20190329 agnes varda papo de cinema

A cineasta belga Agnès Varda, considerada uma das pioneiras da nouvelle vague francesa, morreu na noite desta quinta-feira, 28, em decorrência de um câncer. De acordo com o comunicado emitido por sua família, que a descreveu como “feminista alegre e artista apaixonada”, ela estava cercada de amigos e familiares quando faleceu. O funeral deve acontecer em Paris, na terça-feira, 02 de abril. Varda foi uma voz essencial dentro da transformação que o cinema francês encabeçou, sobretudo, nos anos 50 e 60. Aliás, o início de sua carreira precede a chamada “nova onda”. La Pointe Courte (1955), seu primeiro longa-metragem, realizado quando ela tinha 25 anos e nenhuma experiência prévia, já contém elementos da vanguarda que tornaria a nouvelle vague um movimento essencial.

LEIA MAIS
Larry Cohen morre aos 77 anos
Domingos Oliveira morre aos 82 anos no Rio de Janeiro
Richard Erdman morre aos 93 anos

Agnès Varda nasceu no dia 30 de maio de 1928, em Bruxelas, na Bélgica. Ela completaria 91 anos neste sábado, 30. Nascida da união entre um grego e uma francesa, se mudou para o sul da França durante a Segunda Guerra Mundial. Sendo criada próxima ao mar, nutriu um interesse constante pelas artes, tendo inclinação particular à literatura e à fotografia, um de seus amores. O cinema apareceu apenas depois em sua vida. Aliás, a devoção pela fotografia foi um componente presente em boa parte de seus filmes: “A fotografia nunca deixou de me ensinar a fazer filmes”, disse certa vez. Ao longo dos anos, com uma carreira que se tornou sinônimo de resistência numa indústria essencialmente dominada por homens, Varda se tornou um verdadeiro ícone a ser reverenciado.

20190329 agnes varda jacques demy papo de cinema
Agnès Varda e Jacques Demy

Cléo das 5 às 7 (1962), narrado praticamente em tempo real, numa ousadia narrativa impressionante para a época, foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme fala sobre uma cantora hipocondríaca que aguarda o resultado de uma biópsia. É constantemente considerado um dos mais importantes de Varda, cineasta reconhecida ao longo dos anos por sua inventividade. A autora foi casada durante muitos anos com o colega Jacques Demy, com quem se mudou para a Califórnia no fim da década de 60. No seu período norte-americano, se associou a figuras como Dennis Hopper e Andy Warhol e filmou um protesto dos Panteras Negras exigindo a libertação de Huey P. Newton. Com a morte de Demy, em 1990, se dedicou ferrenhamente à preservação da sua obra, além de ter dirigido o belíssimo Jacquot de Nantes (1991), uma cinebiografia afetiva do falecido amado.

Outros filmes absolutamente basilares de Agnès Varda são: As Duas Faces da Felicidade (1965), Uma Canta, a Outra Não (1977), Os Renegados (1985), Os Catadores e Eu (2000) e As Praias de Agnès (2008). Com Visages Villages (2017), codirigido pelo fotógrafo JR, recebeu a sua primeira indicação ao Oscar, se tornando a pessoa mais velha a competir por uma estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. No mesmo ano, recebeu da entidade um troféu honorário pelo conjunto da obra. Ela também foi agraciada, em 2015, com a Palma de Ouro honorária do Festival de Cannes.  Seu último longa-metragem, Varda por Agnès (2019), ainda inédito no Brasil, foi exibido no último Festival de Berlim. Na Berlinale, mas em 2017, ela já falava da proximidade da morte: “Morrer em paz é meu sonho”. Neste ano, ao apresentar sua obra derradeira, mencionou que se preparava para dizer adeus.

20190329 agnes varda papo de cinema3

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar

avatar

Últimos artigos de (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *