Desde o primeiro dia do 2º Bonito CineSur – Festival de Cinema Sul-americano estávamos tentando falar com Reginaldo Faria, um dos homenageados desta edição do evento que acontece na cidade sul-mato-grossense de Bonito. E a insistência se deu pela possibilidade valiosa de conversar com um dos grandes nomes do cinema, do teatro e da televisão brasileiros. Do alto de seus 87 anos, muitos dos quais dedicados às artes de interpretar, dirigir, escrever e produzir, um dos filhos ilustres da cidade fluminense de Nova Friburgo pode bater no peito e se orgulhar da carreira construída ao longo das décadas. Com mais de 80 créditos em cinema e TV, fora o teatro, Reginaldo aproveitou os dias ensolarados por aqui para passear com a família que o acompanhou ao interior do Mato Grosso do Sul onde foi merecidamente festejado.
Nesta terça-feira, 23, Reginaldo gentilmente recebeu a imprensa no hall da pousada onde está hospedado. Muito solícito e bem disposto, conversou com o Papo de Cinema sobre a noite da homenagem no Bonito CineSur e mencionou a alegria de rever um filme que, segundo ele, “merecia ter sido mais divulgado”. Selva Trágica (1964) traz Reginaldo como protagonista na pele do homem explorado nos ervais de um Brasil profundo, que tem seu amor interditado pelo ímpeto agressivo e perverso dos mandachuvas. Confira abaixo trechos do bate-papo exclusivo que tivemos com o grande Reginaldo Faria no 2º Bonito CineSur – Festival de Cinema Sul-americano.
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A HOMENAGEM
“Estava me considerando um ermitão dentro da minha concha. Aí, de repente, alguém me liga e chama para voltar àquelas memórias do nosso cinema, das coisas que fazíamos. Encarei como um privilégio e uma honra enormes. A minha emoção no palco (ao receber a homenagem) foi absolutamente verdadeira porque não esperava o clipe que resumiu as coisas que fiz (…) sempre me emociono ao saber que posso ser reconhecido por algo que fiz, por algo que ainda amo. Apesar da minha idade, pode ser que ainda faça uns 20 filmes (risos)”. Uma das coisas que chamou a atenção dos presentes na noite de abertura é que Reginaldo fez questão de permanecer no cinema e assistir ao filme. Ele estava cercado de filhos, netos e se deparou novamente com o olhar do irmão já falecido, o saudoso Roberto Farias. Perguntando sobre esse aspecto familiar da experiência, Reginaldo afirmou: “a nossa simbiose é o cinema, não tem como escapar. Essa chama não se apaga. Nossa família é toda de cinema. Roberto chegou, aí veio o Riva, o outro irmão, depois eu e mais um. Anos mais tarde vieram os nossos filhos. Todo mundo no mesmo universo. Que doença é essa? Que cachaça é essa? (risos). Nos almoços de família falamos muito de cinema, quase apenas de cinema. Será que é doença? Não sei, só sei que é bom”.
OS CAUSOS DE SELVA TRÁGICA
“Eu tinha de ficar para assistir novamente ao filme depois de tantos anos. Há muita história ali, tipo aquilo que falei no palco sobre a chuva ininterrupta. Quando saia um solzinho, a equipe se montava, gravava durante meia hora e aí voltava frustrada por conta da chuva novamente. Quando nos demos conta, o planejado de 40 dias de filmagem havia ido ao espaço, pois ficamos quatro meses gravando. De certa forma foi fantástico, pois realmente por causa disso encontrei o personagem (…) eu era muito garoto e entendia o personagem. Mas, uma coisa é compreender do ponto de vista intelectual, outra é sentir o que esse personagem deseja, quais os problemas que ele atravessa. Então, consegui entrar no personagem por analogia, pois eu estava tão desesperado para fugir daquele lugar inóspito e selvagem quanto o Pablito queria escapar da escravidão (..) fiquei emocionado ao rever uma obra que meu irmão Roberto Farias amou tanto”.
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