20240726 jose geraldo couto papo de cinema

Paulista nascido em Jaú, José Geraldo Couto é um dos mais respeitados críticos de cinema do Brasil. Dono de um olhar sensível e de uma escrita habilidosa, fruto da erudição que caracteriza seus trabalhos, ele é um jornalista com décadas de experiência em veículos de grande expressão, além de tradutor renomado. Do inglês traduziu, entre outros autores, Henry James, Saul Bellow, Norman Mailer, Truman Capote, Michael Cunningham e Martin Scorsese. Do espanhol, Adolfo Bioy Casares e Enrique Vila-Matas. Na primeira edição do Bonito CineSur, Zé assumiu de maneira solitária a tarefa de fazer a curadoria dos longas-metragens sul-americanos. Para esta segunda edição, teve as companhias valiosas de Andréa Cals e Marcela Lordy, fato que ele destacou como excelente avanço, em comparação ao ano anterior, na conversa exclusiva que teve com o Papo de Cinema. Até porque esse trabalho de seleção dos filmes nem sempre ganha o destaque merecido, resolvermos ter dois dedinhos de prosa com Zé para saber como foi o processo, de que modos a colaboração acrescentou à dinâmica de seleção e como, em estrito senso, a curadoria precisa se distanciar da noção de subjetividade orientadora da crítica de cinema. Confira.

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CURADORIA EM TRIO

“Para mim, ter mais gente fazendo curadoria foi um avanço. No ano passado foi complicado fazer a curadoria sozinho, pois eram muitos filmes a serem assistidos em pouco tempo. Neste ano, com a participação da Andréa Cals e da Marcela Lordy foi mais fácil, mas claro, tínhamos de encontrar um modo de coordenar o trabalho. O festival mandou a cada um de nós um determinado número de filmes, dos quais tiramos 10 cada. E aí passamos os nossos escolhidos para os colegas. Todo mundo assistiu a esses 30 filmes integralmente. Fizemos duas ou três reuniões em que deliberamos para chegar à seleção final. O processo foi relativamente tranquilo (…) essa inclusão de mais curadores foi uma das melhores coisas em comparação à primeira edição. Ao fazer esse processo sozinho, você corre o sério risco de deixar coisas passarem e ter uma visão limitada. Outros olhares despertam a percepção para elementos que passariam batido. Esse diálogo é muito enriquecedor e dá uma segurança enorme”. 

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Andréa Cals, José Geraldo Couto e Marcela Lordy

OS CRITÉRIOS

“Era preciso seguir o perfil buscado pelo festival. Então, por exemplo, uma ideia básica era que houvesse o maior número de países representados, claro, sem forçar a barra. O outro era equilibrar documentários e ficções, além de privilegiar a diversidade de formatos. Temos drama social, comédia, animação, suspense, então há uma variedade razoável de formatos. Com base nesses parâmetros gerais, fomos escolhendo, sempre com uma dor no coração de deixar de fora certos filmes. Como a maior parte dos longas-metragens inscritos era brasileira e, em segundo lugar, produções vindas da Argentina, havia uma preocupação que eles não ‘tomassem conta’. Mas, veja bem, de todo modo, de seis filmes, foram selecionados dois brasileiros e dois argentinos. Esse desequilíbrio também reflete o cenário das inscrições. De todo modo, o festival está ainda tateando e buscando um perfil, procurado o seu equilíbrio entre a qualidade dos filmes e o interesse do público local. Essa equação ainda está sendo buscada, mas houve um avanço da primeira para a segunda edição”.

TODO CRÍTICO DE CINEMA É UM CURADOR?

“A responsabilidade do crítico é assistir ao filme e compartilhar sua leitura. No caso da curadoria, é preciso levar em consideração outros fatores, como: o perfil do festival e o público que vai frequentar as atividades. O curador precisa estar mais aberto, mais permeável a essas circunstâncias para não fazer uma escolha estritamente pessoal. O curador é uma espécie de ponte entre o festival e o entorno, como público, o mercado e a cinematografia escolhida. É um exercício de ampliar o olhar, de sair da subjetividade pura e ter alguns parâmetros objetivos. São bem diferentes os papeis do crítico e do curador. Às vezes eles se sobrepõem, mas na essência são bem diferentes”.

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A Outra Forma, um dos filmes selecionados pelo trio
As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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