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A Agência Nacional do Cinema, Ancine, divulgou no site oficial da instituição o resultado de uma ampla pesquisa sobre “a influência da obrigatoriedade legal de meia-entrada sobre o mercado exibidor brasileiro”. De acordo com o texto, foram analisados todos os ingressos utilizados no país entre 2017 e 2019, para estabelecer os dados por região e compreender as diferenças entre as maiores cidades do país.

O resultado da Análise de Impacto Regulatório (AIR) indica que cerca de 80% dos ingressos no país correspondem à meia-entrada, sendo 59,75% de ingressos legais, 17,27% de ingressos promocionais e 2,34% de cortesias. Segundo o estudo, que também abrange questões socioeconômicas, a meia-entrada não contempla o público mais pobre, por não estar matriculado em escolas nem cumprir outros critérios necessários à aquisição do ingresso mais barato.

Por um lado, a pesquisa inédita ajuda a compreender tanto o consumo de cinema quanto a situação em que se encontrava o mercado exibidor brasileiro antes da pandemia de Covid-19, que levou ao fechamento das salas. O conhecimento sobre estas informações é fundamental para proteger e estimular o setor audiovisual. Além disso, o estudo segue em consulta pública, de modo que qualquer cidadão pode contribuir à conclusão do projeto.

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Por outro lado, o texto divulgado pela Ancine demonstra viés negativo prévio à meia-entrada, como se o resultado constituísse uma justificativa legal para enfim extinguir o benefício, tão atacado por setores conservadores. Vale lembrar que, nos últimos dias, um deputado federal solicitou mais uma vez a extinção da meia-entrada.

Há anos, esta prática tem sido responsabilizada pelos altos valores dos ingressos. O texto divulgado afirma: “Para compensar esse grande acesso à meia-entrada, o valor do ingresso praticado é alto, em comparação com outros países”. De fato, segundo o estudo, o Brasil possui o segundo ingresso mais caro do mundo em relação à média dos salários, perdendo apenas para a Rússia.

No entanto, não existem no estudo dados sobre a porcentagem de ingressos comprados em meia-entrada em outros países, nem uma justificativa sobre a maneira como a situação socioeconômica do Brasil poderia ser comparada àquela de países europeus, por exemplo. Na apresentação do documento, a meia-entrada é descrita enquanto “problema” a ser resolvido. Oficialmente, a pesquisa visa “discutir alternativas e apresentar proposta voltada ao aperfeiçoamento e correção de eventuais falhas nessa política pública”. Resta aguardar as medidas tomadas a partir dos dados levantados.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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