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No que diz respeito às lutas pelo direito de minorias, jamais caberia a uma pessoa branca liderar um movimento em nome dos direitos negros, ou sequer falar em nome de um grupo ao qual não pertence, a respeito de uma experiência que desconhece. O que a pessoa branca esclarecida pode fazer, no entanto, é conscientizar outras pessoas brancas quanto à existência do racismo. Esta foi a postura adotada por Joaquin Phoenix em seu discurso durante a cerimônia de entrega dos prêmios BAFTA.

Phoenix venceu o prêmio de melhor ator por Coringa (2019) – mais um troféu de uma temporada vitoriosa que o posiciona como franco favorito para o Oscar. Ao agradecer o reconhecimento, ele atacou diretamente o racismo que marcou o BAFTA, onde todos os vinte atores e atrizes (principais e coadjuvantes) indicados são brancos, ignorando nomes de peso como Lupita Nyong’o (Nós), Cynthia Erivo (Harriet) e Michael B. Jordan e Jamie Foxx (Luta pela Justiça), sem falar em atores asiáticos ou de ascendência asiática como Awkwafina (The Farewell) e Song Kang-ho (Parasita).

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Joaquin Phoenix no BAFTA 2020

 

“Eu me sinto em conflito porque muitos outros atores, que também merecem, não possuem esse mesmo privilégio. Eu acho que nós passamos uma mensagem muito clara para pessoas de cor: que vocês não são bem-vindos aqui”, afirmou, em transcrição da Folha de São Paulo. Ele continua: “Eu tenho vergonha de dizer que também sou parte do problema. Eu não fiz tudo que podia para garantir que os locais em que trabalhei fossem inclusivos. Eu acho que temos que fazer o trabalho duro de entender o racismo sistêmico, e que é a obrigação das pessoas que criaram, continuaram e se beneficiaram desse sistema de opressão desmontá-lo, então essa é nossa responsabilidade”.

Phoenix é conhecido pelo ativismo e pelos discursos humanitários. Mesmo assim, é raro um ator se assumir tão claramente em posição de privilégio étnico-racial dentro na indústria de Hollywood. As premiações do BAFTA, e em menor medida, no Oscar (onde apenas uma atriz negra foi indicada, contra dezenove brancos) e no Globo de Ouro (que incluiu uma atriz asiática e um ator latino contra uma vasta maioria de brancos) apontam para um problema crônico de uma indústria conservadora.

Não se espanta que ainda existam poucas mulheres concorrendo aos prêmios de direção, direção de fotografia e montagem, categorias historicamente masculinas. A indústria ainda precisa fazer um grande esforço para se reinventar e começar, enfim, a refletir a sociedade em que se insere.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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