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Benedetta (2021) chegou às telonas dos cinemas do Brasil no dia 13 de janeiro pela Imovision. Se trata do mais novo filme do holandês Paul Verhoeven, um dos grandes cineastas europeus em atividade – com uma importante carreira em Hollywood. A trama se passa no século 17, quando a jovem Benedetta Carlini é enviada a um convento. A partir dali, tem a sua vida consagrada ao “matrimônio com Cristo”. Anos mais tarde, depois de estabelecida no local de clausura e oração, ela se depara com uma jovem agredida constantemente pelo pai, que é acolhida na instituição. As duas criam um laço quase imediato e esse elo logo se transforma numa paixão expressada amorosa e sexualmente. Enquanto isso, Benedetta reclama a condição de interlocutora de Jesus em meio ainda a visões do nazareno que oscilam entre sagrado e profano. Chagas aparecem no corpo da freira à medida que a relação com a novata fica ainda mais tórrida. Essa breve descrição já seria suficiente para instigar alguém a ir aos cinemas conferir essa produção, né? Mas resolvemos elencar 10 motivos específicos que fazem da sessão de Benedetta um programa imperdível.

 

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1 – Dirigido por Paul Verhoeven
Depois de uma carreira de sucesso na Holanda, Paul Verhoeven foi aos Estados Unidos e fez duas trilogias: uma de enorme êxito comercial e a outra não tão bem recebida. No entanto, esses seis filmes são significativos da veia iconoclasta de um artista que permanece inquieto diante de um mundo de aparências, do sexo como instrumento de poder, da ânsia por controle e da sanha bélica de Estados que visam se tornar hegemônicos – não à toa, sempre há uma alusão ao nazismo nisso. Paul Verhoeven é um dos mais provocativos realizadores em atividade, alguém que não se curva ao mercado, pelo contrário, que chacoalha o estabelecido em produções frequentemente recheadas de polêmicas. Para saber mais sobre a carreira dele, acesse aqui o nosso artigo especial que resume sua vida e obra.

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2 – A protagonista: Virginie Efira
Prestes a completar 45 anos, a atriz e apresentadora de televisão belga Virginie Efira tem um dos grandes papeis de sua carreira neste filme que aborda as hipocrisias da Igreja Católica. Quatro vezes indicada ao César (o Oscar do cinema francês), ela já tinha trabalho como Paul Verhoeven em Elle (2016), nele interpretando a coadjuvante Rebecca. Aqui, assume corajosamente o protagonismo, afirmando em entrevistas que aceitou o desafio imposto pelo papel, não se importando com a nudez e as cenas de sexo na qual está inserida. Constante em comédias de  sucesso comercial, Virginie Efira tem se destacado recentemente em personagens mais densas, exatamente como essa.

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3 – Os coadjuvantes de luxo: Charlotte Rampling e Lambert Wilson
Vem cá, pensa no luxo que é ter dois nomes maiúsculos do cinema francês em papeis coadjuvantes, numa produção ambiciosa e ácida como Benedetta. E esse luxo entra ainda mais na categoria “ostentação” quando sabemos que esses nomes são Charlotte Rampling e Lambert Wilson. Ela, multipremiada e celebrada, vive a Madre Superiora que tem sua proeminência gradativamente destituída pela lógica masculina do poder da Igreja Católica; ele, igualmente celebrado por onde passou, interpreta o líder perverso que exerce esse poder essencialmente patriarcal de maneira caricatural e grosseira. Mesmo que sejam do elenco de suporte, os dois têm desempenhos essenciais para que seja construída a crítica do longa-metragem às forças contra as quais a protagonista luta brava e incessantemente.

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4 – A novata: Daphne Patakia
Até agora falamos apenas de veteranos com carreiras consolidadas. Mas, a “novata” Daphne Patakia consegue o improvável ao viver a indomável Bartolomea: se destaca em meio aos gigantes. É o primeiro grande papel da atriz que começou a se destacar em Djam (2017), do cineasta Tony Gatlif. Daphne também foi a personagem principal de Nimic (2019), de Yorgos Lanthimos. Mas, é como a coadjuvante imediata de Benedetta que ela realmente reivindica um lugar entre as jovens estrelas europeias mais promissoras da atualidade. A sua Bartomolea exala sensualidade e perigo, uma mistura vital não apenas neste filme, mas na extensa e potente carreira do cineasta Paul Verhoeven.

