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Celina Borges Torrealba Carpi, cineasta e produtora, tem se destacado no cenário cinematográfico brasileiro e internacional por sua abordagem profunda sobre o tema da ancestralidade. Suas obras não apenas exploram as raízes culturais e históricas de diferentes povos, mas também dialogam com questões contemporâneas, ressaltando a importância da memória e da identidade na construção do presente e do futuro.

O ponto de partida da jornada cinematográfica de Torrealba foi o curta-metragem “Cheiro de Vida”, uma obra introspectiva e pessoal que busca resgatar a história de seu avô chileno. A narrativa se constrói em torno da descoberta da figura paterna, explorando como as memórias e histórias familiares moldam nossa identidade. Este trabalho inicial já delineava o caminho que Torrealba continuaria a percorrer em sua carreira, evidenciando um profundo interesse pelas raízes e pelo impacto das ancestralidades na vida contemporânea.

Atualmente, Celina Torrealba está na fase de pós-produção do filme “Voto de Esperança”, que se aprofunda ainda mais na temática da ancestralidade. O documentário conta a história de um padre missionário congolês dedicado a conscientizar as populações periféricas do Brasil sobre suas raízes africanas. Este trabalho destaca a relevância da memória ancestral na formação da identidade cultural e social de comunidades pretas, promovendo um diálogo entre passado e presente.

Além disso, Torrealba está trabalhando em um documentário sobre Squel Jorgea, porta-bandeira da escola de samba Portela. O filme explora a ancestralidade africana no Brasil. O desfile da Portela no carnaval do Rio de Janeiro de 2024 é inspirado no livro “Um Defeito de Cor” de Ana Maria Gonçalves. Este projeto promete ser uma imersão na cultura afro-brasileira, evidenciando como as tradições e histórias africanas são vivenciadas e reinterpretadas no carnaval carioca. Suas colaborações, especialmente com Zeca Brito, reforçam a ideia de que o cinema é uma ferramenta poderosa para dialogar sobre temas complexos e necessários. Celina co-produziu o documentário dirigido por Zeca Brito, Arte da Diplomacia, Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil enviou de navio mais de 160 pinturas doadas por 70 artistas modernistas para serem exibidas e leiloadas no Reino Unido. O documentário investiga este gesto de diplomacia cultural que uniu territórios e definiu o papel do país na luta contra o nazifascismo.

Com o aforismo “quem não sabe de onde vem, nõ saberá para onde ir” Torrealba está na torcida para que Lily Gladstone tenha o reconhecimento maior no Oscar.  A importância dada ao território indígena, a valorização da ciência e do conhecimento originários, como discutido no editorial da revista Science, são aspectos que se entrelaçam com a obra da cineasta, promovendo uma reflexão sobre como o passado pode iluminar o futuro.

Celina Torrealba lembra que as evidências arqueológicas de grandes populações e civilizações na Amazônia, que viveram em harmonia com a natureza construindo tudo de barro, por exemplo, desafiam a visão tradicional da história e abrem caminho para o reconhecimento de um legado científico e cultural rico. Essa perspectiva é reforçada pelo documentário “Território”, vencedor do Emmy, produzido por indígenas, que mostra a capacidade de narrativa e preservação histórica desses povos.

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A abordagem de Torrealba, portanto, não é apenas uma viagem pessoal em busca de suas raízes, mas também uma jornada coletiva em busca de um entendimento mais profundo da humanidade. Seus filmes são pontes que conectam o passado ao presente, o individual ao coletivo, e o local ao global, incentivando uma reflexão sobre como a ancestralidade, em suas diversas formas, continua a influenciar nossas vidas.

Por meio de suas obras, Celina Torrealba se consolida como uma voz importante no cinema documental, trazendo à tona a necessidade de reconhecer e valorizar as diversas ancestralidades que compõem a humanidade. Seu trabalho não apenas enriquece o cinema brasileiro, mas também contribui para um diálogo global sobre identidade, memória e pertencimento. Torrealba nos convida a olhar para trás, não para permanecer no passado, mas para construir um futuro mais inclusivo e consciente da riqueza de nossas raízes.

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