Uma nova crise acaba de ser deflagrada dentro da Agência Nacional do Cinema, a Ancine. Trata-se da avaliação de prestação de contas dos filmes nacionais, que sofria com atrasos significativos. Agora, os produtores descobriram que os problemas burocráticos são ainda mais graves do que se imaginava: produções realizadas até 20 anos atrás ainda não tiveram suas contas inspecionadas pela instituição.
Trata-se de 4.219 projetos pendentes, cujos comprovantes foram devidamente guardados e enviados, mas nunca analisados. Agora, o órgão solicita documentos escaneados e diversos papéis de mais de uma década atrás, quando a digitalização não era praticada, o que gera inquietação entre os maiores produtores do país. “De repente, descobri que, há anos, invisto dinheiro e tempo em prestações de contas que a agência, simplesmente, não tem capacidade de analisar”, argumentou Rodrigo Teixeira à Folha de São Paulo.
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Antigamente, a avaliação ocorria por critério de amostragem: apenas parte dos filmes era obrigada a enviar todos os comprovantes para avaliação. Desde 2017, no entanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) ordenou que o processo abarcasse a totalidade das produções nacionais. Assim, os projetos se acumularam, embora o novo Secretário da Cultura, Mário Frias, pretenda zerar o atraso nos próximos quatro anos.
Enquanto isso, 168 obras tiveram suas contas analisadas pela nova gestão, e 60,7% foram reprovadas. A Ancine, no entanto, se recusa a informar o motivo da reprovação, alegando “questões de sigilo de informação”, de acordo com o Jornal O Globo. Entre os filmes contestados se encontram A Máquina (2006), Xuxa Gêmeas (2006), Era uma Vez… (2008) e a série Um Menino Muito Maluquinho (2006).
A mudança de regras e a tendência a reprovar prestações de contas sem explicar os motivos – mas expondo publicamente o nome dos filmes e produtores – tem sido interpretada pelos profissionais do audiovisual como um ataque da agência ao setor. A gestão Bolsonaro jamais escondeu a aversão ao audiovisual nacional, e chegou a praticar atos de censura, além de ameaçar a Cinemateca Brasileira de fechamento.
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