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5 – Critica à hipocrisia da Igreja Católica
No mundo em que vivemos, nenhuma instituição chega a ser milenar por acaso ou força de um comportamento puramente ecumênico. Mais do que ter uma capacidade impressionante de se adequar aos tempos que se sucedem, a Igreja Católica sempre foi um Estado à parte que fez questão de exercer um poder sócio-político-econômico. Em Benedetta, a Santa Sé é vista como uma organização bem mais pragmática do que sagrada, dada a negociatas e sempre em busca de um novo fenômeno de popularidade. Além disso, o viés feminino acaba revelando um aspecto essencial que está atrelado a esse caráter milenar sintomático da Igreja: a força se dá sobre os pilares do patriarcado, aqui com homens inescrupulosos (e pouco piedosos) decidindo o destino de mulheres que sempre estão abaixo.

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6 – Baseado num livro polêmico
O livro no qual o filme se inspira é Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy, de Judith C. Brown que, por sua vez, é inspirado em fatos acontecidos na Itália do século 17. Embora o título enfatize a sexualidade da protagonista, o livro é bem mais sobre a busca de Benedetta Carlini por poder e reconhecimento como uma interlocutora de Jesus. Portanto, ele tem uma abordagem mais trágica. O suposto caso lésbico é discutido à luz das artimanhas utilizadas pela Igreja Católica para “desmascara-la”, ou seja, para desacreditar que ela possuía um dom que poderia torna-la santa. Claro que Verhoeven aproveita do livro o que mais se adequa ao seu itinerário iconoclasta, utilizando inclusive o sexo como chamariz para investigar esse funcionamento escuso da instituição.

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7 – Trilha sonora assinada por uma compositora vencedora do Oscar
A trilha sonora é muito importante para a narrativa de Benedetta. E uma olhada nos créditos do filme traz o nome conhecido de sua compositora: Anne Dudley. Britânica e ex-membro da banda The Art of Noise, Anne ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora de Comédia/Musical por Ou Tudo ou Nada (1997). Ela já tinha colaborado anteriormente com Paul Verhoeven em A Espiã (2006) e Elle, trabalho este pelo qual foi indicada ao César de Melhor Trilha Sonora Original. Seus créditos ainda incluem as trilhas sonoras igualmente elogiadas de Traídos Pelo Desejo (1992), A Outra História Americana (1998) e mais recentemente do blockbuster Esquadrão Suicida (2016).

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8 – Fotografia assinada por uma profissional indicada três vezes ao César
Outro atributo técnico-artístico de destaque é a fotografia assinada por Jeanne Lapoirie – atente para o fato de que trilha e fotografia são feitas por mulheres. Nascida na França, Jeannie tem vários trabalhos em seu currículo, mas é a primeira vez em que colabora criativamente com Paul Verhoeven. Foi três vezes indicada ao César – por 8 Mulheres (2002), Michael Kohlhaas: Justiça e Honra (2014) e 120 Batimentos por Minuto (2017). Seguramente, a composição dos quadros, a profundidade de campo e a iluminação são essenciais ao clima que Benedetta cria para contestar esse mundo católico repleto de signos, iconografias específicas e tudo que é ressaltado pela direção de arte.

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9 – Exibido no Festival de Cannes e vencedor do Mix Brasil em 2021
Claro que é importante pensar em quais janelas o filme foi exibido e quais prêmios ele ganhou antes de chegar às telonas dos nossos cinemas. E Benedetta teve sua première mundial no Festival de Cannes de 2021 – para muitos deveria ter sido o vencedor da Palma de Ouro, o que não seria nenhum absurdo. Além disso, já em terras sul-americanas, venceu o prestigiado prêmio de Melhor Longa-metragem Internacional do Festival Mix Brasil, um dos eventos mais importantes do país quanto à celebração de obras com temática LGBTQIA+. Para completar a fatura, foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros de 2021 no National Board of Review 2021 e indicado no Lumière Awards 2022 às estatuetas de Melhor Atriz (Virginie Efira) e Revelação Feminina (Daphne Patakia).

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10 – Integrante da lista dos 10 melhores do ano da revista Cahiers du Cinéma
A revista francesa Cahiers du Cinéma é uma das mais importantes do mundo, sobretudo por tudo atrelado à sua história. Foi nela que surgiu a semente da Nouvelle Vague nos anos 1960, bem como a lógica da política dos autores por meio da qual muita gente continua lendo a propriedade artística dos filmes. Pois bem, anualmente a publicação divulga uma conceituada lista dos melhores filmes da temporada e, adivinhem….Benedetta figurou nessa seleção dos melhores de 2021 – ficou exatamente na 10ª posição, logo abaixo de pesos-pesados que apenas dignificam a sua escolha. Portanto, com uma chancela dessas, o que você está esperando para ir logo ao cinema assistir a Benedetta?

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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