Nos primeiros filmes da Trilogia do Silenciamento, o diretor Belisário Franca já abordava feridas profundas da identidade nacional: em Menino 23 (2016), expunha racismo institucional, e em Soldados do Araguaia (2017), resgatava a herança perversa da ditadura militar. Agora, em 2020, encerra o projeto com Nazinha Olhai por Nós (2020), estudo sobre a religiosidade no sistema carcerário.
O documentário teve sua estreia mundial no 30º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, na noite de 8 de dezembro. Enquanto jornalistas, convidados e espectadores locais assistiam à produção nas telas do Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, respeitando os protocolos de segurança, o público de demais Estados teve acesso à exibição via Canal Brasil. O longa-metragem integra a mostra competitiva, disputando o troféu Mucuripe junto de filmes do Brasil, Argentina, Chile, Espanha, Venezuela e Cuba.
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Na trama, quatro pessoas encarceradas no Pará esperam pelo indulto para aproveitarem o Círio de Nazaré. Enquanto isso, desenvolvem sua fé dentro da prisão, lamentando o passado e torcendo pelo reencontro próximo com familiares. Franca acompanha dois homens e duas mulheres, presos por motivos muito distintos (de tráfico de drogas a homicídio, incluindo a prisão sem julgamento de uma pessoa inocente). Ele dialoga com seus personagens sem qualquer julgamento moral.
Para quem espera forte conteúdo emocional devido às histórias de justiça e arrependimento, o resultado impressiona pelo tom comedido. O cineasta privilegia a solidão destas pessoas, deixando em segundo plano o furor da luta contra a superlotação e demais falhas do sistema prisional brasileiro. Este constitui o filme mais belo da trilogia em termos técnicos, e também o mais ponderado politicamente. Leia a nossa crítica.
Enquanto isso, na Mostra Olhar do Ceará, foi exibido pela primeira vez o documentário Swingueira (2020), retrato das competições de dança no interior do Estado. Esta foi a primeira sessão, desde o início do evento, em que alguns espectadores ignoraram os protocolos de segurança, sentaram-se juntos assim que as luzes se apagaram e retiraram as máscaras protetivas, sem questionamento por parte da equipe do cinema.
Nas telas, o clima era de festa: o filme ressalta a luta de jovens para praticarem a arte, apesar das origens difíceis e da falta de incentivo. O quarteto de diretores composto por Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula favorece as cores e o ritmo ágil, embora fragmentem tanto as cenas de dança que dificultam a apreciação do talento dos protagonistas. Leia a nossa crítica.
Na noite de 9 de dezembro, a mostra competitiva segue com a exibição do drama chileno Branco no Branco (2019), de Théo Court. O filme situado na virada do século XX foi premiado nos festivais de Veneza, Havana e Toulouse.
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