvo de mais uma polêmica do governo Bolsonaro com a área da Cultura em 2019. O concurso, que destinaria fundos a projetos de quatorze áreas temáticas diferentes – incluindo “qualidade de vida”, “meio ambiente” e “profissões” – foi inicialmente suspenso pelo presidente, descontente com as categorias “diversidade de gênero” e “sexualidade”, nos quais constavam projetos de temática LGBT.
Em agosto, Bolsonaro citou especificamente as séries Afronte, Religare Queer, Transversais e Sexo Reverso para justificar a censura ao edital. O Ministro Osmar Terra apoiou a decisão na época, afirmando que o conteúdo audiovisual deveria ser focado nas maiorias, ao invés das minorias, e privilegiando um teor “familiar”. Apesar da suspensão inicial, a Justiça reverteu o processo e o edital foi mantido.
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No entanto, chamou a atenção que o resultado de projetos contemplados não contivesse nenhum dos títulos citados por Bolsonaro. O próprio presidente afirmava, em seu ataque, que os quatro estavam prontos para captação. Trata-se de séries comandadas por diretores respeitados e premiados na área, como Émerson Maranhão, Allan Deberton e Bruno Victor.
Em entrevista ao jornal O Globo, Maranhão afirmou ser “no mínimo curioso” que os quatro projetos tenham sido ignorados, enquanto Deberton declara “estranhar a ausência” de qualquer um dos projetos citados por Bolsonaro, embora reconheça a qualidade dos premiados. Resta saber em que medida se trataria de uma censura velada do governo, ou talvez de uma autocensura dos próprios jurados, buscando evitar novos conflitos com o presidente.
De qualquer modo, em meio ao clima persecutório em relação às vozes dissidentes, a possibilidade de discriminação destes projetos específicos despertou a indignação de produtores do audiovisual, que cobram um posicionamento claro dos organizadores nas redes sociais. O edital foi julgado por Ig Carvalho, Werinton Kermes, Vancarlos de Oliveira Alves e Leandro de Sousa Mendes.