Nada será com antes da pandemia de COVID-19, ao menos até que uma vacina seja encontrada. Com a imensa maioria das filmagens interrompida devido à necessidade de quarentena, a produção de novos filmes e séries tendeu a zero nos últimos meses. O pouco que aconteceu foi envolvendo projetos que buscaram se adaptar aos novos signos trazidos pela pandemia, como distanciamento social e uso de máscaras, em iniciativas tão urgentes quanto necessárias, no sentido de registrar em audiovisual a realidade de momento. Entre eles está Carenteners, série brasileira rodada em plena quarentena que estreará nesta terça, às 21h40, no canal Warner Channel.
O Papo de Cinema participou de uma coletiva virtual com os dois protagonistas da série, Ana Tardivo e Mateus Sousa, e ainda a showrunner Aline Diniz, o produtor Érico Borgo e a diretora de conteúdo da Turner Brasil, Sílvia Fu, que falaram sobre este projeto aprovado e rodado em regime de urgência, visto que precisava estrear antes da pandemia chegar ao fim, o que ninguém sabia quando aconteceria. Confira os principais destaques!
O INÍCIO
“O desenvolvimento foi bem rápido, conseguimos colocar de pé com bastante agilidade e acho que isto traz também um pouco do que a gente vê na série, que é este momento que ninguém sabia que a gente iria viver agora”, explica Aline Diniz, criadora e uma das produtoras de Carenteners. “É muito bizarro ver algo que surgiu em um bate-papo meu com o Érico [Borgo] tomando forma com tanta rapidez, foi cerca de uma semana entre termos esta conversa e irmos falar com a [Sílvia] Fu para colocarmos tudo de pé de fato.”
“A Warner, assim como todos os canais da Turner, está neste momento em dificuldade de gravação e de conseguir conteúdos novos. A gente procurava muito um conteúdo que fosse inserido neste nosso novo normal, mas que tivesse o perfil de entretenimento. Nossa grande meta era entreter e fazer companhia às pessoas, de alguma forma criativa”, explica Sílvia Fu, diretora de conteúdo dos canais Turner.
“A série fala muito com o momento que estamos vivendo, de ficar trancado em casa, onde estamos a salvo do vírus mas não de uma série de outros problemas, entre eles a carentena, como chamamos”, complementa Erico Borgo. “A série fala também de como o excesso de informação nunca esteve tão presente na vida das pessoas [..] O home office é brutal, aquela coisa de ficar preso na cadeira e bombardeado o tempo inteiro. É o WhatsApp que não para, chamada de vídeo quando você está no Zoom… Existe uma aflição nestes tempos que espero que estejamos conseguindo transmitir na série.”
GRAVAÇÕES À DISTÂNCIA
“A gente fez um casting e nem se conhece, nos falamos através de um call!”, ressalta Erico Borgo, se referindo aos protagonistas Ana Tardivo e Matheus Sousa. “É super importante ressaltar que todas as gravações estão sendo feitas à distância. Todos e quaisquer protocolos de segurança estão sendo respeitados, o que causou vários desafios, principalmente para os atores, que além do trabalho natural de ler texto e tudo mais ainda estão tendo que se gravar, conectar a rede, pôr a luz e tudo mais. Mas acho que faz parte deste momento, para a proteção de todos”, ressalta Silvia Fu.
“Não esperava estar vivendo este processo no período de uma pandemia, criando conteúdo e trabalhando com pessoas incríveis. Isso não passava pela minha cabeça, não que eu seja pessimista mas este é um momento muito de incertezas e medo”, ressalta Matheus Sousa, que interpreta Marcos. “Nunca tive habilidades tecnológicas, nunca tive que colocar um celular em um tripé… De um dia para o outro recebi os equipamentos aqui em casa, algo que nunca tinha nem mexido”, disse Ana Tardivo, intérprete de Cecília.
“Em uma gravação comum, nosso foco é no texto e em contracenar com os companheiros em cena. Neste há muito mais, porque é preciso estar focado no personagem, no figurino, na iluminação, no cenário, então é um trabalho redobrado que exige muito mais. Isso acaba ampliando seu olhar e aprendendo outras funções também”, explica Matheus Sousa.
RITMO ACELERADO
“Do green light até a conclusão do primeiro episódio foi menos de um mês. Claro que a ideia veio antes e já estávamos trabalhando nos roteiros, mas o sinal verde para a produção do primeiro episódio foi dado há uns 25 dias. Nossa média é que algo do tipo dure 18 meses, do desenvolvimento de uma série de 10 episódios de 30 minutos, mais ou menos, até produção, montagem e entrada na Ancine”, explica Sílvia Fu, ressaltando a rapidez com que a série foi idealizada e produzida.
“Além deste novo formato, havia a pressão de colocar Carenteners no ar o mais rápido possível, para conseguirmos nos relacionar com as pessoas enquanto elas ainda estão em casa. Isto era muito importante”, pontua Erico Borgo.
O SCREENLIFE COMO NARRATIVA
Após fazer sucesso em Buscando… (2018), a técnica do screenlife tem se popularizado mundo afora. Trata-se da narrativa onde absolutamente tudo o que acontece é apresentado como se tivesse sido visto diante de uma tela, seja ela do computador, do celular, do tablet ou qualquer outro apetrecho eletrônico. É o que acontece também em Carenteners, onde os protagonistas Cecília e Marcos se comunicam apenas através de meios tecnológicos, devido à necessidade de quarentena.
“Sempre imaginamos a série neste formato porque seria o único viável neste momento. Ela nasceu assim, com esta intenção”, explica Erico Borgo. “A gente sabia que iria pesar pra caramba na pós-produção, especialmente no motion, que é quase uma animação com nossos atores encaixados ali na telinha [..] Carenteners tem uma linguagem que é mais jovem, às vezes até eu que tenho 45 [anos] preciso voltar e rever. Ela funciona, mas acredito que funciona super bem para quem já tem esta super informação dentro de si, você cresceu com isso.”
O FUTURO?
“A história não se encerra. O tema pode se transformar, a vida destes personagens poderia continuar não necessariamente só fechados em suas casas”, explica Silvia Fu, sobre a possibilidade de novas temporadas. “Séries como esta, que são frescas e relacionadas com o momento, precisam evoluir com as pessoas.”
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