A Agência Nacional do Cinema (Ancine) nasceu em 2001 com o propósito de fomentar o audiovisual brasileiro, que se encontrava em estado próximo à paralisia, e colaborar com a regulamentação, fiscalização, distribuição e exibição dos filmes nacionais. Durante muitos anos, a iniciativa foi bem-sucedida: o número de filmes brasileiros multiplicou exponencialmente, novos autores surgiram, e o audiovisual se firmou como motor econômico importante – pelo menos até o golpe de 2016.
Desde então, a instituição vem sofrendo com políticas de aparelhamento e descaso por parte dos sucessivos governos. As verbas foram paralisadas, a análise das prestações de contas se encontra em atraso, e os editais foram praticamente interrompidos. O presidente Jair Bolsonaro, que extinguiu o Ministério da Cultura, já se posicionou contra a arte livre ao tentar censurar editais de temática LGBTQIA+ e a supostamente impor o entrave ao andamento de processos dentro da agência, através de seus representantes.
LEIA MAIS
Marcelo Ikeda :: “Falta coragem a vários artistas, intelectuais e críticos para ampliar o campo do debate”
Ancine veta fomento a filme sobre ascensão evangélica na política
Presidente da Ancine falta à audiência e deputados falam em guerra ideológica
Este percurso é narrado em detalhes no livro Utopia da Autossustentabilidade: Impasses, Desafios e Conquistas da Ancine (2021), escrito por Marcelo Ikeda e publicado pela Editora Sulina. O pesquisador em cinema brasileiro e professor da UFC trabalhou na agência entre 2002 e 2010, e desde então, tem produzido obras relevantes sobre as políticas públicas para o audiovisual. Neste novo trabalho, avalia a evolução da agência desde a criação até as mais recentes crises sob Bolsonaro, em comparação com a Embrafilme, extinta sob o governo Collor.
Segundo o autor, “O audiovisual é, de fato, um setor que articula, de forma intrínseca, a economia e a cultura. Trata-se de um dos setores que mais consolidam o seu potencial econômico, especialmente em decorrência das transformações a partir da internet e os processos de convergência, mas também possui um inestimável valor intangível por expressar nossos modos de ser, influenciando as relações de poder e de legitimação em nossa sociedade”.