Durante a Comic-Con Experience, em São Paulo, os dois principais filmes dos estúdios Warner foram produções femininas: Aves de Rapina (2020), dirigida por Cathy Yan e estrelada por seis mulheres, e Mulher-Maravilha 1984 (2020), com direção de Patty Jenkins e estrelada pela israelense Gal Gadot. Não por acaso, a questão da representatividade feminina se tornou o centro do debate durante a coletiva de imprensa deste último filme, na manhã de domingo.
Jenkins e Gadot até tentaram conduzir a conversa a outros temas, mas os jornalistas insistiram em tratar o segundo filme da franquia Mulher-Maravilha pela excepcionalidade da liderança feminina. “Para mim, a ação nunca foi um gênero masculino”, decretou a diretora. “É certo que existem muitos espectadores homens para estes filmes, mas existem muitos espectadores homens em todos os gêneros. Eu sempre gostei de super-heróis. Eles são para todo mundo, porque representam a melhor metáfora que temos hoje para contar uma história grandiosa”.
Um exemplo para garotas e garotos
“Fiquei surpresa no começo, quando as pessoas achavam que um filme sobre a Mulher-Maravilha não daria certo”, continua Jenkins. “Agora, na esteira do nosso sucesso, fico feliz de saber que existem filmes de super-heróis para todo mundo: homens e mulheres, brancos e negros, para transgêneros etc. Heróis são para todo mundo”.
Quando questionadas sobre a responsabilidade de serem modelos para jovens garotas do mundo inteiro, Gal Gadot afirmou compreender o peso dessa tarefa: “Temos o privilégio de estar nessa posição hoje, e levo isso muito a sério. Sempre fui uma mulher combativa. Quando me perguntavam, no início da carreira, qual era o meu papel dos sonhos, eu dizia: ‘Qualquer papel de mulher forte e independente’.” A atriz lembrou sua infância, em Israel, quando assistia aos programas da super-heroína aos 11 anos de idade, sublinhando que ela mesma foi transformada pelo símbolo da Mulher-Maravilha.
“O que a Mulher-Maravilha pode fazer de mais importante é lutar pelo mundo, não apenas pelas mulheres”, pondera Jenkins. “Queremos que a personagem transcenda este aspecto, e não se limite à questão feminina. Tenho um filho pequeno, e para ele, importa apenas que a Mulher-Maravilha seja uma personagem forte, que luta contra o mal, e não por ser mulher”.
De volta aos anos 1980
Para a dupla, a principal mudança do segundo filme diz respeito à nova década: 1980. A diretora mencionou a tarefa que tinha, no projeto inicial, de mostrar como a personagem se tornou uma super-heroína, e apresentar suas origens ao espectador. Agora, cumprida esta parte, ela teria mais liberdade para explorar a protagonista. “Como fã, o que não pude fazer no primeiro filme foi mostrar o que ela faz com esta identidade depois de se consolidar como super-heroína”.
A atriz promete que o segundo filme será mais leve, por abandonar o pesado tema da Primeira Guerra Mundial: “Agora é diferente. Os anos 1980 foram uma década incrível em termos de figurinos, cores, penteados. Nós criamos cenários gigantescos para reconstruir a época. Por exemplo, existe uma cena num supermercado americano, e o local foi inteiramente construído para as filmagens, com 200 figurantes saídos diretamente dos anos 1980. Foi elétrico”, garante.
Gal Gadot explica que, mesmo assim, Diana continuará no anonimato: “Agora, a Mulher-Maravilha está salvando a humanidade. Ela está solitária, porque perdeu todas as pessoas próximas dela. Sinto que ela possui um instinto materno: é amorosa, pensa no melhor para todos e sempre acredita no que as pessoas têm a dizer. Durante as filmagens da Liga da Justiça (2017), os colegas me chamavam de mamãe por isso. Podem me chamar de mamãe!”, brincou.
Sem a Liga da Justiça, mas com as Amazonas
Patty Jenkins evitou perguntas sobre o malfadado Liga da Justiça (2017) de maneira respeitosa, porém firme: “Liga da Justiça é um filme controverso, e não vamos falar sobre ele hoje. Mulher-Maravilha 1984 é uma história independente. Ela foi baseada em vários quadrinhos da personagem, mas não parte de nenhuma histórica específica. Ele apenas continua de maneira direta a trama do primeiro Mulher-Maravilha“.
Gadot também evitou perguntas sobre uma possível liderança da personagem dentro da Liga, afirmando que a ideia parece tentadora, mas que este não constitui o foco no momento, e que não sabe se isso jamais acontecerá um dia. A diretora preferiu afirmar que os planos da franquia são diferentes: “Nós já sabemos como o terceiro filme vai ser. Acabamos criando uma trilogia na nossa cabeça, embora ainda precisemos ver se isso vai de fato acontecer. O terceiro filme será sobre as Amazonas. Eu não vou dirigir e a Gal não vai atuar, mas eu cuidaria da produção”, explicou, no que parece constituir uma mistura de sequência e spin-off.
Sem armas, mas com Steve Trevor
Alguns jornalistas se disseram surpresos pelo retorno de Steve Trevor (Chris Pine) após a trágica conclusão do personagem no filme de 2017, porém Jenkins garantiu que o retorno do militar não ocorreu apenas por causa da boa aceitação do público. “Desde o começo, eu pensava na história do segundo filme, e Steve Trevor já estava lá antes. Isso não foi uma reação ao primeiro filme. Teria sido brutal para nós abrir mão dele, mas teríamos feito caso fosse necessário para a trama”.
Do mesmo modo, as convidadas garantiram que o filme não vai estimular a violência, uma vez que a heroína sequer usará armas para se defender: “A Mulher-Maravilha não carrega armas”, Gadot corrigiu um jornalista. “Nós decidimos abandonar a espada, porque existe algo muito agressivo neste elemento – quando você tem uma espada, você precisa usá-la. O escudo também não era necessário. Ela é uma deusa, extremamente forte, e não precisa disso”.
Ainda sobre o treinamento físico para o papel, a atriz relembrou seu passado em Israel: “Fui instrutora física no exército, então isso obviamente me serviu como preparação. Mas o exército me ensinou sobretudo a disciplina, e a noção de que precisamos nos importar com o coletivo, e não apenas com nós mesmos”, concluiu.
Mulher-Maravilha 1984 estreia nos cinemas em junho de 2020.
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